Pererê sobe ao palco para cantar músicas de Milton Nascimento que mostram a relação do artista com a ancestralidade
Patrícia Cassese | Editora Assistente
A informação que os ingressos disponibilizados para retirada já estão esgotados procede. No entanto, ainda há um alento para quem quer ir ao show “Canto Negro para Milton Nascimento”, de Sérgio Pererê – que acontece neste sábado, dia 24 de fevereiro, no Teatro Raul Belém Machado -, e ainda não havia garantido a entrada. É que, de acordo com a produção, haverá alguns ingressos extras que serão disponibilizados para a retirada (gratuita0 na hora. O número exato de lugares ainda não foi definido, mas uma porta lateral será aberta e, assim, cadeiras na área externa serão colocadas.
O nome do espetáculo dá uma clara indicação do direcionamento da empreitada. Assim, Sérgio Pererê coloca o vozeirão a serviço do repertório de Milton Nascimento, mas com um recorte específico: são músicas que ressaltam a africanidade da obra de Bituca. A bem da verdade, o show surgiu à época da pandemia, quando vários artistas, afastados dos respectivos habitats, tiveram que reinventar. No caso de Pererê, não houve muitos embates internos na hora de escolher o homenageado – mesmo porque, Milton sempre foi umas de grandes referências musicais dele.
Assim, em 2021, Pererê ocupou o Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, com banda e dez convidados, e fez o show sem plateia, mas com transmissão pelo YouTube. Agora, chegou a hora de, enfim, apresentar o show com público. No caso, Pererê vai contar com participações das cantoras e instrumentistas Nath Rodrigues e Thamires Cunha. Em tempo: o repertório servirá de base para um disco homônimo, que será lançado em breve, nas plataformas digitais.
Repertório
Na lista, entram canções como “Pai Grande”, “Cravo e Canela”, “Bola de Gude, Bola de Meia”, “Maria Maria”, “Morro Velho”, “Cio da Terra”, “Canção do Sal”, “San Vicente” e “Travessia”. Vale dizer que nem todas fazem referências óbvias à africanidade – assim, esta pode ser localizada, por exemplo, em células rítmicas, que, diz ele, revelam um caráter especial desse canto negro.
Ao Culturadoria, perguntado sobre qual das músicas do repertório já estava na mente dele há tempos, e que porventura tivesse até mesmo alguma ligação específica com algum momento da vida do artista, Pererê titubeia. “Bem, escolher uma música entre essas todas, é difícil. A verdade é que, em se tratando de Milton, há canções que nem estão no repertório do disco ou do show que são muito caras pra mim”. Caso de “Outubro”. “É uma música que eu amo demais! Muito especial pra mim”, manifesta.
“Pai Grande”
Porém, no recorte específico do repertório, ele argumenta que, se fosse pensar uma delas como uma composição que tivesse um “peso muito especial”, ficaria com “Pai Grande”. “Porque é uma música que tive a chance de cantar uma vez num espetáculo chamado ‘Bituca, Vendedor de Sonhos’. Ocorre que o Milton foi assistir. Isso foi no Rio de Janeiro. E, ao final, ele veio falar comigo e disse que achou linda, a minha interpretação da música. Então, isso foi uma coroação pra mim, foi uma benção. Ficou guardado para mim pra sempre”.
Desse modo, Sérgio Pererê comenta que sempre que canta “Pai Grande”, escuta a voz de Milton no ouvido, abençoando-o. “Mas, enfim, eu amo todas, gosto muito de todas as composições que estão no disco. Outra que mexe muito comigo é ‘Morro Velho’. Me leva um pouco para o meu pai. Porque ele vem de uma vida de interior, de fazenda, dessa coisa toda. Então, é uma música que me ‘puxa’ uma emoção diferente”.
“Cio da Terra”
Outra que ele destaca é “Lágrimas do Sul”. “Quando a gente pensa em fazer um show chamado ‘Canto Negro Para Milton Nascimento’, acho que ‘Lágrimas do Sul’ não poderia ficar fora nunca, né? Porque é um momento no qual a gente percebe o Milton se posicionando com relação à questão racial. Então, eu acho que é muito importante. Dentro de um show, de um trabalho nesse contexto, essa música tinha que estar presente”.
