Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Orquestra Ouro Preto transporta “Hilda Furacão” para o formato ópera

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O Grande Teatro Cemig Palácio das Artes recebe duas récitas de “Hilda Furacão, a Ópera”, com a Orquestra Ouro Preto

Um dos maiores sucessos da trajetória do escritor mineiro Roberto Drummond (1933 – 2002), o livro “Hilda Furacão” já teve sua narrativa transposta para o teatro e para a televisão. Neste último caso, com Ana Paulo Arósio no papel título, a investida global – em formato minissérie – foi um sucesso retumbante. Agora, a história da emblemática personagem vira ópera, sob a batuta da Orquestra Ouro Preto. Sob a regência do Maestro Rodrigo Toffolo, “Hilda Furacão, a Ópera” será apresentada nos dias 21 e 22 de novembro, às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. Na sequência, a produção segue para o Rio de Janeiro, para duas récitas na Cidade das Artes, nos dias 24 e 25.

A encenação tem música original de Tim Rescala e direção de cena de Julliano Mendes. Dividido em dois atos, o espetáculo, de acordo com seu material de apresentação, procura explorar os dilemas éticos, sociais e religiosos de uma época. A mezzo-soprano Carla Rizzi interpreta a protagonista, enquanto Jabez Lima, Frei Malthus. Marília Vargas é Loló Ventura, sendo que Marcelo Coutinho encarna Nelson Sarmento; bem como Johnny França, o personagem Aramel. Fernando Portari, por seu turno, representa o narrador e autor Roberto Drummond.

Cena de "Hilda Furacão, a Ópera", encenada pela Orquestra Ouro Preto (Rapha Garcia/Divulgação)

A jornalista Carol Braga, editora do Culturadoria, conversou com o maestro Rodrigo Toffolo sobre a empreitada. Confira trechos do bate-papo, por tópicos.

Criação de uma ópera brasileira

Rodrigo Toffolo conta que, lá atrás, quando começaram a explorar a história da ópera brasileira, logo veio a constatação de lacunas que o intrigaram. “As grandes óperas brasileiras, como as de Carlos Gomes, foram compostas em estilos musicais de outros países e cantadas em italiano. O objetivo da Orquestra Ouro Preto, no entanto, era criar uma ópera genuinamente brasileira. Ou seja, cantada em português, com personagens brasileiros e enredos que dialoguem com a nossa cultura”. Assim, a primeira ópera foi “O Auto da Compadecida”, que, lembra ele, teve ótima recepção.

Agora, a escolha recaiu sobre a obra “Hilda Furacão”, de Roberto Drummond. “Uma escolha natural, por sua força narrativa e apelo popular. A história reúne todos os elementos de uma boa ópera: intrigas, conflitos sociais e políticos, amor, escolhas e suas consequências. Hilda é uma figura poderosa, quase mítica, que simboliza uma mulher que faz o que quer, mesmo enfrentando as pressões de uma sociedade opressiva. É uma narrativa que merece ser cantada na ópera, ao lado de grandes figuras femininas como Carmen e Norma”, afiança o maestro da Orquestra Ouro Preto.

Não bastasse, Rodrigo Toffolo reflete que criar óperas brasileiras é fundamental para formar um público que se identifique com a música de concerto. “Quando o público ouve uma história que dialoga com suas raízes culturais e sai do teatro cantando a música, sabemos que estamos cumprindo nosso propósito. Esse é o poder da música brasileira: ela é acessível, envolvente e, acima de tudo, nossa”.

Adaptação

Escolhida a obra sobre a qual a montagem iria se estruturar, o passo seguinte foi garantir os direitos autorais da obra de Roberto Drummond. Em seguida, a Orquestra Ouro Preto começou a trabalhar com Tim Rescala, compositor e libretista. “Um dos grandes nomes da música brasileira contemporânea. Ele trouxe sua experiência no teatro e na música para criar um libreto poderoso e acessível para ‘Hilda'”, diz Toffolo.

O maestro acrescenta que Tim Rescala incorporou ritmos como a bossa nova, “que aparece em uma cena emocionante entre Hilda e Frei Malthus, quando eles se declaram”. Além disso, a trilha de ‘Hilda Furacão, a Ópera’ traz referências à música brasileira dos anos 1960, período em que a história se passa. “É uma celebração da nossa cultura musical, com elementos que dialogam diretamente com o público”.

Escolha dos intérpretes e a equipe criativa

O regente Rodrigo Toffolo conta que a escolha dos intérpretes foi norteada de modo a compor um elenco que refletisse a excelência da música operística nacional. “Assim, Carla Rizzi interpreta Hilda com sua voz de contralto, algo raro e especial, que dá profundidade à personagem. Além dela, temos Fernando Portari, Marília Vargas, Marcelo Coutinho, e muitos outros talentos”. O titular da Orquestra Ouro Preto também destaca o trabalho do diretor de cena Juliano Mendes, bem como da diretora de arte Luiz Abreu e, tal qual, da figurinista Paula Lascou, entre outros. “Cada detalhe foi pensado para criar uma produção que representasse a grandiosidade e a brasilidade de ‘Hilda Furacão'”.

Desafios

Embora tenha sido uma diretriz desde sempre, cantar em português, reconhece Toffolo, é sempre um desafio, devido às características da nossa língua. “Caso da predominância de palavras paroxítonas, que exigem ajustes na composição. Além disso, o público não está habituado a ouvir o português cantado de forma impostada, o que dificulta a compreensão”. Para superar isso, a montagem de “Hilda Furacão, A Ópera” traz legendas durante as apresentações. “Do mesmo modo, acreditamos que, com o tempo, obras brasileiras formarão novas gerações de ouvintes que se acostumarão a apreciar a nossa língua no universo operístico”, vaticina.

Minas Gerais

Além de frisar ser a casa da Orquestra Ouro Preto, Rodrigo Toffolo frisa que Minas Gerais é um elemento essencial na narrativa de “Hilda Furacão, a Ópera”. “A obra transborda mineiridade em seus cenários, personagens e contextos, como a ambientação em Belo Horizonte e a presença de figuras como Maria Tomba-Homem e Cintura Fina. Minas está presente em cada nota e cada cena, dando um toque único à produção”.

Serviço

Orquestra Ouro Preto: “Hilda Furacão, a Ópera” em Belo Horizonte

Quando. Dias 21 e 22 de novembro de 2024, às 20 horas

Onde. Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1537, centro. BH)

Quanto. No site e na bilheteria do teatro

Informações: www.orquestraouropreto.com.br

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