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Prêmio Oceanos divulga o nome dos vencedores da edição 2023

Na foto, o escritor cabo-verdiano Joaquim Arena, autor de "Siríaco e Mister Charles", sagrado no Oceanos (foto: acervo pessoal do autor/Itaú Cultural/Divulgação)

Na foto, o escritor cabo-verdiano Joaquim Arena, autor de "Siríaco e Mister Charles", sagrado no Oceanos (foto: acervo pessoal do autor/Itaú Cultural/Divulgação)

O cabo-verdiano Joaquim Arena venceu a categoria Prosa do Oceanos, enquanto Prisca Agustoni foi o nome votado na categoria Poesia

O livro de poesias “O Gosto Amargo dos Metais” e o romance “Siríaco e Mister Charles” venceram o Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa. O anúncio foi feito na noite da quinta-feira, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo. No caso do romance de Joaquim Arena, cabo-verdiano, pelo embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos. Em seguida, houve uma conversa online com o autor. Já o superintendente do Itaú Cultural, Jader Rosa, anunciou “O Gosto Amargo dos Metais”, da suíça naturalizada brasileira Prisca Agustoni. A obra foi editada pela 7 Letras. Na sequência, ele chamou a poeta ao palco e lhe deu a palavra.

Mariana e Brumadinho

“Meu livro trata do eco crime de Mariana e Brumadinho. Senti necessidade de escrever, porque a ideia de um rio que morreu nunca tinha atravessado a minha imaginação. Diante do impacto da notícia e das imagens que a seguiram, dias e semanas após a tragédia, senti um profundo silenciamento interno”, disse ela. A vencedora do Oceanos na categoria Poesia ajuntou: “Achei que, através da poesia, poderia tentar trazer uma palavra que pudesse dar uma luz. Desse modo, como se fosse um processo de regeneração da palavra. Daquilo que nos é mais caro e mais frágil, que é a nossa percepção do mundo. Acho que a poesia foi o caminho que encontrei para tentar recuperar uma voz atordoada e silenciada após o impacto e de tantas mortes”, completou. (abaixo, foto dos autores, enviadas pela assessoria do Itaú Cultural)

Joaquim Arena

O nome sagrado no Oceanos na categoria Prosa, por seu turno, declarou: “Eu nasci em Cabo Verde e minha primeira língua, até os cinco ou seis anos, foi o crioulo. Depois imigramos para Portugal. E, lá nos tornamos completamente portugueses ‘fora de portas’. Ou seja, éramos caboverdianos dentro de casa. Assim, comíamos, bebíamos e cantávamos e riamos como caboverdianos, mas, fora, éramos portugueses”. Desse modo, lembrou Arena, a mãe falava em português com os filhos, só de vez em quando falava em crioulo. “Penso que o Brasil é o Brasil, e, tal qual, Cabo Verde é Cabo Verde, por causa dessa troca de experiências. Desse movimento de povos para sul, norte, leste, oeste. Isto faz parte também da literatura”, disse Arena.

Do mesmo modo, ele lembrou que a literatura é feita da contação de histórias. “Que são momentos vividos por pessoas que se deslocam ao longo da nossa história e da história do Atlântico”. Assim, prosseguiu, os povos foram misturando-se e viajando. “E é a partir daí que vêm todas essas experiências, trocas e essa miscigenação que somos nós caboverdianos, os brasileiros e até, também, os portugueses, que tiveram uma população de pessoas levadas de África para Portugal e chegaram a constituir 10% da população de Lisboa”, pontuou. Portanto, lembrou Arena, o sangue africano está entre nós. “Logo, isso reflete esse movimento e esse encontro de culturas e povos. Homens e mulheres que foram se cruzando ao longo do século”, concluiu.

A cerimônia

A cerimônia de entrega do Oceanos foi conduzida pela atriz Fernanda D’Umbra e teve performance da slammer Luz Ribeiro. Do mesmo modo, apresentação do escritor Santiago Nazarian. Eles foram os jurados desta edição do Prêmio Oceanos. Selma Caetano, diretora da Oceanos Cultura, responsável pela gestão da premiação, abriu a cerimônia. Estiveram presentes, ainda, o Cônsul-Geral de Portugal em São Paulo, António Pedro Rodrigues da Silva e a Diretora do Instituto Camões no Brasil, Alexandra Pinho. Tal qual, de jurados da premiação e dos poetas brasileiros finalistas Claudia Roquette-Pinto, Guilherme Gontijo Flores e Prisca Agustoni.

“O Prêmio Oceanos é um trabalho coletivo constante de promoção da língua portuguesa. Assim, existe para colocar os leitores diante da produção literária da geração contemporânea de escritores do idioma – geração esta que é muito bem representada pelos dez finalistas” diz Selma. “Títulos que, sem exceção, nos arrancam da imobilidade ao reconhecer e denunciar traumas passados e recentes, e apontar novas perspectivas”, completou.

A novidade da edição

“A cada edição percebemos um amadurecimento do Oceanos, ainda mais próximo do que pensamos desde o início. Desse modo, promover um real e efetivo intercâmbio entre editores e autores dos países de língua portuguesa. O resultado em 2023 fortalece este propósito”, diz Jader Rosa, superintendente do Itaú Cultural. “A novidade desta edição – dividir as categorias entre prosa e poesia, com dois júris diferentes para avaliar os inscritos – é mais um passo nessa direção.”

