Por Thiago Fonseca
06/04/2018 às 13:03
A transfobia, a vivência lésbica e o diálogo da religião com os LGBTs são alguns dos temas dos filmes que irão ocupar o Cine Humberto Mauro na 2ª Mostra Internacional de Cinema em Cores. Criado para dar mais visibilidade à população LGBT, o evento exibirá 19 produções audiovisuais entre os dias 6 e 10 de abril. Toda a programação é gratuita.
Serão exibidos cinco longas e 14 curta-metragens do Brasil, México e Estados Unidos. Eles trabalham os princípios de diversidade, liberdade, visibilidade e igualdade para toda a comunidade LGBT. O evento ainda conta com debates, após alguns filmes. Eles irão contar com a presença de diretores, pesquisadores, jornalistas e militantes.
Os curadores Luiz Gustavo Guimarães e Jacson Dias elaboraram um recorte audiovisual sobre as principais questões que afligem a existência LGBT e, além disso, impedem os direitos dessa população. “Foram escolhidas produções que tratam a questão da contemporaneidade no cinema e o que está se discutindo atualmente. Todos os filmes ainda dialogam com o passado e com o presente. Trazem à tona questões latentes da comunidade LGBT, propõe debates e reflexões”, afirma Jacson.
“Nesses tempos nebulosos em que vivemos, é extremamente importante ter um evento de cinema que fala sobre diversidade para o público em geral. A 2ª Mostra Internacional de Cinema em Cores traz um sopro de esperança no meio do caos. Ainda traz a luz que não somos aberrações. A gente existe e merece ser respeitado. Isso não é favor, é obrigação. Queremos mostrar que existimos e resistimos. E questionar: Viver é pedir privilégio? Andar de mãos dadas na rua é pedir algo demais?”, continua o curador.
‘Paris is Burning’ mostra as Casas de Baile LGBTs nova-iorquinas na década de 1980. Estará em exibição nos dias 06, 08 e 10 de Abril – Foto: Reprodução.
“Dandara”, dos diretores mineiros Fred Bottrel e Flávia Ayer, é um dos filmes que compõe a mostra. O curta deriva da reportagem especial “O Martírio de Dandara”, publicada pelo jornal Estado de Minas em março de 2017. Um mês após a travesti ter sido morta a tiros durante uma sessão de tortura. O crime foi gravado e viralizou no mundo inteiro.
A partir do caso de grande repercussão, os diretores resgataram a história não contada da travesti que foi levada em um carrinho de mão para morrer. Em Fortaleza, no Ceará, o filme mostra os locais onde Dandara nasceu, viveu, trabalhou e morreu, aos 42 anos. Por meio de depoimentos de pessoas que conviveram com ela, traça o retrato humano de uma figura que se tornou conhecida.
“Viajamos para fazer a reportagem após a repercussão do vídeo e colhemos depoimentos. Durante o processo, entendemos que a história de Dandara precisava ser contada com outra roupagem e de forma mais profunda. Fizemos alguns cortes inéditos e criamos o curta”, explica Fred Bottrel.
O diretor afirma que o curta reflete uma luta importante. “O filme dá a atenção merecida ao caso Dandara e fala de um assunto que a gente espera não falar mais”. “Dandara” venceu o Prêmio Canal Brasil de Incentivo ao Curta-Metragem, no Festival Mix Brasil de Cinema da Diversidade, no ano passado, e chega 2ª Mostra Internacional de Cinema em Cores. Esta será a primeira exibição do curta em Belo Horizonte.
“Estamos felizes e é muito legal estar na Mostra. O festival é importante para tratar das questões LGBT com mais naturalidade. Ainda naturalizar questões marginalizadas. A Representatividade ainda é muito pequena e a gente precisa avançar nisso. Uma mostra como essa ajuda a tornar a diversidade uma pauta importante para todos”, pontua Fred.
