Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Nívea Sabino encerra 12ª edição do segundaPRETA

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A poeta, slammer, ativista e educadora Nívea Sabino é a homenageada da edição 2023 do projeto, que teve início em 9 de outubro

Patrícia Cassese | Editora Assistente

A poeta, slammer e educadora social Nívea Sabino relembra o momento em que recebeu a informação de que seria a homenageada da edição 2023 do projeto segundaPRETA, em curso na capital mineira. “A notícia chegou para mim em noite de festa, como têm sido os encontros da segundaPRETA. Assim, sou chamada para um encontro, para uma reunião, e o pessoal fez uma festa. Estavam celebrando, ali, o retorno desses encontros presenciais (pós-pandemia). Para mim, era uma reunião simples, né? (risos) E aí fui surpreendida com essa notícia de eu ser a homenageada da temporada. É isso, eu não escondo sorrisos, alegria no meu rosto. São pessoas que admiro muito”, confessa ela, que nesta segunda-feira, dia 30, dia do encerramento da edição, participará da prosaPRETA.

Nívea Sabino, na foto, entre Luiza Romão e Geovani Martins, em evento do Sesc Palladium (Foto: Patrícia Cassese)
Nívea Sabino, na foto, entre Luiza Romão e Geovani Martins, em evento do Sesc Palladium (Foto: Patrícia Cassese)

A felicidade de Nívea Sabino tem muito a ver com o fato de ser homenageada por pessoas pelas quais tem amizade e nutre afeto. “E ver esse olhar voltado para mim, para a minha caminhada, nesse momento que a gente volta com os encontros presenciais… Eu que sou artista de rua, poeta marginal, cria de um sarau de periferia… Assim, eu sinto como um abraço. Um levante. Muito nesse sentido de ‘vamos junto’, seguir caminhando”. Ela conta que, neste sentido, uma frase que as pessoas envolvidas no segundaPRETA dizem muito é: “Não vamos parar”. “Então, para mim, isso diz muito desse momento nosso enquanto artista, principalmente artista negra. De como que a gente precisa estar junto”. Ela lembra, ainda, que a expressão “bater a laje” resume muito bem como tem sido caminhar fazendo arte na capital mineira. “São muitas mãos, muito suor e muita festa. Muita alegria estar junto desse pessoal”.

A homenageada

Nívea Sabino nasceu em 1980, em Nova Lima. Em 2002, graduou-se em Comunicação Social pela PUC Minas. Em 2016, publicou, pela editora Padê, “Interiorana”, que ganhou uma segunda edição, independente, em 2018. Participou das coletâneas “Meu crespo, nossa história”, da Crivo Editorial; “Poesia Gay Brasileira – Antologia (poemas)”, da Editora Machado e Amarelo Grão Editorial; e “À luta, à voz! ColetiVoz Sarau de Periferia”, Editora Vienas Abiertas, 2018. Foi curadora do FLI BH 2019 junto a Marilda Castanha. Este ano, foi autora de uma das instalações néon da Festa da Luz, ocorrida em maio.

Edição em curso

A edição 2023 do segundaPRETA foi aberta no dia 9 de outubro, no Teatro Espanca!, onde as apresentações acontecem. O DNA da iniciativa visa ser um lugar de fortalecimento e cuidado para a partilha de trabalhos e processos artísticos de pessoas negras. Tal qua, para a geração de conhecimentos e, sobretudo, um espaço de fabulação para a reinvenção em fluxo contínuo. “A segundaPRETA é, sem dúvida, a movimentação artística mais preciosa que eu vi nascer nessa cidade. E é preciosa porque é ela, a segundaPRETA. E isso diz muito”, pontua Nívea Sabino.

