Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

O ‘corpo de baile feminino’ ensejado pela escritora Branca Escobar

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No livro “Agudo”, a autora Branca Escobar dá voz a mulheres cujos nomes batizam capítulos que perpassam uma miríade temática

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Se o livro “Agudo” marca o début da escritora carioca Branca Escobar no mercado editorial, a escrita propriamente dita já é um exercício ao qual ela se lança há um bom tempo. “Para mim, escrever é uma forma de endereçar nossas dores”, diz ela, ao Culturadoria, acrescentando que, apesar do hábito de colocar no papel os pensamentos que lhe acorrem, sempre teve um certo pudor em mostrar os escritos. “A gente começa com muito pudor, vergonha mesmo. Como se fosse um ato não permitido aos meros mortais… “, explana.

A escritora Branca Escobar, que lança o livro "Agudo" (Frederico de Souza/DIvulgação)

Primeiramente, recorda Branca, despontavam frases. Ocorre que uma ia puxando outra, e mais outra… E a gaveta foi ficando cheia. Foi quando a escritora entendeu que precisava ir além. Foi quando a escritora, jornalista e atriz (entre outras facetas e talentos) Bianca Ramoneda entrou em cena. “Ela topou me dar aulas e ler meus textos. E me ensinou muita coisa! Cortava daqui, questionava dali, mostrava referências de leituras… Foi incrível, a troca”.

O real e o inventado

Branca narra que, de tudo que mostrou para a, digamos assim, mentora, as ficções femininas foram ganhando espaço. “Assim, mergulhei nelas. Algumas começavam em mim e voavam para longe, como se eu não tivesse muito domínio quanto ao destino delas. Outras começavam distantes da minha história e vinham se encostar em mim. O real e o inventado se misturaram sem muita delimitação”, situa.

Fio da meada

O livro é dividido em capítulos, muitos… E que foram batizados com nomes de mulheres. “Um corpo de baile feminino e seus agudos”, crava Bianca Ramoneda, na orelha. “Ora sussurrados ao pé do ouvido como um segredo íntimo revelado, ora como som estridente que estilhaça de uma vez tudo ao seu redor”. Alguns, mais curtinhos. Outros se estendem por mais de uma página. É que a criação não envolve regras. Não por outro motivo, não estão dispostos por ordem alfabética.

Perguntada sobre o critério que usou para organizá-los, Branca diz: “Alguns textos dão deixas para os próximos, outros são por pura intuição de ordem”. Assim, em “Laila”, Branca Escobar fala que a mentira é o estofo de toda família. E, na sequência, vem “Elaine”. “Um texto no qual retiro a mãe desse lugar exemplar, dessa mentira heroica que envolve a figura materna e paterna”. Do mesmo modo, em “Virgínia”, Branca fala da parte bruxa de toda mulher. “Na sequência vem ‘Gabriela’ a ver vultos, uma conexão com o que nos transcende”, exemplifica, citando que os textos foram escritos entre 2023 e 2024.

Branca/Bianca

E não, não há um capítulo batizado com o nome da autora, ainda que haja um com o título “Bianca”. Algum viés autobiográfico? “Na verdade, foi uma homenagem. Fiz entrelaçando a Branca e a Bianca Ramoneda”, contextualiza.

Processo

Quanto ao processo criativo, Branca cita dois exemplos como resposta. “Sinto prazer em me depilar, sinto paz, a maca, a sala toda branca, mas, ao fechar os olhos, a imaginação é de como será quando meu corpo, já morto, precisar ser retocado para um suposto velório. Foi esse sentimento, essa imagem que guiou a escrita de ‘Laila'”. Outro que ela destaca é “Madalena”. “Minha filha ficou internada logo após nascer prematura. Foi a memória que escreveu a maior parte de ‘Madalena’ – mas o final é fantasioso”, avisa.

Música

Perguntada sobre o motivo de alguns textos trazerem referências a músicas clássicas ou ao canto lírico (caso de Maria Callas), ela explica. “A música faz parte de mim. Meu pai é compositor e, assim, a música me afeta de uma forma extremamente profunda. Sou capaz de achar que algumas valem a existência. ‘Mio Babbino Caro’ (de Giacomo Puccini) é uma delas”.

Em tempo

Na orelha, Bianca Ramoneda assinala: “Branca Escobar desafia a sim mesma instalando sua escrita na zona de desconforto, e nos conduz para dentro dela de forma tentadora. No silêncio de cada mulher – ou de cada personagem -, existe um perigo alcançado por suas palavras que cortam. Recomendo a leitura deste caleidoscópio onde nos encontramos refletidas em muitos fragmentos de seus espelhos. E onde, ainda que com outros nomes, encontramos também a nós mesmas”.

Serviço

“Agudo” – Branca Escobar
Editora Urutau. 100 páginas.

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