Marcelo Do Vale é ator, diretor e professor de teatro. Agora acrescentou uma função a mais: diretor de dublagem. Entrou no ramo há 9 anos. Começou como dublador, quando o cenário em Minas ainda dava os primeiros passos. O novo cargo veio com a experiência e expansão da dublagem no Estado. “O que vem acontecendo é uma procura dos distribuidores e estúdios de outros estados que viram que o trabalho daqui é de qualidade é dá para se investir. Daí começaram a vir os trabalhos, e consequentemente, demandar as pessoas e os estúdios. Ainda não estamos em algo forte, mas a tendência é crescer”, explica Marcelo.
Para ser dublador é preciso ser ator com DRT, que é o registro emitido pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões. Além de muito estudos, vocação e prática. “É uma técnica que precisa ser trabalhada e estudada”, explica Marcelo. Como Belo Horizonte não tem curso intensivo de dublagem, Marcelo decidiu criar uma oficina especializada na função. “Com o crescimento do setor precisaremos de mais dubladores e essa é uma alternativa para os atores. A oficina dura quatro meses. Contudo, o dublador tem que ter percepção, qualidade de trabalho e voz que se adequa”, conta Marcelo.
O mercado mineiro
De olho nesse mercado a Scriptus Comunicação lançou no mês passado um estúdio com padrões internacionais. A dublagem surgiu na empresa há dois anos quando um dos clientes solicitou o serviço. O audiovisual já fazia parte do portfólio de serviços. Nesse tempo, mesmo que não revele o número exato, a Scriptus afirma ter realizado centenas de dublagens nos últimos dois anos. “Sempre trabalhamos com terceirização, contudo, agora estamos com um cliente direto. Com isso, a expectativa é crescer. O mercado tem crescido, mas ainda é muito pequeno se comparado com os outros estados”, pontua Rafaela Lôbo, diretora executiva da Scriptus.
Luciano Vivacqua, diretor de dublagem e dublador, vê que o crescimento do mercado de dublagem está ligado ao surgimento de novos estúdios e à demanda de filmes para serem dublados. “O mercado está aquecido, mas tem altos e baixos, como em qualquer praça de dublagem. Acredito que o ano de 2020 traz uma excelente perspectiva para o mercado mineiro. Tem um canal de TV americana chegando a BH e isso vai fazer diferença”, comenta.
Valores
O principal fator que diferencia Minas dos outros estados, e o que mais causa entrave entre os concorrentes, são os valores. Um dublador mineiro chega a receber 50% a menos que no Rio e São Paulo. “Dublar em Minas é mais barato. Seguimos um padrão internacional. São Paulo e Rio de Janeiro são os mais caros”, explica Rafaela.
Em BH existem três empresas que prestam o serviço de dublagem a canais de TV, fora as que se dedicam a trabalhos institucionais. A pioneira foi a Doxa Way, criada em 2008. Hoje já são mais de 50 profissionais à disposição do mercado no estado. Alguns estúdios chegam a dublar até quatro produções por semana. Os trabalhos vem dos estúdios e distribuidoras, e em alguns casos, terceirizados de estúdios de outros estados.
Aqui no estado já foram dublados filmes, como por exemplo, da HBO, Cinemax, Discovery Kids, Nickelodeon e Cartoon Network. Os filmes “Reencontrando a Felicidade”, “A Casa dos Espíritos”, “Titus”, “Tudo Sobre a Minha Mãe”, e as séries “Speed racer” e “Halt and Catch Fire” são algumas das produções que ganharam vozes em terras mineiras.
Confira as dicas valiosas de Marcelo do Vale para quem quer iniciar a carreira como dublador
Boa articulação – Como a voz é o principal instrumento do ator dublador, ter boa articulação é fundamental, assim como a interpretação.
Boa leitura – O ator dublador lê o roteiro ao mesmo tempo em que observa o material a ser dublado. Então, quanto mais prática e naturalidade na leitura, melhor.
Disponibilidade – A dedicação de tempo é fundamental pois alguns trabalhos podem exigir horas a fio de gravação.
Boa interpretação de texto – Na dublagem o ator não precisa reinventar o texto mas tem que ter uma percepção muito aguçada do original para poder reproduzir a emoção do personagem em português.