A Aurora não é só a ‘menina dos olhos’ da Mostra de Cinema de Tiradentes mas de quase todo cineasta independente, que tem um trabalho autoral e está em início de carreira. A seção competitiva foi criada em 2008 com o objetivo de revelar novos cineastas. É o que tem feito desde então.
Sendo assim, os representantes dos sete longas que concorrem ao prêmio na noite deste sábado (26) chegam à disputa com expectativas diversas. Dessa maneira, para além dos prêmios materiais concedidos, o que vale mais é a visibilidade e poder estrear em um evento que tem promovido o cinema experimental.
Visibilidade, aliás, foi grande prêmio para cineastas que já venceram por aqui. Sendo assim, a Aurora revelou Adirley Queirós (A Cidade é uma só?, 2012), Affonso Uchoa (A vizinhança do Tigre, 2014), Juliana Antunes (Baronesa, 2017), entre outros.
Mesmo com estes exemplos, para o diretor Gustavo Vinagre, ganhando ou não, a circulação do filme sempre será relativa. Dessa maneira, como dependerá de outras variáveis, o mais interessante que Tiradentes oferece é mesmo a troca entre os pares.
Diálogo e visibilidade
Lívia de Paiva, que dirigiu com Elena Meireles o filme ‘Tremor iê’, destaca que, por se tratar de uma mostra dedicada a jovens realizadores, a Aurora acaba privilegiando a continuidade da carreira. Em resumo: ‘carreirismo’, como define Lívia.
O ganhador receberá R$10 mil, equivalente a locação de equipamentos de iluminação, acessórios e maquinaria para serem utilizados em uma única produção. A Aurora também concede 40 horas de mixagem; legenda descritiva, áudio descrição e Libras para um longa de até 100 minutos e master DCP para longa até 120 minutos.
Em resumo: os prêmios conquistados aqui serão usados em outros filmes do mesmo realizador. “Nem todo mundo que esteve neste filme vai estar no próximo. Seria massa se fosse retroativo”, comenta. Sendo assim, é por isso que a diretora concorda que a visibilidade é o mais valioso.
“O que conta é a possibilidade de exibição vontade de dialogar”, resume Arthur Lins, diretor de Desvio. “O mais legal é que foi se configurando um grau de troca. Tiradentes tem a tradição de um público muito ativo, interessado em discutir. É isso o que mais me atrai”, diz Caetano Gotardo, diretor de “Seus ossos e seus olhos”.
Para Isabel Casimiro, diretora de ‘A rainha Nzinga chegou’ em parceria com Junia Torres, a participação na Mostra Aurora vai ampliar o acesso ao filme. “Tudo é para todo mundo. Essa é a nossa visão. Estamos corrigindo distorções seculares”, diz sobre o longa que aborda tradições do Congado mineiro.
Engajamento
A diretora de ‘Um filme de verão’, Jo Serfaty diz que a partir da experiência que vem tendo em Tiradentes, pensando em 2019, vê o cinema muito como engajamento. “Não apenas militante, mas com as relações sensíveis que estão se dando. As nossas condições”, afirma.
Segundo ela, estar em uma seleção como a Aurora é estabelecer engajamento entre obras criadas nesse processo histórico. “Tiradentes me possibilitou criar uma suspensão nesse caos em que estamos vivendo”, diz.
Internacional
Além de participar da Mostra Aurora, os diretores Caetano Gotardo e Gustavo Vinagre exibirão seus respectivos filmes nos festivais de Rotterdam e Berlim. Para Gustavo, a expectativa em relação a recepção de ‘A rosa azul de Novalis’ é maior em Tiradentes do que no evento na Alemanha.
“Existem camadas que podem ser compreendidas aqui que vão escapar em Berlim”, diz. “Tem uma curiosidade grande nas duas experiências”, afirma Caetano Gotardo. Tiradentes, segundo ele, o que mais interessa é a pluralidade de olhares. Em síntese: isso, de fato, é o que não falta em Tiradentes.
VENCEDORES DA MOSTRA AURORA
2019 – A ser anunciado no sábado, dia 26 de janeiro
2018 – “Baixo Centro”, Ewerton Belico e Samuel Marotta
2017 – “Baronesa”, Juliana Antunes
2016 – “Jovens Infelizes ou um Homem que Grita não é um Urso que Dança”, Thiago B. Mendonça
2015 – “Mais do que Eu Possa me Reconhecer”, Allan Ribeiro
2014 – “A Vizinhança do Tigre”, Affonso Uchoa
2013 – “Os Dias com Ele”, Maria Clara Escobar
2012 – “A Cidade É uma Só?”, Adirley Queirós
2011 – “Os Residentes”, Tiago Mata Machado
2010 – “Estrada para Ythaca”, Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti
2009 – “A Fuga, a Raiva, a Dança, a Bunda, a Boca, a Calma, a Vida da Mulher Gorila”, de Marina Meliande e Felipe Bragança
2008 – “Meu Nome é Dindi”, Bruno Safadi
A equipe do Culturadoria viajou a convite da Mostra de Tiradentes
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