
FILOFOBIA com Grupo In-Cena de Teatro e Grupo dos Dez. Foto Florisvaldo Ju?nior/Divulgação
Curitiba – Quatro espetáculos, de quatro estados diferentes. Em comum, o interesse por uma estética que transforma em arte discussões sobre o atual contexto social e político de nosso país. Assim pode ser apresentada a Mostra In-Cena 4×4, uma das atrações com forte presença mineira na edição 2019 do Festival de Teatro de Curitiba.
Digo forte pois a idealização e o convite para o encontro partiu de André Luiz Dias. Para quem não o conhece, ele é fundador do Instituto Cultural In-Cena, grupo de teatro de Teófilo Otoni que bravamente desenvolve o trabalho no interior de Minas. Foi ele quem convidou a Cia Teatro de Gente, o coletivo Aquilombo, de BH, e Meio Mundo de Inventações Compartilhadas, de São Paulo, para a realização da mostra especial em Curitiba. Eles fazem parte do Fringe, que é a programação off. Ou seja, está aberta a participação de quem se inscrever.
Visibilidade
Em 2019, são 350 peças participando somente do Fringe em Curitiba. Dessa maneira, muitas companhias se reúnem em recortes temáticos para alcançar mais visibilidade. A Mostra In-Cena 4×4 compartilha experiências de artistas que estão envolvidos em construções coletivas. Os espetáculos serão apresentados até o dia 06 de abril, na Casa Heitor Stockler.
O primeiro deles é uma première. Filofobia nasce de um curioso exercício de direção compartilhada por André Luiz Dias e Rodrigo Gerônimo, do Grupo dos Dez. Em comum, por exemplo, há a pesquisa sobre o teatro negro. A primeira versão da peça foi uma cena de 15 minutos apresentada em 2018 no La Movida In-box. O texto de Marcos Fábio de Faria discute a fobia do amor.
“A gente sente que a população negra está em distopia desde que o primeiro negro saiu da África. O desafio é discutir os fins do mundo e que medo do amor é esse que temos atualmente”, comenta Rodrigo Gerônimo. Ele dirigiu a segunda parte da peça e André a primeira. Detalhe: durante o processo, um não viu a parte do outro.

INFERNO com Ana Paula Bouzas. Foto: Fabio Espirito Santo/Divulgação
Dança
“Temos um desejo de discurso parecido além de afinidades estéticas’, diz Ana Paula Bouzas. Ela faz parte do Meio Mundo Intervenções Compartilhadas e apresenta em Curitiba o processo de construção de Inferno. Ela aborda a relação social entre trabalhadores e patrões.
Outro espetáculo na Mostra In-Cena 4×4 é Balada de um palhaço. O texto de Plínio Marcos, de 1986, foi dirigido por Nathan Marreiro. De acordo com o encenador, o atual contexto social e político brasileiro tem chamado mais atenção para a relevância da obra do dramaturgo.
Expansão
A Mostra In-Cena 4×4 não ficará restrita à Curitiba. Às Margens, montagem do In-Cena, será apresentada em São José dos Pinhais, região metropolitana da capital do Paraná. Em síntese, é uma peça que discute o Brasil indígena e quilombola. Um dos destaques é a presença da atriz Araci Cachoeira, que trabalhou com Augusto Boal.
Moradora do Vale do Mururi, ela já havia abandonado a carreira de atriz quando recebeu o convite de André Luiz Dias. “Ela estava plantando mandioca”, conta. Dessa maneira, a presença de Araci no elenco de Às Margens complementa a força do espetáculo que fala, sobretudo, sobre a pluralidade brasileira. “Isso que é descolonizar”, resume Rodrigo Gerônimo.
Culturadoria está em Curitiba a convite do Festival de Teatro