Vem de Cuba as obras que ocupam as salas de exposições do Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte. E, como é de se esperar, vem cheias de histórias, marcas e críticas. Quem assina é o coletivo Los Carpinteros, formado por Marco Castillo, de 45 anos e Dagoberto Rodríguez, de 47.
Eles se conheceram no Instituto Superior de Arte (ISA), a faculdade de artes de Havana, capital cubana. Em 1992 formavam um trio com Alexandre Arrechea, que saiu em 2003. O gosto pelo trabalho com a madeira fez com que colegas batizassem o trio de Los Carpinteros. Bem, mas isso foi uma característica do início do trabalho. Madeira é apenas um elemento.
A obra que chega ao CCBB demonstra versatilidade, contundência histórica e, como também não poderia ser diferente, crítica social.
Confira o que mais chamou a minha atenção na exposição que tem 70 obras à disposição do seu olhar bem ali na Praça da Liberdade.
CAPITALISMO x COMUNISMO
Los Carpinteros começaram a trabalhar nos anos 1990, tempos marcados por ditadura e profunda crise econômica em Cuba. Objeto Vital, como é chamada a mostra, tem desde as peças dos tempos de faculdade como trabalhos muito recentes. Veja que ironia capitalista esta que é uma das primeiras obras, criada em 1992: uma nota “gigante” de dois pesos tendo as figuras deles mesmos em situação laboral ilustrando o dinheiro. Rapazes ousados!
PISCINA PARA POUCOS
Diz a lenda que ter piscina em Cuba é luxo reservado a hotéis que cobram diárias em dólares. Pois sendo assim, Los Carpinteros constroem uma bem suntuosa – embora em menor escala – e colocam para rodar o mundo dentro de museus. Aliás, eles tem várias piscinas surreais em fibra de vidro espalhadas por aí.
DESAFIO EM AQUARELA
Além de muitos objetos, telas gigantes chamam a atenção. Primeiro porque são feitas em aquarela, técnica de pintura na qual os pigmentos se encontram suspensos ou dissolvidos em água. Quem é da área diz que é dificílimo usar essa técnica na proporção que Los Carpinteros aplicam e ainda com excelência na composição de fundos e preenchimentos. Pesquisas no Google me contam que a aquarela sempre teve posição secundária na arte ocidental porque era mais utilizada para esboços rápidos. Los Carpinteros a utilizam, em grandes formatos, e em 2016. O uso da técnica, neste caso, me soa mais como uma escolha política e resposta ao universo da arte. Ou seria ao mercado da arte?
CICLO DO CAFÉ
A cultura cafeeira do Brasil não passou ilesa em Objeto Vital. Vide uma parece de xícaras partidas ao meio. Esta foi montada em São Paulo. A de BH é muito maior. Ê, olha a política do café com leite na arte contemporânea.
CRÍTICA SOCIAL
Desde um púlpito de papelão, espaço tradicionalmente usado para os longuíssimos discursos de Fidel Castro, até letreiros com frases comuns da cultura cubana e do próprio ditador também marcam presença. Se em Havana frases pró-sistema eram espalhadas em grandes painéis, eles também reproduzem com a expressão: “Me cago em el corazón de tu madre”. Ou seja, não estão nem aí pra isso.
[O QUE] Objeto Vital, de Los Carpinteros
[QUANDO] Até 03 de abril, de quarta a segunda-feira das 9h às 21h.
[ONDE] CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários, (31) 3431 9400)
[QUANTO] Grátis