No Aniversário de 10 Anos do Teatro CCBB BH, Luna Lunera apresenta peça profunda e multifacetada que aborda escolhas e transformações. Temporada vai até 25/09.
Por Carol Braga | Editora
“Acho que fui o primeiro ator a pisar neste palco”, diz Cláudio Dias, integrante da Cia Luna Lunera, enquanto técnicos passam carregando refletores e a cenografia ganha os últimos retoques. De fato, é inevitável não passar um filme pela cabeça de todos que participaram da inauguração do teatro do Centro Cultural Banco do Brasil, há dez anos. Agora o momento é outro, e a peça também.
Aquela que eu (não) fui é mais um passo ousado na trajetória do Luna Lunera. Com dramaturgia de Diogo Liberado, o espetáculo tem quatro capítulos, dirigidos respectivamente, por Vinícius Arneiro (RJ), Marina Arthuzzi (BH), Lucas Fabrício (BH) e Isabela Paes (BH). A montagem faz temporada até 25 de setembro, sexta a segunda, às 20h.
“É uma maneira que a gente encontrou de, ao mesmo tempo, perverter as formas de trabalho que a gente tradicionalmente desenvolve e preservar um pouco dessa multiplicidade de olhares na criação”, diz Marcelo Soul, também integrante do Luna e coordenador de produção da montagem.
Rupturas
Aquela que eu (não) fui leva para a cena personagens que vivem momentos de rupturas, quando se encontram diante de bifurcações e precisam escolher um caminho. Seja pelo desejo de querer simplesmente mudar por vontade própria ou em função do outro. “Então a gente brinca, por exemplo, com esses pequenos momentos onde a gente tem que vencer o medo, criar coragem e seguir por algum caminho, seja pelo seu desejo do outro ou do universo”, acrescenta Cláudio Dias.
Assim, a cena se desenrola em um grande quadrado onde os elementos são, aos poucos, revelados. “O primeiro capítulo dentro de uma casa, num café da manhã. No segundo capítulo a gente vai para um restaurante. O terceiro para um parque. E o último para um cemitério. Então, o espetáculo vai avançando pelos lugares, íntimo, aberto, até astral, talvez”, completa.
Entre os elementos da cenografia criada por Ed Andrade e Morgana Mafra está, por exemplo, uma imensa raiz. “Como tem essa multiplicidade de direções e de capítulos, o Ed entendeu que poderia ser um elemento que poderia causar, ao mesmo tempo, um estranhamento e também, de certa forma, uma unificação desses diferentes modos que cada capítulo apresenta”, explica Marcelo Soul.
Encontro de gerações
Além de Cláudio Dias e Marcelo Soul, fundadores e Luna Lunera, o elenco de Aquela que eu (não) fui tem a participação das atrizes Joyce Athiê e Renata Paz. “Sou fã do Luna de assistir várias vezes a mesma peça”, conta Renata para traduzir o quanto a oportunidade tem sido especial para ela. “Estamos experimentando, se jogando, se aventurando, aprendendo muita coisa com os meninos. É uma escola, eles são muito generosos de compartilhar conhecimento, compartilhar sala de ensaio”, acrescenta Joyce Athiê.
“Acho que a gente tem um desejo de trocas com quem vem antes de nós e com quem está em novas pesquisas, buscando uma interatividade e também deixando alguma coisa do nosso legado”, diz Zé Walter Albinati, também integrante, fundador do grupo e assistente de direção da montagem. Para ele, poder contar com uma equipe com esse perfil e esse tamanho é algo muito precioso.
“Quando a gente chegou, o Luna já estava aí na festinha. É muito bonito estar junto agora também, nesse momento”, diz o diretor Lucas Fabrício.
Desafios
Aquela que eu (não) fui é a nona montagem da carreira do Luna Lunera. O grupo foi formado em 2001 pelo grupo de formandos em teatro da Fundação Clóvis Salgado. Desde as primeiras montagens (Fuleirices e Fuleiró, em 2000 e Perdoa-me por me traíres, em 2001), percebe-se uma busca constante por desafios.
“O Luna sempre trabalhou com outras noções de hierarquia. E aí, no momento em que a gente se dispõe a trabalhar com um texto, que já hierarquiza as coisas, a gente quebra colocando quatro diretores e texto. Como eu sempre falo, é um processo que está sendo muito difícil e muito lindo. Tem muito aprendizado”, diz Isabela Paes, integrante do grupo e também diretora de um dos capítulos.
Vinícius Arneiro, o único diretor de fora de Belo Horizonte, conta que a experiência com a Cia Luna Lunera é também uma oportunidade de pensar o que são os pactos democráticos. “Porque é um trabalho muito aberto, são quatro direções. Então, a gente precisa negociar de uma maneira muito doce, mas honesta. É um exercício lindo de se fazer, importante, e, às vezes, difícil. Nada está dado. A gente tem que estar o tempo todo se pensando e repensando como se vê ali”, comenta.
Ajuste fino
Depois de ensaiar cada capítulo separadamente, atores e diretores se reuniram pela primeira vez no palco do Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil faltando dois dias para a pré-estreia. “Onde imaginamos que poderia ser um conflito, na verdade é uma identificação. Agora, hibridizamos, recolamos a fragmentação que a gente se propôs a fazer no início”, comenta a diretora e iluminadora, Marina Arthuzzi.
Sendo assim, quando as peças do quebra-cabeça começam a se juntar até que, enfim, chega o momento do encontro com a plateia. E, como diz Arthuzzi, ainda “falta esse ajuste fino com o público”.
Espetáculo “Aquela que eu (não) fui” – Cia Luna Lunera
Data: de 25 de agosto a 25 de setembro
Horário: de sexta a segunda, às 20h
Local: Teatro I do CCBB BH
Classificação Indicativa: 14 anos
Duração: 105 minutos
Ingressos: à venda no site bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB BH
R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada para estudantes, idosos e clientes do Banco do Brasil com cartão Ourocard)