Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Quem é MC Tha e por que foi ousado ela aparecer no Bar da Neca?

Funkeira paulista foi convidada pela 99 para inaugurar um novo parklet, espaço de convivência no espaço urbano no bairro Carmo

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MC Tha

Que há uma renovação em curso na música brasileira é inegável. Não se pode negar, também, que essa troca de pele passa por estilos que até então eram vistos com preconceito por boa parte do público. Especialmente os amantes da MPB. Sim, as recentes surpresas brotam muito mais do funk, do rap e trazem a reboque reflexões importantes para a sociedade. As influências da MPB estão lá, mas a coisa já é outra.

MC Tha é um caso clássico disso. A jovem cantora de 25 anos foi a atração escolhida pela 99 (sim, o aplicativo!) para marcar a inauguração de um parklet na região de bares da rua Pium-I. O espaço de convivência, assinado pelo artista urbano Thiago Alvim, fica bem em frente ao Bar da Neca.

MC Tha na inauguração do Parklet 99 em BH. Foto: Bárbara Pereira/Divulgação

Novas conexões

Quem conhece aquela região do bairro Carmo sabe o quão tradicional é. Por isso, quando MC Tha inaugurou o espaço que propõe a substituição de uma vaga de estacionamento por mais convivência, ela sintetiza, também, característica importante dos artistas da geração dela. Em resumo: é uma arte com causa. Além disso, feita a partir de relação estreita com as respectivas comunidades. No caso dela, principalmente, a turma LGBTQIA+.

MC Tha nem bem ocupou o parklet 99 e já foi se desculpando com os fãs. Como o show era surpresa, não deu para avisar pelas redes sociais. O objetivo, porém, parece ter sido ir além de agradar os fãs, mas cutucar zonas de conforto. Levar o funk de MC Tha para quem frequenta o Bar da Neca, em dia de futebol, é quase desbravar um terreno novo. Sendo assim, MC Tha cantou e tocou para marcar e abrir caminhos.

 

MC Tha na inauguração do Parklet 99 em BH. Foto: Bárbara Pereira/Divulgação

 

Paulistana

Ela vem do bairro paulistano homônimo a uma cidade bastante conhecida dos mineiros, Tiradentes. No caso, Cidade Tiradentes, o bairro, fica na zona leste da cidade de São Paulo. Já tem dez anos que ela constrói a carreira artística. Este ano, inclusive, esteve entre as atrações do MECAInhotim.

Começou a cantar funk aos 15 anos de idade e, na época, foi a primeira mulher a assumir o microfone nos bailes da cidade dela. No processo de amadurecimento – musical e pessoal – incorporou outras batidas ao estilo e pouco a pouco foi chamando atenção de outros artistas.

Lançou o primeiro disco em 2019, embora desde 2014 disponibilize singles e EPs na internet. O recorde de reprodução no Spotify, por exemplo, é Céu Azul, gravada com Jaloo, com mais de 2 milhões de streamings. O cantor paraense, por exemplo, também é convidado de Onda, uma das faixas do novo disco junto com Felipe Cordeiro. Ou seja, mesmo sendo de São Paulo, MC Tha tem conexão aberta e intensa com o norte do Brasil. Essa influência do tecnobrega é clara na sonoridade de MC Tha.

O disco

Rito de Passá tem dez faixas. Nas letras, a cantora e compositora, pede abertura de caminhos em um claro flerte com o sincretismo religioso da Umbanda, na canção Abram os caminhos. Fala também de romance (Clima quente e Coração Vagabundo) e empoderamento feminino (Avisa lá e Comigo ninguém pode). “Eu sou guerreira que canta / Encanta e vence a guerra / Eu sou o passo mais largo / Que já andou nessa terra / E comigo ninguém pode / Porque meu Santo é forte / E comigo ninguém pode / Porque meu povo é forte”, canta ela em Comido ninguém pode.

MC Tha roda o Brasil na companhia da produtora musical Malka, que é travesti. A produtora musical também trabalha com artistas como MC Dellacroix e a atriz Veronica Valentino.

Em BH

O show durante a inauguração do Parklet da 99 em Belo Horizonte foi apenas uma degustação. O evento, realizado pelo aplicativo de mobilidade, fez parte do Sarará Sessions, uma série de shows para divulgação do festival que será realizado em agosto na Esplanada do Mineirão. Em geral, são convidados artistas que, em uma medida ou outra, se conectam com os propósitos celebrados pelo evento.

No caso, o que o parklet da 99 tem a ver com isso? Bem, trata-se de um espaço para se celebrar a convivência entre iguais e, principalmente, se for possível, entre diferentes. Para ressaltar isso, a marca convidou para a inauguração alguém que, aparentemente, não tem nada a ver com quem frequenta a região.

Em outras palavras, a 99 fez de uma ação de marketing um exercício de convivência com a diferença. Junto disso, distribuiu copos ecológicos, sementes para serem cultivadas, ofereceu trabalho para pessoas trans e mostrou como a renovação da música brasileira também passa por uma reciclagem da consciência sobre o que é – e como é – estar no mundo hoje.

 

Parklet da 99 em BH. Foto: Divulgação 99

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