“Jeito preto de pensar a arte”

Primeiramente, prossegue Nívea Sabino, diz de um olhar que está ali se propondo a pensar e a fazer arte de outras maneiras, “principalmente da nossa forma”. “Assim, é um jeito preto de pensar e fazer arte. É um espaço de experimentação, e isso é muito rico. A casa da resistência artística no centro da cidade. Então, para quem é artista, isso é de uma riqueza sem tamanho. Você poder ter a possibilidade de encontrar e conversar com outros artistas, de estar em contato com outras linguagens artísticas”.

Elo

Nívea Sabino celebra a possibilidade de, enquanto pessoa da seara da poesia, poder ter contato, por exemplo, com a dramaturgia. “Com a cena, com a experimentação da performance. É um espaço no qual eu me sinto confortável para experimentar a minha própria arte em outras linguagens. É onde eu tenho experimentado, e é um elo ali. Um elo que fortalece e que ampara essa caminhada artística que não é fácil. Fazer arte. A gente tem tem visto aí o quanto é necessário de fato reunir várias mãos”.

Mais uma vez, ela recorre à expressão bater a laje. “É uma expressão que a segundaPRETA sempre usa. Uma metáfora para dizer dos nossos fazeres, que vêm dessa coletividade, do suor… E essa festa, né? Essa celebração da arte do encontro. Acho que o valor é imensurável. É muito precioso o que a iniciativa propõe”, advoga.

Equilíbrio na balança

Além disso, Nívea Sabino situa que há algo ali que a interessa muito, “que é o valor que cada pessoa tem nessa cadeia enorme, que é de fazer arte nesse processo”. “Todo mundo é visto com valor equiparado, né? Todas as mãos envolvidas são importantes, têm um valor que é igual. Então, isso é algo muito lindo e é uma prática do espaço. Assim, algo que a gente vislumbra enquanto discurso, enquanto sonha, mas que a segundaPRETA se propõe e faz. E isso é muito lindo”.

Rol de homenageadas

Até a 11ª temporada, já foram homenageadas, da segundaPRETA, a atriz carioca Ruth de Souza, a multiartista Zora Santos, a poetisa e ensaísta Leda Maria Martins, a escritora mineira Ana Maria Gonçalves, a escritora Conceição Evaristo e a capitã de Massambique Pedrina de Lourdes Santos e a editora e fundadora da Mazza Edições, Maria Mazzarelo Rodrigues, a professora Nilma Lino Gomes, a artista visual Rosana Paulino, a atriz Valdineia Soriano e a atriz Léa Garcia (falecida recentemente). Agora, Nívea Sabino. A ideia, pois, é sembre celebrar uma mulher viva.

“Nívea Sabino é uma inspiração e companheira de caminhada da segundaPRETA. Com ela, brindamos a palavra viva que ocupa as ruas da cidade, a poesia que percorre encruzilhadas, que caminha de boca em boca”, aponta o material de divulgação do evento. A poeta, slammer e educadora retribui: “A relevância da segundaPRETA pode ser lida na própria trajetória que a iniciativa vem traçando nessa cidade. É um espaço de experimentação de arte negra que tem recebido artistas do Brasil inteiro”.

Relevância

Não só. Ela ressalta a potência com que as realizadoras enfrentam as adversidades. “Pensar que esse espaço de experimentação ora tem recurso, ora não tem, e, mesmo assim, ele não para. Isso é incrível, porque vem garantindo a permanência de muito artista preto nessa cidade. A permanência e a circulação dessas artes. Isso é algo que só nós temos feito por nós, que é isso, celebrar uma trajetória em vida, possibilitar essa alegria, esse experimento artístico. É tudo muito grandioso. Então, acho que a relevância está na própria trajetória do evento”.

Serviço

segunda PRETA | encerramento da 12ª temporada
Quando: segunda-feira, 30 de outubro (bilheteria abre às 19h, apresentações acontecem às 20h.
Onde: Teatro Espanca! (rua Aarão Reis, 542, centro)
Ingressos: R$ 15 e R$ 10 – moradores localizados fora dos limites da avenida do Contorno pagam valor reduzido).
Mais informações: perfil do Instagram do segundaPRETA

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