Júri

Para chegar ao resultado de prosa no Oceanos, um júri composto pelos brasileiros André Sant’Anna, Eliane Robert Moraes, José Castello, Schneider Carpeggiani, pelo moçambicano Nataniel Ngomane e pela portuguesa Clara Rowland leu os cinco romances finalistas. O júri para chegar à vencedora de poesia foi formado pelos brasileiros Célia Pedrosa, Maria Esther Maciel, Tatiana Pequeno e pelos portugueses Carlos Mendes de Sousa e Golgona Anghel, que também leram as obras dos cinco finalistas de poesia. Ao todo, participaram do processo de avaliação 159 jurados de quatro diferentes países.

Além do livro vencedor, os finalistas de poesia foram Alma Corsária, de Cláudia Roquette-Pinto (34), Diário da encruza, de Ricardo Aleixo (Segundo selo), Entre costas duplicadas desce um rio, de Guilherme Gontijo Flores (Ars et Vita), O gosto amargo dos metais, de Prisca Agustoni (7Letras) e Paraíso, de Pedro Eiras (Assírio & Alvim).

Diálogo com a tradição

“Os livros de poesia finalistas desta edição do Oceanos trazem uma característica comum à produção contemporânea”, diz Manuel da Costa Pinto. O curador do Oceanos no Brasil explicou: “A de dialogar com a tradição e, ao mesmo tempo, lançar cada vez mais um olhar crítico para questões sociais e políticas, em uma confluência de rigor estético e ético”.

Prosa

Os finalistas de prosa foram apresentados pelo escritor Santiago Nazarian. Foram eles: “A história de Roma”, de Joana Bértholo (Caminho), “A última lua de homem grande”, de Mário Lúcio Sousa (Dom Quixote), Misericórdia, de Lídia Jorge (Dom Quixote) e “Naufrágio”, de João Tordo (Cia das Letras Portugal). Isabel Lucas, curadora do Oceanos em Portugal, lembrou que, entre eles, “é de ressaltar a diversidade temática e de estilo”. “Destes temas tidos como urgentes na atualidade”. Assim, o lugar da mulher no mundo, o envelhecimento ou ou o abuso, a assuntos mais universais.

Desse modo, se inserem, neste bojo, “o lugar da memória, a herança coletiva o confronto entre visões diferentes do mundo ou a ideia de viagem enquanto constitutiva da ideia de literatura”, observa Isabel. “Do experimentalismo de alguns livros, ao formato mais canónico de outros, sobressai ainda a procura de novas formas de linguagem capazes de transpor uma inquietação muito deste tempo”, concluiu a curadora do Oceanos.

“O Gosto Amargo dos Metais”, de Prisca Agustoni

A obra vencedora do Oceanos de Poesia nasce do impacto dos crimes ambientais ocorridos em Minas Gerais, primeiro em Mariana e depois em Brumadinho. Uma avalanche de lama de rejeito de mineração destruiu bairros inteiros, tirou centenas de vidas e tingiu de marrom o Rio Doce. “As imagens terrificantes que circularam me lembraram uma tragédia de proporções épicas. Assim, como se o mundo estivesse vivendo um novo fim – e, paradoxalmente, um estranho recomeço”, diz a autora, no prefácio.

Prisca Agustoni (1975) é poeta, tradutora e professora de literatura na faculdade de Letras na Universidade Federal de Juiz de Fora. Nascida na Suíça e vivendo no Brasil, escreve e se autotraduz em italiano, francês e português. Suas publicações mais recentes são “Un ciel provisoire”, “Casa dos ossos”, “Animal Extremo”, “O mundo mutilado”, “L’ora zero” e “Lingua Sommersa”.

“Síriaco e Mister Charles”, de Joaquim Arena

O livro conta a história de uma amizade ficcional entre dois personagens reais. De um lado, o jovem cientista Charles Darwin. De outro, Siríaco, um desconhecido homem negro, ex-escravizado, que nasceu no Brasil. Ele foi educado em Portugal e, por ter a pele marcada por vitiligo, integrou a chamada “corte exótica” da Rainha Dona Maria I. Essa era composta ainda por indígenas e pessoas com nanismo. No romance, os dois se encontram em Cabo Verde (e aqui tudo já é ficção), lugar em que Siríaco decidira viver. Isso, após ancorar na Ilha de Santiago com a família real durante a fuga de 1807. Lá, Darwin passou 16 dias no início das investigações que resultariam no livro “A Origem das Espécies”.

Joaquim Arena é escritor e formado em Direito, em Lisboa. Nascido na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde, é filho de pai português e mãe cabo-verdiana. Foi assessor do presidente Jorge Carlos Fonseca até 2021. A Verdade de Chindo Luz foi o seu primeiro romance. Depois, publicou “Debaixo da Nossa Pele”, um ensaio-reportagem. Nele, lembrou os antepassados, escravos e trabalhadores livres nos campos de arroz do Vale do Sado.

Novidades da premiação

Pela primeira vez na história do prêmio Oceanos, as inscrições foram divididas entre prosa e poesia. Assim, foram formados dois júris diferentes para avaliar os inscritos de poesia e os de prosa/dramaturgia. Entre 1.188 inscritos de poesia foram selecionados 21 semifinalistas e depois, entre esses, cinco finalistas.

Do mesmo modo, entre 1.466 de prosa, foram selecionados 20 semifinalistas. Assim, depois, entre esses, cinco finalistas. Sendo assim, a novidade da edição 2023 do Oceanos culminou com a divulgação dos dois vencedores. Logo, um de prosa e outro de poesia, que recebem R$ 150 mil cada.

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