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Conheça Martha Batalha

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Conheça os três romances publicados por Martha Batalha, autora do livro “A vida Invisível de Eurídice Gusmão”

Por Helena Tomaz | Assistente de Conteúdo

Apesar de ter nascido em Recife e atualmente residir nos Estados Unidos, é sobre o Rio de Janeiro que escreve Martha Batalha. Depois de morar por anos na capital fluminense, onde atuou como jornalista em grandes redações, é à literatura que ela se dedica já há algum tempo.

Martha Batalha. Foto: Jorge Luna
Martha Batalha. Foto: Jorge Luna

Curiosamente, “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, primeiro romance da autora, recebeu muitos “nãos” antes da publicação por aqui – muito por conta da crise que assolava o mercado editorial à época. No entanto, o romance foi levado à Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, e, por lá, o material chamou atenção da editora Sührkamp, que decidiu publicá-lo. 

Dessa forma, quando chegou às terras tupiniquins, “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão” não só estava vendido para dez países como teve os direitos autorais adquiridos para o cinema, como bem ressaltou a revista “Época”, em uma entrevista com a autora. 

Chuva de Papel

É fato que os três livros publicados por Martha Batalha retratam o Rio de Janeiro quase como um personagem das narrativas. Se, ao longo dos romances iniciais, essa característica cresce pouco a pouco, em “Chuva de Papel”, mais recente lançamento de Martha, ela se mostra mais forte do que nunca. 

Isso porque Joel, personagem principal da trama, havia passado mais de 50 anos nas redações dos jornais cariocas, com orgulho de “conhecer o Rio por metro quadrado”, quando, já aposentado, é forçado a ficar em casa. 

“Em casa”, aliás, é modo de dizer: depois de fraturar a perna em uma espécie de acidente, ele – que vivia em quartos de pensão – precisa se hospedar no apartamento de Glória, uma senhora – também aposentada – com personalidade oposta à dele. Para piorar a situação, tudo isso ocorre em meados de 2020. Ou seja: logo em seguida, os dois sofrem o impacto da necessidade do isolamento social em função da pandemia de covid-19. 

 Sem novos propósitos, o Joel com o qual nos deparamos em “Chuva de Papel” vive, essencialmente, das memórias do passado. Tendo trabalhado a vida toda com um jornalismo policial sensacionalista, Joel dtraz, dentro de si, além do orgulho pelos anos dedicados à profissão, muitos traumas. Marcas decorrentes das décadas exposto à violência que assola a cidade maravilhosa. 

Esse contraste entre a violência e a beleza do Rio, aliás, é totalmente intencional. Em entrevista ao Canal Curta, a autora explica: “Essa história surgiu de uma pergunta: ‘Como se consegue viver em uma cidade tão intensa quanto o Rio de Janeiro?’ O Rio de Janeiro é uma cidade muito intensa. É uma cidade de altos e baixos, e eu pensei em um protagonista que fosse ser a pessoa que mais teve contato com essa intensidade da cidade, que é um velho repórter policial”. 

Nunca Houve um Castelo

Se em “Chuva de Papel” o leitor pode ter contato com alguns momentos das últimas cinco décadas de história  do Rio de Janeiro, em “Nunca Houve Um Castelo” Martha Batalha volta para um passado ainda mais distante da história da cidade. 

Isso porque o segundo romance de Batalha, publicado em 2018, passa por três gerações da família Jansson ao longo de 110 anos. O pontapé da história, aliás, é baseado em fatos reais: Johan Edward Jansson, cônsul da Suécia no Brasil, construiu, em 1904, uma casa um tanto quanto exótica na região que, posteriormente, viria a se tornar o bairro de Ipanema. Exótica, inclusive, pode ser uma boa palavra para definir, para além da casa dos Jansson, a relação da família.

Capa de Nunca Houve Um Catelo. Editora Companhia das Letras
Capa de Nunca Houve Um Catelo. Editora Companhia das Letras

As aventuras dos três filhos do casal, o estranhamento de estrangeiros em terras tropicais e as transformações sociais do século XX vêm acompanhados do bom-humor característico da escrita de Martha Batalha. Nessa história, por vezes as palavras escritas no papel conseguem arrancar boas risadas do leitor – feito que nunca deve ser subestimado quando se trata de literatura. 

A vida invisível de Eurídice Gusmão

A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, romance de estreia de Martha Batalha, é possivelmente o livro mais conhecido dela. 

Apesar de ser a protagonista da história de Martha, a personagem Eurídice Gusmão não exerce o mesmo papel na própria vida. Casada desde jovem, Eurídice abandonou os próprios desejos para seguir o script da mulher de classe média dos anos 1950: viver para a casa, o marido e os filhos. 

Já Guida Gusmão, irmã de Eurídice, segue o caminho contrário. Em busca de uma vida mais livre: foge da casa dos pais sem olhar para trás nem deixar rastros. Ainda assim, não se encontra feliz. 

Capa de "A vida Invisível de Eurídice Gusmão". Editora Compnhia das Letras
Capa de “A vida Invisível de Eurídice Gusmão”. Editora Companhia das Letras

Nessa história, Martha Batalha olha para a beleza do ordinário. E, exatamente por isso, durante a leitura, o leitor (ou, principalmente, a leitora) fatalmente vai detectar traços de Guida e de Eurídice em mulheres do próprio entorno. 

Ao olhar para o potencial guardado em Eurídice, Batalha parece desvelar o potencial escondido de milhares de brasileiras que seguiram o mesmo caminho que ela. Ao mesmo tempo, em nenhum momento o romance perde a leveza e o bom-humor característico da escrita de Martha Batalha, o que faz com que se destaque ainda mais.

Nas telas

Somado às reverberações do próprio livro na mídia, essa história se tornou ainda mais conhecida em função de sua adaptação para o cinema. Lançado em 2019, com direção de Karim Aïnouz, o filme traz Carol Duarte e ninguém menos que Fernanda Montenegro compartilhando o papel de Eurídice Gusmão. Já Julia Stockler é quem dá vida a Guida. O papel de Antenor, marido de Eurídice, ficou a cargo de Gregório Duvivier. 

Assim como o livro, o filme mistura brutalidade e delicadeza, características somadas a uma direção de arte primorosa. Dessa forma, a produção acabou sendo a escolhida pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil no Oscar daquele ano – no entanto, acabou não passando para a seleção final da Academia de Hollywood. Para quem espera encontrar a mesma história no livro e no filme, vale fazer um alerta: a narrativa é bem diferente na adaptação.

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