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Montagem de “O Sonho de Um Homem Ridículo” chega à Funarte MG

Leo Horta em cena da montagem "O Sonho de um Homem Ridículo", que chega agora a BH (Foto: Camila Campos/Divulgação)

Leo Horta em cena da montagem "O Sonho de um Homem Ridículo", que chega agora a BH (Foto: Camila Campos/Divulgação)

Adaptação do conto “O Sonho de Um Homem Ridículo”, de Dostoiévski, será apresentada de quinta a domingo, em BH

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Para o ator mineiro Leo Horta, integrante da Companhia Lúdica dos Atores, de Belo Horizonte, o universo literário de Fiódor Dostoiévski sempre se apresentou, de modo claro, como um mar de possibilidades e de reflexões. E o conto “O Sonho de um Homem Ridículo” não foge à regra. “Por mais que o texto tenha sido escrito em 1877, muitos assuntos se mostram mais contemporâneos do que nunca. Assim, muitas das questões abordadas podem ser trazidas para o nosso cotidiano do agora”, pontua ele, que, assim, desvela o motivo de o grupo ao qual pertence ter, em parceria com a Pauliceia Companhia de Teatro de São Paulo, escolhido este texto para levar ao palco. Em BH, a montagem será apresentada de 31 de agosto a 3 de setembro, no Galpão 3 da Funarte.

Leo Horta conta que a ideia de montar “O Sonho de um Homem Ridículo” surgiu logo no início da pandemia, nos primeiros momentos do isolamento social. “Todos nós, que ficamos em casa, reclusos, tivemos que encontrar outras maneiras de continuar o trabalho que exercíamos no dia a dia. Assim, o teatro virtual se tornou uma realidade”.

Foi neste período da quarentena que ele e Alexandre Kavanji, diretor da Companhia de Teatro de São Paulo, resolveram que iriam colocar em prática uma ideia cujo embrião, na verdade, localiza-se em 2014. À época, os dois faziam um trabalho conjunto com o saudoso João das Neves, em São Paulo: a encenação de “Os Azeredo mais os Benevides”, de Oduvaldo Vianna Filho. Logo, pensaram em trabalhar juntos. E veio a ideia de montar “O Sonho de um Homem Ridículo”.

O processo

“Inclusive porque era um texto que precisava somente de um ator e uma direção. Então, começamos de modo remoto. Quando a gente aqui, no Brasil, finalmente pode começar novamente a sair, a se encontrar, começaram os ensaios presenciais. Todo esse processo durou 18 meses, do meio de 2021 para o final de 2022. Daí, fizemos uma circulação de ‘O Sonho de um Homem Ridículo’ pelo interior de Minas, no início deste ano, e, agora, vamos estrear em Belo Horizonte”.

Fidelidade

Leo Horta conta que a montagem é fiel ao texto. “‘O Sonho de um Homem Ridículo’ foi montado na íntegra. Claro, algumas adaptações, alguns ajustes foram feitos. Nós tivemos o prazer de trabalhar com a orientação dramatúrgica da Solange Dias, uma multiartista paulista também. Mas é um espetáculo que vem com a obra original”.

Em cena, um personagem mergulhado em reflexões sobre as contínuas frustrações em sua vida – bem como sobre a falta de significado e propósito no mundo que o rodeia – adormece na poltrona, diante de um revólver que foi carregado após ele decidir acabar com a própria vida. De acordo com o material informativo da peça, apesar de se tratar de um assunto delicado, a narrativa incita um processo de reflexão sobre o sentido da vida. Tal qual, sobre a existência ou não do além vida. Do mesmo modo, da força da empatia e do amor como um grande valor universal.

Empatia

O protagonista da montagem destaca principalmente a possibilidade que o texto apresenta de fazer o espectador refletir sobre a necessidade de uma vida mais empática. “Logo, de uma vida movida pelo sentimento de empatia, de contribuição com o próximo. Uma vida movida pelo sentimento e pela praticidade, de cumplicidade no dia a dia, de amor, de carinho. De que existe algo mais para além do que só a nossa vida diária, cotidiana, limitada, enfim”. E, dentro dessas possibilidades, Leo Horta acrescenta que a encenação de “O Sonho de um Homem Ridículo” traz a reflexão sobre a possibilidade de existir um mundo utópico.

O que, por sua vez, provoca uma outra discussão. “No sentido de nos perguntarmos: ‘Será possível que exista um mundo assim, no qual os seres humanos possam viver em paz?’ Em paz com eles mesmos, com o meio ambiente. Em paz com a natureza, com os animais, dentre diversas outras reflexões. E, aí, a gente, claro, sugere que o espectador venha assistir e ser provocado por esses assuntos e por esses temas”, diz Leo Horta.

Ferramenta social

Como citado, foi a partir da montagem de “Os Azeredo mais os Benevides” que Leo Horta e Alexandre Kavanji estabeleceram uma relação de trabalho que se tornou constante. “Uma relação contundente, criativa. E esperamos que, em breve, as duas companhias possam lançar um outro trabalho conjuntamente, porque a gente acredita muito no trabalho do teatro enquanto ferramenta social de combate a diversas situações. E temos como base principal que a ideia que o teatro é uma ferramenta poderosa na construção educacional do cidadão”, situa Leo.

Então, a partir desta constatação, as partes uniram forças para tentar, juntas, celebrar o teatro. Tal qual, levar à cena discussões públicas que as companhias julgam necessárias. “Temas que, hoje, mais do que nunca, a gente precisa debater sobre o nosso dia a dia. E ‘O Sonho de um Homem Ridículo’ é um trabalho que veio muito a calhar, nesse sentido”, analisa Leo. Para ele, a montagem traz uma referência de discussão sobre um dos aspectos principais desse momento, que são as doenças psicossomáticas.

Como assinalado, em cena há um homem que perdeu a esperança de viver. Um homem que perdeu a fé. “Que perdeu a confiança na sociedade, nas pessoas de um modo em geral. Uma pessoa que não vê um futuro proeminente, nem a curto e nem a longo prazo. Então, ele decide acabar com a própria vida”, narra Leo Horta. No entanto, isso não se concretiza. “E, pelo contrário, Dostoiévski apresenta uma possibilidade gigantesca de superação. Talvez seja uma das únicas obras dele que apresenta uma possibilidade de superação dos problemas cotidianos do dia a dia. Maravilhoso”, exalta.

Serviço

O Sonho de Um Homem Ridículo

Onde. Galpão 3 da Funarte MG (Rua Januária, 68, Centro)
Quando. 31 de agosto e 1, 2 e 3 de setembro (quinta a domingo). Quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h.
Entrada: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Classificação: 12 Anos
Ingressos a venda pelo Sympla

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