Quando se fala em palhaço o que você imagina? Uma pessoa com o rosto pintado, nariz vermelho… Entretanto, em uma rápida pesquisa pela internet, é possível identificar tipos e definições diferentes do que é e como atua o palhaço. Só para exemplificar, certamente você já ouviu nomes como Bozo, Carequinha, Tiririca, Patati Patatá e Carlitos, feito por Charles Chaplin. São exemplos clássicos de que os palhaços podem ser versáteis e diferentes.
Quem defende essa ideia é Rodrigo Robleño, professor, ator e palhaço, ou melhor, Palhaço Viralata. Robleño e seu palhaço foram homenageados na sétima edição do Encontro Internacional e voltaram este ano para o 11º Circovolante – Encontro Internacional de Palhaços.
Em frente à Casa de Cultura – Academia Marianense de Letras, Ciências e Artes, que serviu, durante quatro dias, de backstage, sala de produção, organização e equipe de apoio, Rodrigo Robleño contou sobre a sua perspectiva de palhaço e sobre a sua trajetória. Em meio a diversos comprimentos de artistas, amigos e público que passavam pelo local, ele foi categórico ao afirmar que palhaço existe só um. Já que, na verdade, eles se adaptam de acordo com o local de apresentação e público. Vamos entender então como os palhaços podem ser diferentes?
Augusto e branco
“Vamos supor que esses dois palhaços se apresentam de uma praça até a outra. O branco vai guiando, chama as pessoas de um ponto a outro. Por outro lado, o augusto faz a mesma coisa, mas sem comandar”, explica Rodrigo Robleño. Diferentemente do branco, o augusto avança para um segundo lugar interagindo com o que encontra pelo caminho, uma pessoa conhecida ou qualquer objeto. Ou seja, conversa com pedestres, pega uma florzinha, oferece para alguém e por aí vai. “Essa relação entre os palhaços nós conseguimos enxergar na própria sociedade, sempre tem a figura do opressor – oprimido”, explica Robleño. Isso porque quando o branco atua junto com o augusto ele comanda tanto a peça quanto o personagem que atua junto a ele.
Robleño destaca também o palhaço vagabundo. Para visualizar tomamos com exemplo o personagem feito por Charles Chaplin. Também conhecido com tramp, esse é um tipo de palhaço solitário, geralmente silencioso e marginalizado socialmente. Além desses, há também o palhaço excêntrico, o músico, o do circo tradicional e as mais diversas variações deles. Para entender melhor como são feitas essas “divisões”, Rodrigo Robleño indica o filme Os palhaços, de Federico Fellini. O longa mostra o universo circense e como a presença da figura do palhaço é importante para a construção da história.
Palhaço de palco e palhaço de rua. Qual a diferença?
De acordo com o professor Rodrigo Robleño, as diferenças entre os palhaços são muitas, uma vez que são diversas as pessoas que os fazem. “Se o palhaço é aquele ser que fala das próprias características, das dores e dos hábitos, então eles são incontáveis”, comenta. Dessa forma, o palhaço que vai ao hospital, que faz campanhas em empresas, que se apresenta na rua ou no palco é o mesmo. O que muda são as circunstâncias da apresentação e o público. O mesmo artista vai falar de formas diferentes para públicos distintos.
Uma segunda dica para entender as divisões e definições é o livro Palhaços: multiplicidade, performance e hibridismo, de Lili Castro. A obra foi lançada no 11º Circovolante – Encontro Internacional de Palhaços e apresenta como o personagem se manifesta em diferentes civilizações e épocas. Destaca também as características, a multiplicidade performática, figurativa e o hibridismo. Para que isso fosse feito a autora analisou a atuação de sete palhaços atuais e de origens diferentes. São eles brasileiros, estrangeiros, do teatro e do circo, populares e de rituais (indígenas, por exemplo). “Eu reuní o dados em entrevistas, analisando espetáculos, oficinas, bibliografias. Tudo isso durante três anos de trabalho”, explica Lili Castro.
Trajetória de Rodrigo Robleño até o Palhaço Viralata
Cursou teatro, foi morar com a avó na Espanha passando chapéu, trabalhou na televisão, fez parte do Cirque du Soleil durante quatro anos fazendo o espetáculo Varekai. No período, Rodrigo estreou na Austrália, passou pela Nova Zelândia e Europa. “O palhaço, para mim, é a busca pessoal, que você procura do nariz para dentro quem você vai usar do nariz para fora. Pesquisamos na gente as características que podem funcionar aliadas às técnicas e ao público”, comenta Robleño. Viralata é uma soma de tudo isso.
O nome do palhaço de Rodrigo remete justamente aos cachorros que vivem na rua. Ambos são seres que gostam de ser queridos e, ao mesmo tempo, vivem sozinhos. “Essa também é uma característica”, revela Robleño. Outro aspecto do palhaço Viralata é quebrar expectativas ou, como o ator mesmo diz, “fazer cosquinha no cérebro do público”. Exemplo disso é a tradicional mala que muitos usam. No lugar da mala ele usa um case de violão. Quem nunca assistiu à uma apresentação do Viralata se intriga ao ver malabares e outros objetos saindo de onde deveria sair um instrumento musical.
“Usar esse case é uma denúncia para mim mesmo do meu ridículo pessoal, porque eu tentei aprender violão quando era mais jovem, mas nunca conseguir por ser canhoto. Também tentei baixo, mas nunca deu certo”, completa Rodrigo. Sendo assim, ele alia uma vontade que tinha quando jovem ao seu ofício atual. Em suma, isso mostra como os palhaços são versáteis, são vários em um só.