Em livro, o escritor mirim Lucca Bragança trata do tema autismo de maneira lúdica, com linguagem leve e acessível
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Desde muito cedo, o estudante Lucca Bragança deixou bem claro ser um garoto dotado de muita, muita imaginação. “Ele sempre gostou de histórias – principalmente as que líamos para ele, nos livros infantis”, conta o pai, o jornalista Alex Ferreira. À medida que foi crescendo, Lucca acabou sendo influenciado pelo amor à literatura – e, consequentemente, pelo hábito da leitura – dos pais. “Assim, comprei para ele obras que marcaram muito a minha infância, como ‘Os Meninos da Rua Paulo’, do húngaro Ferenc Molnár, e ‘Marina Marina’, de Sulema Mendes”.
Não demorou para que os pais de Lucca notam-se o fascínio crescente do menino pelo universo dos livros. “Hoje, ele já tem um gosto próprio e diz que ama o ‘Pequeno Príncipe’, de Saint-Exupéry”, orgulha-se Alex. Mas, mais que se restringir “só” à leitura (o entre aspas deve-se ao fato de que, para as crianças dos tempos atuais, que já nascem imersas no mundo digital, cultivar este hábito já é uma atitude louvável), Lucca quis escrever o próprio livro. Nascia, assim, o recém-lançado “Super-Ação – O Poder dos Sentidos” (Caravana Editorial).
O personagem central
A narrativa acompanha o pequeno Kevin, um garoto portador do transtorno do espectro autista, que emprega a potência de seus cinco sentidos para superar as contrariedades que o cercam. No decorrer da trama, o personagem descobre poderes especiais que o ajudam a lidar com as dificuldades que tem em se comunicar e interagir com os outros. Assim, abrindo caminho para uma vida repleta de significado e alegria.
Ao Culturadoria, Lucca revela que se inspirou em um de seus filmes favoritos, “Esqueceram de Mim” (1990), para criar o nome do personagem principal. “O Kevin do filme (o personagem é interpretado por Macaulay Culkin) é um menino incrível. Ele prova que qualquer criança pode ser um super-herói. Acho que seria bem legal se meu livro pudesse servir de exemplo a outras crianças – e também a muitos adultos”, explica.
Criatividade
Na verdade, Lucca sempre tratou de colocar no papel algumas das histórias que inventava. Assim, os pais se lembram que, ainda no processo de alfabetização, o garoto já registrava, por escrito, tudo o que se passava na cabeça dele. “Chega a ser engraçado rever os escritos dele de dois, três anos atrás, todos com muitas palavras tortas, criadas pela falta de conhecimento da ortografia ainda”, diz Alex, enternecido.
Desse modo, “Super-Ação” nasceu das observações do Lucca em sala de aula. Precisamente, quando a professora de português pediu à classe para notar o mundo e os ambientes ao redor, a fim de descobrir um tema que pudesse virar uma história. No mesmo dia, Lucca chegou em casa dizendo que tinha percebido que um coleguinha de turma, autista, sofria muito com a falta de paciência dos outros alunos. “Ele nos contou que não entendia o motivo”, rememora Alex.
Um super-poder
Na verdade, para Lucca, o que era visto por outros como “limitações”, eram, para ele, algo que tornavam o colega especial. No caso, pelo fato de o menino depender mais das sensibilidades sensoriais para navegar no seu dia a dia. E isso poderia ser uma espécie de “super-poder”. “Achei o ponto de vista dele incrível e fui incentivando-o a desenvolver um enredo em cima disso”. Detalhe: Alex enfatiza que ajudou Lucca a editar o texto sem interferir em nada na trama. Quando ficou pronto, o jornalista entrou em contato com o pessoal da editora Caravana. “Eles gostaram da obra e embarcamos na publicação do livro”.
As ilustrações foram feitas pelo artista Rafael Nunes. “Ele baseou-se nos desenhos originais que o Lucca tinha produzido para a história e nos ajudou a dar vida ao mundo do Kevin. Foi uma sintonia perfeita”, constata Alex. Desde o início, Lucca enfatizou que queria criar uma história que ajudasse a trazer afeto e empatia para as pessoas que convivem com o espectro autista.
Olhar afetivo e amoroso
A ideia principal do livro, comenta a família, não é reforçar estereótipos ou simplificar as questões em torno do transtorno do espectro autista, “mas, sim, trazer um olhar afetivo e amoroso sobre as diferenças”. “Acho que a mensagem principal é mostrar que qualquer pessoa – autista ou não – pode vencer seus problemas e conseguir ser o que quiser. O melhor para mim é ver que foi um garoto de nove anos quem apontou para um caminho de amor para combater o preconceito”, pontua Alex Ferreira.
Em tempo: o livro teve uma sessão de autógrafos no último dia 21 de março (foto acima, de Paula Reis/Divulgação). Lucca, constata o pai, estava radiante e feliz. “Inclusive, me disse que iria usar o momento como um ensaio para quando virar um jogador de futebol famoso e tiver que dar autógrafos o tempo todo! O sonho dele é ser um astro dos gramados quando crescer”, revela Alex, com um piscar de olhos.
Serviço
“Super-Ação – O Poder dos Sentidos”
(Caravana Editorial, 28 páginas). R$ 60