Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

“Inverno em Paris” e a excelência de um jovem ator

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Em cartaz na cidade, “Inverno em Paris” destaca-se pela presença, no elenco, de Juliette Binoche e de Paul Kircher, filho da atriz Irène Jacob 

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Talvez a humanidade de fato nunca se conscientize, mas a mais pura verdade é que a vida de qualquer pessoa pode mudar em questão de segundos. Em “Inverno em Paris” (“Le Lycéen”), longa do francês Christophe Honoré, é o que acontece com o adolescente Lucas (Paul Kircher). Certo dia, ele, que está no último ano de internato, no interior da França, é chamado na sala do colégio para, de súbito, ser informado que precisa voltar à casa, na qual vive com a mãe, Isabelle, interpretada por Juliette Binoche, e o pai, Claude Ronis (vivido pelo próprio diretor). Antes mesmo de encontrar a mãe, Lucas percebe que algo grave está se passando, dada a quantidade de pessoas por lá. E não tarda a ser informado da morte do genitor, após um grave acidente na estrada (estranhamente, em um trecho reto).

Paul Kircher em cena de "Inverno em Paris" (Jean-Louis Fernandez/Pandora/Divulgação)

A dor atravessa Lucas de forma lancinante, brutal, assim como a mãe e o irmão, Quentin (Vincent Lacoste, de “As Ilusões Perdidas” e “Lolo”, para citar filmes do ator que fizeram sucesso no Brasil). Aliás, diante o anúncio da morte do pai, o primogênito chega à casa da família vindo de Paris, onde está radicado. Na capital francesa, Quentin busca seu lugar ao sol como artista. A partir daquele momento em que a tragédia os reuniu, a única certeza é a de que nada será como antes.

Filiação distinta

Antes de seguir em frente, é preciso localizar: atualmente com 22 anos, Paul Kircher – cujo personagem, no filme, tem 17 – é filho de ninguém menos que Irène Jacob e do também ator Jérôme Kircher (de quem, diga-se, é a cara). Irène Jacob, vale dizer, foi uma das musas de Krzysztof Kieslowski juntamente… a Juliette Binoche!

Para quem viveu esta época, ou seja, a do lançamento da Trilogia das Cores (alusivas às cores da bandeira francesa) do já falecido diretor polonês, é um tanto quanto bizarro ver que, passados 30 anos, a vida de duas das três musas (a outra, Julie Delpy) de Kieslowski volta a se cruzar na seara do cinema por meio do filho de uma delas. Juliette Binoche fez “A Liberdade é Azul”, enquanto Irène Jacob, “A Fraternidade é Vermelha”, e Delpy, “A Igualdade é Branca”. Com Kieslowski, Jacob também atuou em “A Dupla Vida de Véronique” (1991).

Em seu perfil no Instagram, aliás, Irène Jacob volta e meia demonstra o orgulho que sente do rebento. Super justificável.

Baliza

Voltando ao filme, logo após o advento que serve como uma baliza na vida dos três – Lucas, Quentin e a mãe -, o adolescente vai para Paris, incentivado pelo irmão mais velho, preocupado com o estado do caçula, mergulhado na abissal e devastadora dor do luto. Ainda que reticente em deixar a mãe, Lucas assente e, na capital francesa, vai de fato tendo a atenção capturada pela nova rotina, ainda que algumas novidades lhe soem estranhas. Caso do pedido do irmão mais velho para que, certo dia, saia ainda pela manhã do apartamento e só retorne depois das 18 horas.

Neste novo mundo que se descortina, Lucas se flagra cada vez mais fascinado pelo companheiro de apartamento de Quentin, Lilio (Erwan Kepoa Falé). Este, por sua vez, mesmo se afeiçoando ao garoto, faz questão de manter uma distância prudente diante das tentativas de Lucas em cruzar a linha tênue que separa a amizade do despertar de um relacionamento se não amoroso, de viés íntimo. Lilio lembra a Lucas o fato de, além de ser o melhor amigo de Quentin (que certamente não veria com bons olhos um relacionamento entre ele e o irmão mais novo), bem como pontua a diferença de idade entre os dois.

Novas experiências

Ao mesmo tempo, os bons momentos divididos com Lilio – que incluem um jantar com a mãe dele – vão preenchendo a vida de Lucas. Tal qual, a curiosidade o leva a encontros sexuais com desconhecidos. A estação do ano, à qual o título em português faz referência, pontua a gelidez da morte e a dor do luto vivenciados pelos que ficam, principalmente quando pairam dúvidas sobre a origem do acidente. Portanto, o tempo gris, coadunado ao estado de espírito.

Posto que não dá para fazer o relógio andar para trás, os três principais atingidos pela tragédia tentam encontrar um modo de atravessar esse momento de tantas mudanças (Isabelle e Lucas se questionam frequentemente sobre o futuro) é o mais novo deles que se vê diante de situações novas que vão modular sua passagem para a vida adulta. E Paul Kirsher corresponde a todas as expectativas nele depositadas, mostrando um Lucas impulsivo, que se atira à vida, mas, ao mesmo tempo, extremamente frágil, alquebrado.

Na tela, tudo isso é pontuado por belas tomadas e ao som de músicas do passado que cabem como uma luva a momentos mostrados no filme. Caso de “Irrésistiblement”, de Sylvie Vartan.  Lucas também aparece cantando uma antiga canção italiana, “Donna Donna Mia”, de Salvatore “Toto” Cutugno. Já a trilha original é assinada por Yoshihiro Hanno, compositor japonês radicado na França.

“Marcello Mio”

Em tempo: o mais recente filme do diretor Christophe Honoré é “Marcello Mio”, com Chiara Mastroianni e Catherine Deneuve à frente do elenco, que inclui, ainda, Fabrice Luchini e Benjamin Biolay. O longa foi lançado oficialmente no Festival Internacional de Cannes 2024, e, no Brasil, será exibido na Mostra de São Paulo, que, neste ano, homenageia justamente os 100 anos de nascimento de Marcello Mastroianni. Em “Marcello Mio”, Chiara (que, você sabe, é filha de Mastroianni, do relacionamento com Catherine Deneuve) passa a se caracterizar como o pai, este grande ícone do cinema italiano falecido em 1996.

Confira o trailler

Serviço

“Inverno em Paris”

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