A atriz Mercedes Morán já atuou sob a direção de Walter Salles, além de ter filmado com Marco Ricca e Andréa Beltrão
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Atualmente com 68 anos de idade, a atriz argentina Mercedes Morán coleciona vários feitos no currículo. Para citar um exemplo, trabalhou sob a batuta da respeitada diretora Lucrecia Martel em filmes como “O Pântano” e “A Menina Santa”. Também marcou presença em produções que fizeram sucesso no Brasil, como a comédia “Um Namorado Para Minha Esposa” (que, aliás, teve uma versão brasileira, “Um Namorado Para Minha Mulher”, com Ingrid Guimarães, Caco Ciocler e o saudoso Domingos Montagner no elenco). Tal qual, a comédia romântica madura (e deliciosa) “Um Amor Inesperado”, no qual dividiu o set com Ricardo Darín.
Da mesma forma, atuou em “Diários de Motocicleta” (2004), do brasileiro Walter Salles, que mostrava, nas telas, um recorte da vida de Che Guevara, ali vivido por Gael García Bernal. Não bastasse, filmou, no Brasil, “Sueños Florianópolis”, da diretora Ana Katz, que trazia, no elenco, Andréa Beltrão e Marco Ricca. Já em tempos de streaming, Mercedes Morán despertou antipatia ao interpretar, de modo estupendo e visceral, a fria e calculista Elena Vázquez Pena na minissérie “Vosso Reino”, disponível na Netflix. E é justamente nesta plataforma que a atriz volta a dar o ar da graça no filme “Norma”, de Santiago Giralt. O longa entrou no catálogo Netflix no dia 22 de dezembro.
Burguesa
Com os cabelos platinados, em “Norma”, Mercedes dá vida à personagem título, uma mulher que tem a vida sacudida quando Rosa, a empregada da casa da família em Las Tucas pede demissão. Típica burguesa, Mercedes, diante do aviso de saída, de pronto evoca o velho argumento do “Como assim? Você faz parte da família”. Debalde. A mulher deixa a casa. Neste ponto, uma cena emblemática: Norma ainda lhe chama, quando está já no portão. Rosa (ou Rosita) se volta e acredita que a patroa queria ao menos lhe dar um abraço de despedida e, talvez, quem sabe, um agradecimento, uma demonstração de afeto. Mas, na verdade, a Norma apenas quer o avental de volta, que a funcionária, sem se dar conta, estava levando consigo.
Família protocolar
Na sequência, o espectador se depara com a informação de que a personagem de Mercedes vive uma vida protocolar com o marido, Gustavo (Alejandro Awada). O círculo íntimo se completa com a filha e a mãe (Elvira Onetto), uma mulher extremamente racista, ancorada em um modo de vida incompatível com os dias atuais e a irmã (Mirella Pascual), com quem já há algum tempo não fala. Aliás, logo no início, há duas falas da mãe assustadoras, referindo-se à funcionária que deixou o emprego. Já a filha de Norma está secretamente grávida, embora não tenha o relacionamento estável pelo qual as ditas famílias tradicionais tanto anseiam.
Sacudida
Certo dia, ao mexer nos pertences da filha, Mercedes acaba encontrando uma latinha com maconha. Desse modo, passa a pesquisar sobre o uso da marijuana na Internet, enquanto vive a lida diária com a arrumação da casa, já que não quer uma pessoa nova. Pouco a pouco, Norma começa a se dar conta que precisa dar uma sacudida na vida. E a marijuana passa a ser um caminho.
Para percorrer as novas veredas que se apresentam no horizonte, ela trata primeiramente de arrumar uma amiga. Na verdade, uma psicóloga, Judith (Lorena Vega), que, na verdade, lhe foi indicada como um nome de uma profissional com a qual Norma poderia (deveria) fazer terapia. O inusitado é que Judith aceita, sim, ser amiga de Norma. Ousando cada vez mais sair da gaiola dourada na qual estava habituada a viver presa, a Norma de Mercedes Morán mostra que nunca é tarde para uma mulher dar o ponto de virada. Não bastasse, mostra o quanto uma rede de apoio é sempre bem-vinda. Principalmente se ela é formada por mulheres. A tal da sororidade. Ah, sim, aproveite o embalo e assista a outros filmes de Mercedes Morán. Vale muito a pena.
Confira, abaixo, o trailer