Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Cine Humberto Mauro lembra os 120 anos de nascimento de Yasujiro Ozu

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 A mostra “A rotina tem seu encanto: 120 anos de Ozuconta com 29 filmes que cobrem mais de 30 anos da prolífica carreira do diretor

Há 120 anos, em um 12 de dezembro, nascia Yasujiro Ozu. O realizador viveu por 60 anos, e faleceu no mesmo dia em que havia chegado ao mundo. Seis décadas após a morte de Ozu, a Fundação Clóvis Salgado apresenta uma homenagem ao grande mestre japonês. Assim, a partir desta terça-feira, dia 12 de dezembro, o Cine Humberto Mauro dá início à retrospectiva “A Rotina tem seu Encanto: 120 anos de Ozu. A iniciativa traz 29 filmes – 12 dos quais também estarão disponíveis na plataforma cineHumbertoMauroMAIS. Juntos, eles cobrem mais de 30 anos da carreira de Ozu. A mostra prossegue até o dia 29/12, uma sexta-feira.

A mostra do Cine Humberto Mauro agrega obras em diversos formatos, incluindo exemplares em película 16 mm. A programação também contempla trabalhos de outros cineastas que estabeleceram algum tipo de diálogo com a obra de Ozu. Caso do iraniano Abbas Kiarostami, por exemplo. Tal qual, o estadunidense Leo McCarey e o alemão Wim Wenders. E, ainda, a paraguaia Paz Encina e, em especial, o mineiro André Novais Oliveira. A entrada no Cine Humberto Mauro é gratuita, com retirada de ingressos a partir de 1 hora antes das sessões, na bilheteria do cinema.

"Dia de Outono", filme dirigido por Yasujirô Ozu em 1960, traz, no elenco, Setsuko Hara e Yoko Tsukasa (FCS/Divulgação)
"Dia de Outono", filme dirigido por Yasujirô Ozu em 1960, traz, no elenco, Setsuko Hara e Yoko Tsukasa (FCS/Divulgação)

Debates, palestras e sessões comentadas

Como complemento aos filmes, a mostra conta com sessões comentadas, debates e palestras. Dentre os convidados, estão os professores e pesquisadores Denilson Lopes (UFRJ) e Mariana Souto (UnB). Do mesmo modo, o cineasta e jornalista Gabriel Carneiro (Unicamp), o pesquisador Luiz Fernando Coutinho (UFMG) e o curador, diretor e pesquisador Ewerton Belico. Tal qual, de forma on-line, a professora e cineasta paraguaia Paz Encina. A retrospectiva ainda será marcada pelo lançamento de um caderno de crítica desenvolvido especialmente para esta ocasião. A ideia é proporcionar uma experiência enriquecedora para o público a partir do encontro com as obras singulares de Ozu.

Neste sentido, com filmes como “Dias de Juventude” (1929), “Filho Único” (1936), “Pai e Filha” (1949), “Ervas Flutuantes” (1959) e “A Rotina tem seu Encanto” (1962). Do mesmo modo, aquela que é considerada a obra-prima de Ozu, “Era uma Vez em Tóquio” (1953), dentre outros.

Artesão cinematográfico

Conforme o próprio material de divulgação da mostra lembra, o estilo de Yasujiro Ozu pode ser reconhecido primeiramente pela simplicidade narrativa e visual. Tal qual, “pela complexidade que se forma na sutileza poética com a qual o cineasta tratou de uma série de questões profundamente humanas”. Neste quesito, é possível elencar a solidão, as relações familiares, o envelhecimento, as transformações sociais e os embates entre tradição e modernidade. “Todas temáticas universais, mas que giram em torno de um referencial temático claro: a (re)formação da identidade cultural do povo japonês”.

Cena do filme "Filho Único", de Ozu, que será exibido na Mostra (frame)
Cena do filme “Filho Único”, de Ozu, que será exibido na Mostra (frame)

Rodrigo Azevedo, produtor do Cine Humberto e colaborador na curadoria da mostra, destaca: “Entre o particular e o geral, o rotineiro e o encantador, a discrição estética e a sensibilidade humana, Ozu trilhou um caminho muito próprio. E foi seguido”. Desse modo, acrescenta, o legado dele inspirou artistas por todo o mundo. 

