O ator e contador de histórias Marcelino Ramos ocupa o Teatro de Bolso do Sesc Palladium para três apresentações
Patrícia Cassese | Editora Assistente
A partir da sexta, 6 de setembro, e até o domingo, 8, Marcelino Ramos adentra o palco do Teatro de Bolso do Sesc Palladium para três apresentações de um espetáculo que protagoniza há quase 15 anos: “Causos de Brasêro”. Em cena, ele mescla causos e músicas que estão no imaginário popular, como “Chalanga”. Ao Culturadoria, o ator e diretor credita o êxito da empreitada à diversidade do roteiro. “Tem vários causos com temáticas diferentes. A gente trabalha, por exemplo, o causo épico, dentro até da literatura de cordel. Do mesmo modo, o causo cômico, o causo romântico… Então, tem toda essa gama de diversidade”.
Marcelino lembra que, nestes quase 15 anos de estrada, já apresentou “Causos de Brasêro” em mais de dez capitais. “Estivemos em mais de 13 estados. E a peça continua sempre atual, porque, como tem muito improviso – porque é uma conversa mesmo, com a plateia – então, a gente fala das atualidades”. Um outro ponto que ele levanta é que todo brasileiro adora ouvir e contar causos. No entanto, o mineiro extrapola um pouco neste quesito. Assim, pode ser considerado até mesmo “viciado”.
Em cena
No espetáculo, Marcelino conta, por exemplo, histórias de amor, como “Paixão de Toda a Vida”. Tal qual, outras épicas e fantásticas, como “O Matuto Juvenal”, “O Causo da Mula”, “O Cavalo e a Cerveja”, “Conceição de Dico Ramos”… E, ainda, histórias que comprovam a esperteza do homem mineiro diante das adversidades, como no “Causo do Pão de Queijo”.
“Além dos casos autorais, que são da minha pesquisa sobre oralidade, sobre mineiridade, trabalho com diversos autores. Então, tem Chico Pedrosa, Tadeu Martins, o grande Olavo Romano, o Abdias Campos… E tem também a parte das músicas, do cancioneiro popular. ‘Chalana’, ‘A Volta da Asa Branca’, ‘Comitiva Esperança’… E não poderia esquecer de ‘Romaria’, que é quase que uma oração do Brasil. Enfim, são músicas que estão no nosso imaginário”.
Homenagem a Olavo Romano
Simpático, Marcelino acaba por contar um causo à repórter do Culturadoria. Precisamente, “Segredo”, de Olavo Romano. “O grande Olavo Romano! Aliás, está fazendo quase um ano que ele nos deixou. Mas deixou um legado grande”. Bem, impossível recontar, em palavras escritas, sem o tom interpretativo usado por Marcelino, o causo. Mas ele fala de um traição ocorrida em um lugarejo, e que é contada, com ares de fofoca, por Chiquita Rafaela, viúva do falecido Rafael Matoso, a uma comadre. Porém, aos gritos, já que as personagens não estavam exatamente próximas. “No outro dia, todo mundo dava conta do casal apanhado atrás da moita de bambu. O causo era quase sempre o mesmo – o nome dos suspeitos é que variava”, diverte-se.
Marcelino Ramos
Marcelino Ramos nasceu na cidade de São Miguel do Anta, zona da mata mineira. Sobre a paixão por causos, ele recorda que, ainda em um tempo recente, nas noites mais frias, uma cena comum era a de pessoas reunidas à volta da fogueira. Ali, se esquentavam no brasêro. E aproveitavam para festejar a vida contando histórias de assombração, de valentia e de beleza. Tudo na base da viola e, claro, de uma boa cachaça.
“É este momento excepcional, cada vez mais raro nos dias de hoje, que os causos revivem. Assim, o ambiente do espetáculo caracteriza-se de forma simples e espontânea”, diz. Marcelino acrescenta que a ideia é transportar o público novamente para a beirada daquelas fogueiras de noites frias. “(Tal qual) trazer de volta os mesmos sorrisos e alegrias de outrora”.
Serviço
Causos de Brasêro
Onde. Teatro de Bolso do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro)
Quando. Dias 6, 7 e 8 de setembro. Sexta e sábado, às 20h, e domingo, 8, às 19h
Quanto. Ingressos a venda pelo Sympla.