Compartilhe o trailerDandara, a história por trás do crime que escancarou a transfobia no BrasilVencedor do Prêmio Canal Brasil de Incentivo ao Curta-Metragem no Festival Mix Brasil
Posted by Dandara on Monday, November 13, 2017
Assim como no curta “Dandara”, a transfobia será abordada nos filmes “A Vida que Não me Cabe” e “Belize”. O diálogo da religião com os LGBTs é percebido em “A Fé Que Nos Une”. Já as questões da vida lésbica podem ser conferidas nos filmes “Piscina” e “Na Esquina da Minha Rua Favorita com a Sua”.
Na abertura da Mostra, nesta sexta-feira, dia 06, serão exibidos quatro filmes. Destaque para o documentário “Luana Filha da Lua”, dos diretores Rian Córdova e Leonardo Menezes. O filme retrata a rotina de Luana, uma travesti que divide sua vida entre a prostituição, a militância LGBT e shows em cabarés. O documentário conquistou o prêmio de melhor longa no Festival de Gênero e Sexualidade do Rio no Cinema 2017.
No sábado, dia 07, 12 filmes foram selecionados para as quatro sessões. Entre eles estará o curta “Dandara” e “Ingrid”. De Maick Hannder, “Ingrid” é um curta que surge da parte de uma entrevista com a personagem. Uma transexual que relata sua conflituosa relação com as determinações que seu corpo masculino impunha à sua identidade, desde a infância até sua realização enquanto mulher. O filme já participou de mais de 40 festivais no mundo todo.
No mesmo dia ainda serão realizadas as sessões comentadas com debates que irão amplificar as questões relacionadas aos filmes e ao universo LGBT. A chamada “Noite do cinema trans” será mediada pelo curador Jacson Dias, e recebrá Augusto Brasil, diretor de “Maravilhosa”; Fred Bottrel, diretor de “Dandara”; Maick Hannder, diretor de “Ingrid”; Lázaro dos Anjos, protagonista do curta “Maravilhosa”; e Gael Benitez, homem transexual e produtor de mídias audiovisuais.
“Trazer os diretores e atores para debater após as sessões faz com que o público tenha um outro olhar do filme. Às vezes, a pessoa não consegue entender a história e conversando com o diretor ela pode tirar as dúvidas. E ainda é importante conversar com os atingidos, e, real motivo da produção audiovisual”, pontua Jacson.
“A fé que nos une” evidencia o trabalho das igrejas inclusivas da capital mineira e sua função agregadora para a comunidade LGBT – Foto: Paulo Guerra / Divulgação.
O papel da religião e sua relação com a comunidade LGBT também será abordado na mostra. No Domingo, dia 08, serão exibidos seis filmes um deles é “A fé que nos une”, do belo-horizontino Paulo Guerra. O documentário evidencia o trabalho das igrejas inclusivas da capital mineira e sua função agregadora para a comunidade LGBT. O filme traz histórias de pessoas que tiveram que se retirar das igrejas tradicionais para ir em busca de espiritualidade.
Em seguida, a sala será ocupada por um debate sobre a importância da fé como instrumento agregador para a comunidade LGBT. Participam da discussão Célia Batista e Myriam Salum, ambas integrantes do grupo Mães pela Diversidade; Sandro Silva, um dos personagens do filme e pastor da Igreja da Comunidade Metropolitana de Belo Horizonte; e o diretor Paulo Guerra.
O recorte brasileiro para a história do movimento LGBT fica a cargo do filme “São Paulo em Hifi”, de Lufe Steffen, na segunda-feira, dia 30. O trabalho narra histórias das noites gays na capital paulista nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Após a sessão, um debate vai contar com a presença de Luiz Morando, professor do curso de Letras do Uni-BH; e do jornalista Paulo Proença, colunista LGBT da Rádio Inconfidência.
A programação da segunda-feira, dia 09, encerra a Mostra com a exibição de oito filmes. A lista dos filmes exibidos, horários e datas você confere clicando aqui. A retirada dos ingressos deve ser realizada 30 minutos antes de cada sessão.
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