Primeiro longa do neozelandês Matthew J. Saville, “A Matriarca” está em cartaz no Centro Cultural Unimed-BH Minas
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Em uma análise rápida, a situação que se estabelece como ponto de partida para “A Matriarca”, filme que entrou em cartaz na capital mineira nesta quinta-feira, 4 de abril, poderia até remeter à que dá a largada para “Os Rejeitados”, de Alexander Payne. Assim, temos três pessoas não tão íntimas assim que passam a conviver sob o mesmo teto – e, de certa forma, em um local afastado. Em “Os Rejeitados”, um estudante é obrigado a passar o recesso de final de ano no internato, junto a um professor rabugento e a uma funcionária da instituição.
No filme do neozelandês Matthew J. Saville, por seu turno, o trio é formado por um jovem, Sam (George Ferrier); uma enfermeira, Sarah (Edith Poor), e a matriarca do título, Ruth (Charlotte Rampling). No caso, Sam é neto de Ruth, mas os dois nunca tiveram contato. Assim, temos três pessoas não tão íntimas assim que passam a conviver sob o mesmo teto, em uma casa fora da cidade.
Reunidos pelo acaso
Ocorre que Ruth – que, no passado, foi uma famosa correspondente de guerra – está com a perna quebrada, e, por isso, dependente de uma cadeira de rodas. Não só. Ela também precisa da ajuda dos outros para ir ao banheiro, por exemplo. Na verdade, de modo geral, a saúde dela está bem debilitada, e, assim, quer, nesta etapa da vida, ficar próxima à família (ou ao que restou dela). A enfermeira, claro, vai como acompanhante.
Já Sam, que aprontou algumas confusões na escola, é obrigado pelo pai – Robert (Marton Csokas) – a permanecer por um período lá. Desde o início, o convívio de Sam e Ruth não é dos mais fáceis. A começar pelo fato de a personagem de Charlotte Rampling não ser das mais simpáticas. Ao contrário.
Traumas
Sam, por seu turno, carrega consigo vários traumas, sendo o suicídio da mãe o principal deles. Aliás, ele próprio pensa em acabar com a própria vida. De início, Sam opta por se isolar das outras duas habitantes da casa (Ruth e Sarah), mas não consegue por dois motivos básicos. Primeiramente, porque Sarah precisa de momentos de folga. E, depois, pela própria insistência de Ruth em fazer com que o neto se faça presente em cuidados, como preparar a bebida de sua preferência ou levá-la para fazer as necessidades.
Assim, aos poucos, Sam vai sendo obrigado a estreitar a relação, ainda que bastante relutante. Já Ruth, apenas no avançar da trama vai dando um esgar de sorriso. Em dado momento, matriarca até faz um movimento para quebrar a frieza, ao convocar os amigos do neto para ajudar a aparar o mato, que tomou conta do entorno da casa. Em contrapartida, permite que eles organizem, ali, festa, regada a muita bebida. Paulatinamente, outros segredos vão sendo revelados.
Experiência própria
Com distribuição da Pandora Filmes e classificação indicativa de 16 anos, o filme é a primeira investida de Saville, que também assina o roteiro, na direção de um longa. No material relativo ao filme enviado à imprensa, Saville conta que partiu de experiências pessoais para criar “A Matriarca”. “Quando eu tinha 17 anos, minha avó alcoólatra quebrou a perna e se mudou da Europa para morar na Nova Zelândia, na casa da família. Ela viveu uma vida incrível, esteve na Espanha durante a Guerra Civil Espanhola, enfrentou a África e bebeu gim suficiente para conservar um elefante”.
Na verdade, neste mesmo material ele conta que, quando a conheceu, ela bebia dois terços de uma garrafa de gim todos os dias. “Ela era afiada, charmosa, engraçada e rude. Ela levou todos nós às lágrimas, mas também às gargalhadas”. Em “A Matriarca”, Saville partiu dessas experiências para criar um filme que “trata de alguns dos temas mais fortes a que somos confrontados como humanos”. São eles: vida, amor, morte, tristeza, vergonha e a nossa própria mortalidade. “Assim, este é um filme sobre a escolha que fazemos como humanos de viver e morrer, como lidamos com a dor e como aceitamos vida”.
Rampling
Ainda neste material, o diretor e roteirista confessa que desde o início queria a britânica Rampling, atualmente com 78 anos, no papel principal. “Eu nunca tive certeza de que poderia convencê-la, mas também me senti confiante de que, se ela lesse o roteiro, poderia se interessar”. Já a atriz confessa que o roteiro chamou sua atenção logo que começou a ler. Tal qual, o fato de ser uma produção independente a animou. “Eu gosto de fazer filmes com uma equipe de produção menor também. Você sente que pode embarcar em uma aventura de uma maneira que você não pode com uma grande produção”.
Por fim, e do mesmo modo falando ainda do material de divulgação, Saville aponta que, mesmo partindo de experiências pessoais, “A Matriarca” traz uma história universal. “Espero que o filme seja uma experiência transformadora para o público. A história contém temas sombrios, mas acho que as pessoas sairão com um sentimento de esperança e acreditando que podemos superar as coisas que nos separam”.
“Temas sombrios”
Um ponto da fala do diretor merece ser colocado em relevo: “temas sombrios”. É fato: a história de “A Matriarca” abarca temas muito pesados, alguns, já citados aqui, como o suicídio. Certo, o diretor entende que o drama “não tem nada de sentimentalismo”, e, sim, está correto neste sentido. Mas, definitivamente, não é um filme para o espectador chegar ao fim se sentindo leve. De todo modo, o público ao qual se destina não está preocupado com isso e tampouco está à procura de apenas diversão quando se dirige a uma sala de cinema. Além do mais, a presença de Charlotte Rampling é sempre um convite ao espectador cinéfilo.
Confira, abaixo, o trailer
Serviço
“A Matriarca”
Direção e roteiro: Matthew J. Saville
País: Nova Zelândia
Ano: 2021
Duração: 94 minutos
Em cartaz no Centro Cultural Unimed-BH Minas, em único horário (18h30) (*)
*A sessão citada é inicialmente válida até o dia 8 de abril, segunda, e no dia 10, quarta (visto que a programação dos cinemas sofre alteração toda quinta-feira). No dia 9/4, às 19h, as Salas 1 e 2 do Cinema do Centro Cultural Unimed-BH Minas exibem o filme “As Linhas da Minha Mão”, de João Dumans. As exibições serão seguidas por um bate-papo no Café do Centro Cultural Unimed-BH Minas com a presença do diretor.
*De toda maneira, é aconselhável, ao interessado, conferir a programação no site do MTC ou no perfil do Instagram antes de sair de casa.