Coprodução entre diversos países latino-americanos, “A Filha do Pescador” está em cartaz no Una Belas Artes
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Sem delongas: “A Filha do Pescador” – coprodução entre Brasil, República Dominicana, Colômbia e Porto Rico, com direção do colombiano Edgar De Luque Jácome – é um filme que encanta ao lançar foco sobre o reencontro entre um homem rude, quase primitivo, e a filha, uma mulher trans. Samuel, o pescador do título, é apresentado ao espectador como um homem que vive isolado, em uma casa mal estruturada, suja e bagunçada à beira-mar, no Caribe colombiano. Eventualmente, aparecem por ali outros pescadores.
Certo dia, Priscila, filha dele, retorna à casa paterna, inesperadamente. A princípio, não há muitas explicações sobre esta misteriosa volta. Só que, na cabeça de Samuel, ela ainda é Samuelito, o filho que saiu de casa com a mãe, 15 anos atrás. Agora, o pescador tem lidar com o fato que é pai de uma mulher – e, claro, dentro dos códigos morais com os quais foi criado, o repúdio logo se instala. A aversão de Samuel pela filha atinge tal grau que ele a obriga inclusive a cortar os longos cabelos. Não só. Também passa a viver escondida na casa. Certo dia, Samuel remexe a mala de Priscila e, entre as roupas femininas ali reunidas, encontra um vestido sujo de sangue.
Resistência
Com o passar dos dias, a presença de Priscila é descoberta por acaso pelo mais jovem entre o grupo de pescadores (lembrando que o restante do elenco é todo masculino), e, na sequência, pelos demais – inclusive Grimaldo (Henry Antonio Barrios), uma espécie de líder local, inflexível, turrão e ameaçador. O conhecimento da situação por parte dos colegas só piora o ânimo do pescador Samuel, que se sente constrangido, envergonhado, em relação à filha.
No entanto, quando ele sofre um acidente durante um mergulho (por usar a pesca com arpão), acaba tendo que, a contragosto, ser cuidado por Priscila. Ao mesmo tempo, ela passa a organizar a bagunça vigente e até mesmo a enfeitar a casa. No entanto, nem assim a resistência dele em aceitar filha se arrefece. Em meio às conversas, muitos ressentimentos vêm à tona, mas, tal qual, muitos momentos comoventes.
Performances
Se a história é tocante, a performance dos atores não deixa por menos. Nathalia Rincón acerta no tom que imprime à sofrida Priscila, principalmente pelo olhar, enquanto Roamir Pineda, na caracterização do pescador, um homem que vive praticamente em estado selvagem, a léguas da civilização. Mas é importante também ressaltar outros quesitos, como a fotografia, belíssima, com frames muito bem enquadrados, quase como quadros. Além disso, fica evidente a preocupação de uma composição cromática, que envolve inclusive as peças rudimentares usadas pelos pescadores.
Em muitos momentos, há enquadramentos por frestas de janelas e portas que resultam bem interessantes.
Trajetória
“A Filha do Pescador” teve a estreia mundial no ano passado, no Tallinn Black Nights Film Festival, na Estônia. De acordo com o material enviado à imprensa, o filme arrebanhou o Prêmio La Silla, da Associação Dominicana de Profissionais da Indústria do Cinema. O mesmo material traz uma frase do diretor , no qual ele afirma ver “A Filha do Pescador” como uma história universal sobre aqueles que têm que enfrentar seus demônios. “E, assim, resolver suas diferenças mais profundas num contexto simples e poderoso, como é o mar, que, com sua corrente, os leva até a margem de uma segunda chance”.
Confira, a seguir, o trailer
Serviço
“A Filha do Pescador”
Em cartaz no Una Cine Belas Artes – às 17h40.
O filme é uma coprodução internacional que une as brasileiras Kromaki e Bubbles Project às produtoras Septima Films (Colômbia), Belle Films (Porto Rico) e Larimar Films (República Dominicana). A distribuição é da brasileira Bretz Filmes.