Um dia no MECAInhotim: Observações de quem perambulou pelo Inhotim durante dez horas entre as atrações do ‘festival multicultural’
A Karol Conka das entrevistas, do discurso, já conhecia. Curiosidade era ver como isso também se transformava em performance. Depois da passagem dela pelo MECAInhotim, na noite do sábado 08 de julho, é fácil constatar que uma coisa não está dissociada da outra. Karol é discurso, é performance, é espontaneidade. É aquilo mesmo!
De Curitiba para o Brasil chegou para sacudir o cenário do rap nacional. Karol é muito elegante e isso transforma letras em postura. Sim, tem hits ácidos mas os apresenta com tanta personalidade que a acidez apimenta o engajamento que os dizeres propõe. Grande acerto do MECAInhotim!
Karol subiu ao palco exatamente na hora marcada: às 19h30. Normal em festivais, foi uma apresentação bem curta, com apenas 60 minutos no relógio. Soube aproveitar muito bem o tempo que teve. Cantou todos os hits. De Tombei à novíssima e polêmica Lala, que fala sobre sexo oral.
Irreverência é uma característica dela. Chama candidatos ao palco para dançarem enquanto ela dubla Rihanna, numa clara brincadeira. A ideia é formar casais. Um dos primeiros a subir ao palco perguntou: “Pode beijo gay?”. “Que pergunta é essa meu filho? Claro que pode”, respondeu a cantora. E teve beijo gay.
Generosidade é outra característica. Também convidou para dançar dois integrantes do projeto La na favelinha. Eles são os responsáveis pela Disputa Nervosa, o duelo de passinhos que está ganhando força e cada vez plateias maiores em BH. Precisa dizer que eles arrasaram? Claro, e muito dançando Caxambu! Tanto que Conká ampliou o convite para se apresentarem com ela todas as vezes que estiver pela redondeza.
Jorge Ben Jor encerrou a noite de sábado no MECAInhotim com show de sucessos enfileirados. Falando em fila, essa também foi uma constante. “Fila aqui é conceito”, ouvi enquanto esperava para comprar um espetinho que me custou R$ 18. Concordo com ele. Para comer e beber era preciso paciência.
Diário de MECAInhotim
O Meca é um evento forasteiro. Escolhe – muito bem – Inhotim como cenário mas ainda demonstra pouca preocupação em dialogar conceitualmente com aquele contexto. O que não é problema algum, mas é preciso deixar registrado. Os ambientes são bem explorados mas os discursos em relação ao que o Parque propõe estão muito mais no campo da contemplação do que dos significados que tudo ali pode despertar em termos de discussões.
Como a programação é extensa é preciso escolher – e bem – o que explorar. Comecei meu dia pegando o finalzinho – mesmo! – da conversa entre Jackson Araújo, Amélia Malheris (Hering) e Taciana Abreu (Farm). A sequência, 12h30, era para ter sido o show do duo Flor de sal, patrocinado pela Farm. A apresentação começou uma hora depois.
Marquei a chegada a Inhotim esse horário para ver esta apresentação. Flor de sal é formado por Micael Amarante e Karina Zeviani. Ele foi a primeira vez que vi. Ela conhecia da época que colaborou com o grupo francês Nouvelle Vague. A sonoridade é parecida. Foi a segunda apresentação deles e já em um clima muito intimista.
Flor de sal começou tímido e não é que no do meio para o final o público foi se deixando levar pela música. No fim, todos já estavam de pé e rolou até um revezamento de passinho. Aí está uma das vantagens de se romper a relação tradicional de palco e plateia. Já encantados com o cenário, o povo se deixou levar mesmo. Foi uma delícia!
As talks (pequeninas palestras de 30 min) começaram também com um certo atraso. A primeira a falar foi Carlota Mingolla, ativista e pesquisadoras de tendências na política. Qual a surpresa? Ela que veio de São Paulo escolheu três cases de renovação na representação para comentar. Um deles é de Belo Horizonte, “daqui pertinho”, como ela disse. Foi a campanha coletiva que elegeu as vereadoras Áurea Carolina e Cida Falabella.
Fiquei com uma pulga atrás da orelha: se a ideia era falar desse tipo de renovação, por que a curadoria do MECAInhotim não pensou que poderia ter convidado alguém que participou desse movimento histórico em Minas (que pelo visto tem ecos pelo Brasil) para falar? Além da campanha, Carlota também comentou com elogios o modelo de gestão que Áurea e Cida implementam na Gabinetona.
Gabriel Klein, diretor criativo da Vice Brasil, foi o segundo a pegar o microfone para a conversa com o público. As pessoas já se espalhavam pelo gramado nas redondezas do Penetrável de Oiticica. O tema era comunicação. Advinha se eu não estava curiosa? Muito.
Como Gabriel tem certeza de que todos os problemas do mundo são de comunicação, vai lançar um livro sobre isso no segundo semestre. “A vida é um processo de comunicação contínuo e em permanente expansão”, disse. Segundo a teoria dele, tudo se divide em conteúdo e conexões. Os meios habitam uma intercessão disso. “A informação é um dado solto. Todo meio evolui a comunicação até extinguir-se”. Foi interessante mas o tempo foi curto demais para tudo o que ele parecia ter que dizer.
Depois das duas primeiras experiências com as talks comecei a achar que meia hora seria sempre pouco. Resolvi mudar totalmente e fui andar de balão. Sim, balão aqueles enormes. Um dos patrocinadores do Meca, o Taste the City oferecia um micro passeio. Os tours eram para ter começado às 15h mas, por causa do vento, também atrasaram. É um sobe e desce bem rápido – cerca de dois minutos para chegar a 40 metros de altura e depois descer. Suficiente para vivenciar algo inédito, diferente e bem bonito.
Se pensarmos que o MECAInhotim é um evento forasteiro, deve ter de gente que nunca vivenciou o parque. Para eles, sem dúvida, também foi a chance de viver algo inédito, diferente e bem bonito.