Luís Melo divide a cena com Alex Bartelli e Andréia Nhur em Mutações, em cartaz no Sesc Palladium pelo Festival Teatro em Movimento. Peça convida o público a fazer reflexões sobre os fluxos da vida a partir de ensinamentos milenares
Por Carol Braga
O ator Luís Melo diz não ter dúvidas. Quando decidiu se mudar de São Paulo, onde viveu quando fez parte do CPT, sob a direção de Antunes Filho, se não tivesse voltado para a terra natal, Curitiba, certamente estaria morando aqui, em Minas. “Todo mundo faz arte aí, de uma maneira ou de outra. Na cozinha, em tudo. É um universo! O bom gosto, o nível artístico, tanto da arte mais erudita quanto da arte popular”, elogia.
É com essa energia e o coração aberto que ele chega a Belo Horizonte para apresentar “Mutações”, espetáculo que marca o retorno do ator aos palcos depois da pandemia. A peça faz parte da programação do Festival Teatro em Movimento, e fica em cartaz no sábado (30) e domingo (31), no Sesc Palladium. A montagem tem direção de André Guerreiro Lopes e dramaturgia Gabriela Mellão. Melo divide a cena com Alex Bartelli e Andréia Nhur.
Do jogo para o palco
O espetáculo é uma livre adaptação do I Ching, o antigo livro chinês usado para consulta e orientação sobre diversos aspectos da vida. Mas Luís Melo garante: não é preciso qualquer conhecimento prévio sobre o Livro das Mutações ou qualquer outro ensinamento oriental. A montagem tem conquistado as plateias por tratar, de maneira poética e objetiva, da vida. “As pessoas saem do espetáculo falando frases. É muito engraçado”, se diverte.
A ideia de levar o jogo milenar para o palco foi do ator Alex Bartelli, que, daí, convidou André Guerreiro Lopes para a direção. Luís Melo conta que sempre quis trabalhar com André, muito interessado pelas interseções com outras artes que marcam a carreira do encenador. A proposta da dramaturgia é mergulhar nos princípios e em todas as simbologias do I Ching. Sendo assim, tudo vira elemento para a cena. “Tudo é dramaturgia: o gesto, o movimento, a cenografia, a luz”, comenta.
Dramaturgias
No palco, Luís Melo interpreta o ancião, enquanto Alex Bartelli, o jovem. Já Andréia Nhur dá vida à personagem Ela, responsável pelo equilíbrio das energias Yin e Yang que fazem parte do I Ching. “Foi um desafio muito grande. Como colocar a embocadura para dizer esse texto de modo a que não ficasse piegas? As coisas são muito claras, objetivas, e marcam porque estão muito próximas da vida”, completa o ator.
A peça explora os ciclos da vida, as transformações que sofremos e a busca por equilíbrio em um mundo em constante mutação. Como é a primeira peça que Luís Melo faz depois da pandemia, ele confessa que tinha alguns receios. “Não sabia que tipo de sequela poderia ter tido da Covid-19. E o maior medo do ator é sempre a parte da memória. Mas foi ótimo. Fomos fazendo essa construção juntos”.
Corpo
Um dos aspectos destacados da montagem é o trabalho de corpo desenvolvido pelo elenco, especialmente por Luís Melo – por sinal, indicado ao APCA pelo papel. Aliás, essa é uma característica muito marcante em toda a carreira do ator. Segundo ele, de fato, o trabalho com o corpo sempre foi algo com o qual teve facilidade, independentemente da tipologia. Melo acredita que o importante é o prazer do movimento.
“(É) Você desenhar com o teu corpo. A palavra, ela vem acompanhada. É tudo junto. Então, é uma coisa que é muito mínima, sutil, mas que marca bastante o público neste espetáculo”, reconhece. Luís Melo tem plena consciência do trabalho feito com o corpo, mas vai além. “Você está gerando signos, não pode fazer um movimento que não tenha absolutamente nada a ver”.
Assim, ele e demais companheiros de elenco trabalharam bastante para encontrar a forma do corpo de cada um se expressar. De acordo com o ator, o que se vê no palco é o resultado de um raciocínio, de uma consciência corporal. “A respiração é que desenha”, completa.
Criação constante
“Mutações” estreou em julho de 2023, em São Paulo, e agora começa a turnê pelo Brasil. A chegada a Belo Horizonte, aliás, é motivo de festa para Luís Melo, já que o ator tem muitos amigos na cidade. Além de já ter trabalhado com a preparadora vocal Babaya e com a coreógrafa Suely Machado, do Grupo Primeiro Ato, confessa que há anos espera o momento certo para uma colaboração com o Grupo Galpão.
“Ainda não realizei um sonho que tenho, que é o de fazer alguma coisa junto. Na verdade, queria passar um tempo lá, no Galpão, só para aprender. Acho que, pelas dificuldades que eles foram passando ao longo dos anos, criaram uma estrutura poderosa através do trabalho”, elogia. Os artistas mineiros, assim como Luís Melo, têm em comum um profundo amor pelo teatro e um desejo incansável de se desafiar. “É isso que mantém a gente. Se for uma coisa que você já domina, pra quê, né?”.
“Mutações”
Data: 30 e 31 de março, sábado às 20h e domingo, às 19h
Local: Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1046, Centro
Ingressos: Plateia 1 – R$75,00 inteira – R$ 37,50 meia / Plateia 2 – R$ 65,00 inteira – R$ 32,50 meia/ Plateia 3 – R$ 42,00 inteira – R$21,00 meia. Compre aqui.
Duração: Aprox. 70 minutos.