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Teatro

Maria Cutia viaja o mundo com canções da infância 

Repertório do novo espetáculo do Maria Cutia tem músicas da Colômbia, Tonga, França, Benin e Holanda

Carol Braga | Editora

Os moradores da rua João Gomes, no Bairro Sagrada Família em BH, não devem imaginar. Atrás de um vibrante portão vermelho, o Grupo Maria Cutia tem colocado sonoros fragmentos do planeta inteiro. É ali, no espaço carinhosamente chamado de Toca da Cutia, que toda semana rolam os ensaios de Mundos, o nono espetáculo da companhia. A estreia será no domingo, dia 23, em sessão única no Sesc Palladium, às 17h. 

Mundos chega com novidades mas, também, com bastante fidelidade à trajetória do grupo. Fundado em 2006, o Maria Cutia mantém desde o início da carreira uma profunda pesquisa sobre a arte do palhaço e o teatro popular de rua. Assim, com o primeiríssimo Na roda, de fato, rodou o país. Depois, com “Como a gente gosta”, com direção de Eduardo Moreira do Grupo Galpão, a investigação se voltou para o universo de William Shakespeare. 

Embora a música sempre tenha marcado presença, com o passar dos anos ela foi ganhando cada vez mais protagonismo. Em vôos solos ou coletivos, o Maria Cutia, a princípio explorou a era do rádio (Ópera de Sabão), o cancioneiro de Chico Buarque (Francisco e Para Chicos), diversos outros nomes da MPB (Auto da Compadecida) além de um repertório autoral (Aquarela). Agora, chegou a hora de viajar um pouco mais. 

Viagens sonoras

Mundos, que tem direção de Eugênio Tadeu, é um mergulho no repertório popular infantil dos cinco continentes. “Estamos trabalhando com canções da infância de vários lugares do mundo, com o olhar do nosso imaginário e também brincando muito”, conta o ator Hugo da Silva. O repertório tem músicas da Colômbia, Tonga, França, Benin e Holanda. 

A montagem nasce de um encontro. Em 2021, o diretor Eugênio Tadeu fez a supervisão artística de Aquarela, montagem só com músicas autorais do Maria Cutia. Deu química e, ainda durante a pandemia, eles mantiveram encontros criativos. “E aí quando as coisas começaram a voltar ao presencial, a gente falou: ‘vamos começar Tadeu? Fazer uma obra nova?’ Então, começamos a pensar nesse repertório”, lembra Mariana Arruda.

Grupo Mari Cutia Foto Tati Motta
Grupo Mari Cutia Foto Tati Motta

Encenação

Pela primeira vez os atores do Maria Cutia estarão sem instrumentos musicais em cena. A princípio os multi-instrumentistas Tinho Menezes e Felipe Fleury executam todas as canções e intervenções sonoras. Ou seja, eles se revezam ao vivo no violão, escaleta, teclado, ukulele, percussão, flauta, cajón e trompete.

No palco – ou na rua – Mariana Arruda, Leonardo Rocha, Hugo da Silva e Dê Jota Torres exploram todas as possibilidades de uma caixa octogonal, apelidada de garalhufa. Dela, saem diversos elementos para estimular a criatividade da plateia. 

“Cada cena é completamente diferente da outra”, conta Leonardo Rocha, o Nado, que concebeu o cenário. Essa caixa mágica recebeu as pinturas do artista plástico Rai Bento. “Tem várias linguagens. Tem brincadeiras como o traca traca, dança. Imagina, a gente dançando. Se estiver muito ruim, colocamos o nariz de palhaço e aí já funciona”, brinca Nado. 

Exercícios para o imaginário

Mundos é mesmo um convite para a imaginação. Os atores brincam o tempo todo com os objetos de cena, enquanto cantam. A preparação vocal é de Babaya, é preciso dizer. “É um mundo de muitas canções, de diversas infâncias. Infâncias desconhecidas. Línguas desconhecidas. Está sendo um encontro bem bonito”, afirma o ator Dê Jota Torres. 

Ele, que participou da montagem de Auto da Compadecida, com direção de Gabriel Villela, integra o elenco do Maria Cutia pela segunda vez. Dê Jota se encanta ao explorar o vasto universo das manipulações. “Desse estado lúdico, imaginativo”, completa. 

Entretanto para o diretor Eugênio Tadeu, a experiência do processo criativo de Mundos fica marcado pela experiência coletiva. “Cada um trouxe uma ideia, a gente foi colocando ponto por ponto. O que vamos fazer? Como será o arranjo? E a estrutura? A composição da cena? Então, pensamos tudo juntos. Ao mesmo tempo que dirijo, sou dirigido. Porque como eles são brincalhões e eu também, isso casou”, diz. 

Repertório

Pesquisar repertório infantil internacional faz parte da vida de Eugênio Tadeu há tempos. Além do trabalho no Duo Rodopião e no grupo Serelepe, ele também se dedica a catalogar canções da infância de vários países. Então, a dinâmica foi mais ou menos assim: o diretor apresentava a música e os atores faziam experimentações. 

Foram muitos testes até chegar às sete escolhidas. São elas “Le Berceuse Du Mono” (Benin), “Ana Latu” (Tonga – Oceania), “Berend Botje” (Holanda), “Inelê” (Indonésia), “Hiraita” (Japão), “Le Petit Ver de Terre” (França), “Cocorobé” (Colômbia). Todas as músicas são domínio público e do folclore de cada país. Por fim, para não deixar o Brasil totalmente de lado, entrou “Canto do Mundo”, especialmente composta pelo grupo Maria Cutia para o espetáculo.

Mundos é um projeto em correalização com o Sesc e também com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. O patrocínio é da MGS. 

Serviço

Grupo Maria Cutia estreia “Mundos”

23 de abril, domingo – 17h

Grande Teatro do Sesc Palladium – (Rua Rio de Janeiro, 1046 – Centro)

Ingressos a R$30 e R$15 – Sympla ou na bilheteria do teatro

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