Pererê adiciona que outra que ele considera como uma música do coração é “O Cio da Terra”, parceria de Chico Buarque e Milton Nascimento. “Ouvi muito na minha infância, mas muito, muito, muito. É uma música que sempre esteve presente na minha vida. Lembrando que as outras todas (desse repertório), também. Se eu fosse falar, eu poderia discorrer muito sobre o peso de cada uma”.
Confira, a seguir, outros tópicos abordados na entrevista ao Culturadoria
Planos para o show “Canto Negro Para Milton Nascimento”
“Além do ensaio aberto (haverá um na sexta-feira, dia 23 de fevereiro, no mesmo local) e além dessa apresentação do dia 24, teremos, sim, possibilidade de fazer esse show em alguns outros lugares, em outros momentos. Embora o ano, para mim, ele está muito cheio de coisas. Mas havendo oportunidade de fazer em outras cidades, outros espaços de BH…”. Mesmo porque, prossegue Pererê, no caso desta agenda, há a questão da lotação. Mas a gente está disposto a fazer em outros lugares de BH, do Brasil e quiçá do mundo.
Disco
Como assinalado, o disco “Canto Negro Para Milton Nascimento” vai entrar nas plataformas de streaming em março. “A gente ainda está resolvendo alguns trâmites legais. Na verdade, está 90% resolvido”.
A todo vapor
Reza o senso comum que, no Brasil, o ano efetivamente só começa após o Carnaval. Assim, perguntamos a Sérgio Pererê sobre a agenda dele a partir de agora. “Na verdade, esse ano já comecei fazendo um show maravilhoso com a Lia de Itamaracá. Aliás, lá, em Itamaracá (PE), na comemoração os 80 anos dessa rainha. Depois fui para Santos, fazer um show incrível. No Carnaval estive muito presente em vários lugares”. Mas sim, há muitos outros projetos previstos para o ano. Entre eles, a turnê do espetáculo “Herança”, que estreou ano passado, em BH.
“Este ano, vamos rodar o país com essa montagem que é uma comemoração dos 50 anos de carreira do meu querido irmão, Maurício Tizumba. Vamos passar se não por todas, por quase todas as capitais do país. Essa turnê vai tomar, aí, uma boa parte da agenda”. Vale lembrar que, além de Maurício Tizumba e Sérgio Pererê, o espetáculo conta, ainda, com Júlia Tizumba.
“Canções de Outono”
Sérgio Pererê também tem engatilhado, para junho, o lançamento do disco “Canções de Outono”, para o qual convidou várias cantoras do Brasil. Ele detalha uma curiosidade deste trabalho. “Quando comecei a compor, eu imaginava um álbum de sofrência, de canções de amor. Porém, ao fim da trajetória, na hora que escuto as coisas mixadas, entendo que é, na verdade, uma grande homenagem às cantoras do Brasil”. Ele diz que em breve poderá dar mais detalhes. “Mas adianto que ficou uma coisa muito bonita, as participações que tenho neste álbum”. E finaliza acrescentando que ainda tem outros projetos no horizonte para 2024. “Bastante coisa, muitas surpresas de agora até o fim do ano”, anuncia.
Serviço
“Canto Negro para Milton Nascimento”, de Sérgio Pererê
Show de lançamento
Quando. Sábado, 24 de fevereiro, às 20h
Onde. Espaço Cênico Yoshifumi Yagi / Teatro Raul Belém Machado (Rua Jauá, 80 – Alípio de Melo)
Quanto. Os ingressos são gratuitos. Estão esgotados para a área interna, mas a produção afiança que serão disponibilizados outros lugares, na área externa, na hora, também gratuitos
Ensaio aberto
Quando. Sexta-feira, 23 de fevereiro, às 19h
Onde. Centro Cultural Vila Santa Rita (Rua Ana Rafael dos Santos, 149 – Vila Santa Rita)