O Gambito da Rainha, minissérie apresentada no catálogo da Netflix, mostra a trajetória de uma menina órfã que se mostrou um prodígio no xadrez. Assim ao longo dos sete episódios, você vai ver a evolução de Beth Harmon, desde seu primeiro contato com o xadrez, ainda no orfanato, até se tornar um fenômeno global nas competições.
O roteiro está sempre destacando questões como a saúde mental da protagonista, a complexidade e a experiência de Beth em um ambiente altamente masculinizado. E somado a tudo isso, você vai ver o desenvolvimento do estilo de Beth, com figurino assinado pela costume designer Gabriele Binder, e é isso que viemos falar sobre aqui.
A mudança da infância para a adolescência
Durante a infância no orfanato, Beth não precisou se preocupar com roupas ou estilo pessoal. Mas tudo muda quando é adotada e passa a frequentar a escola. É nessa época, que Beth começa a se sentir diferente das outras meninas pelo que veste. Principalmente, por não ter roupas que se adequam as tendências da época.
Dessa forma, quando começa a ganhar prêmios em dinheiro pelas competições de xadrez, a personagem passa a investir em peças que gosta. A cena em que Beth encontra um manequim de vestido xadrez, na loja de departamentos popular nos Estados Unidos dos anos 60, Ben Snyder’s, evidencia isso. “É neste momento que ela está procurando em todos os lugares por algo [e alguém] para se conectar e, na ausência de uma pessoa real, ela se conecta ao vestido do manequim”, disse a figurinista em entrevista para a Vogue.
Ascensão no xadrez e a transição para a vida adulta
A partir de 1963, quando vê o início do sucesso no mundo do xadrez, Beth passa a usar saias rodadas e vestidos, tendências populares nos anos 50 que ainda estavam em alta no início da década de 60. Mas, após a morte da mãe Alma Wheatley, interpretada por Marielle Heller, a enxadrista sofre uma mudança em seu figurino. É a primeira vez que a protagonista usa calças e passa a ter um visual mais sério. Essa transição significa a entrada de Beth na vida adulta. Isso porque usar calças simboliza na série crescer, abandonar a adolescência e assumir o papel de cuidado que a mãe exercia até então.
O desenvolvimento de Beth
A evolução do figurino de Beth acompanha o desenvolvimento da personagem. As roupas se relacionam a aspectos importantes da trama. Ao longo da minissérie, por exemplo, Beth usa frequentemente estampas geométricas que fazem alusão ao tabuleiro de xadrez.
É interessante ver também como as combinações ultra femininas de Beth entram choque com o ambiente masculinizado que frequenta. Inclusive, é possível ver essa contradição na própria personagem: entre seus interesses tradicionalmente masculinos (xadrez) e seus interesses tradicionalmente femininos (moda). Dessa forma, O Gambito da Rainha consegue criar uma narrativa super envolvente para o público feminino atual.
Crises, vícios e vitórias
Na fase final de O Gambito da Rainha, a personagem passa por uma série de crises emocionais envolvendo períodos regados a álcool e drogas. Inclusive, quando Beth perde a partida para seu oponente russo, ela está usando um vestido verde e azul. Coincidentemente, uma peça de roupa com as mesmas cores da pílula tranquilizante à qual foi viciada por toda a sua vida. Assim, a alusão mostra que o único oponente que poderia derrotar a protagonista era o seu próprio vício.
Por fim, nas cenas finais do último episódio, Beth usa uma combinação de peças icônica. Vestida de branco com uma boina da mesma cor, ela simboliza a peça de xadrez da rainha branca. Assim, a cena demarca o fim da complexa e bem sucedida trajetória da enxadrista.