Ecos

Além de um conjunto representativo de longas-metragens realizados pelo diretor, a retrospectiva “A rotina tem seu encanto: 120 anos de Ozu” vai além. Desse modo, busca ecos do trabalho do cineasta. Da francesa Claire Denis ao brasileiro Ozualdo Candeias, do português Pedro Costa ao sul-coreano Hong Sang-soo. Assim, a influência de Ozu será compreendida não apenas por comparação, mas pela riqueza de seus desdobramentos. O destaque fica com André Novais Oliveira, cineasta da produtora Filmes de Plástico. Conforme os idealizadores da mostra, a conexão Novais-Ozu revela não só uma afinidade poética – em especial no olhar sobre o cotidiano e as relações diárias –, mas também entre culturas, povos e representações.

Desse modo, de Novais, serão exibidos os longas-metragens “Ela Volta na Quinta” (2014), “Temporada” (2018) e o recém-lançado “O Dia Que Te Conheci” (2023).

O Natal

Ainda de acordo com o material, a coincidência com o período natalino também tem razão de ser, já que o trabalho de Ozu é distinto pela abordagem contemplativa e sensível da vida comum. Vitor Miranda, gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e curador da mostra, pontua: “Dezembro encerra o ano e nos direciona a encarar os ciclos que se findam e se iniciam”. Assim, em um momento do ano marcado pela celebração familiar e reflexão, os filmes de Ozu, prossegue ele, proporcionam uma oportunidade para os espectadores se voltarem a temas universais.

"Flor do Equinócio", de 1958,. foi realizado e escrito por Yasujiro Ozu, com base no romance de Ton Satom (FCS/Divulgação)
“Flor do Equinócio”, de 1958,. foi realizado e escrito por Yasujiro Ozu, com base no romance de Ton Satom (FCS/Divulgação)

Desse modo, “encontrando beleza no dia a dia e pensando na importância dos laços familiares, valores atemporais que ressoam de maneira especial durante a época natalina”, ressalta Miranda, sobre a produção de Ozu.

Curadoria

Com sessões dos programas Cinema e Psicanálise e História Permanente do Cinema, a curadoria passa por diversas fases da carreira de Yasujiro Ozu. Ou seja, entram em cena tanto os “filmes silenciosos” quanto falados. Da mesma forma, os filmes em preto e branco, bem como os coloridos. Tal qual, de fragmentos de obras perdidas ao mais antigo filme do diretor japonês, felizmente, ainda preservado. E, ainda, os remakes que Ozu fez dos próprios filmes. De antemão, tem a última obra. Ou seja, a mostra cobre um vasto período histórico, com filmes feitos antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Lembrando que o conflito marcou profundamente o Japão e o cinema de Ozu.

Vitor Almeida conta que o projeto é, sobretudo, uma maneira de homenagear o cineasta. “O patrimônio artístico dele permanece vivo e pulsante, parecendo inédito a cada revisita e imortal sempre que é evocado”. Assim, ele entende que a data redonda é uma boa oportunidade para rememorá-lo uma vez mais. “Sobretudo, para iluminar a tela de um cinema com os filmes e a influência dele. Assim, com esta mostra, a Fundação Clóvis Salgado preserva o compromisso com a difusão da sétima arte. E, desde já, oferece ao público a chance de fazer um mergulho profundo na herança artística de Yasujiro Ozu”, celebra.

Serviço

A Rotina Tem Seu Encanto: 120 Anos de Ozu

Data: 12/12 (terça-feira) a 29/12 (sexta-feira)

Horários: Variáveis

Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537, Centro)

Classificações Indicativas: variáveis

A entrada no Cine Humberto Mauro é gratuita, com retirada de ingressos a partir de 1 hora antes das sessões, na bilheteria do cinema.

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