A partir da amizade do cineasta com Lorenzo, o filme pontua a importância da música, do acolhimento e do afeto para o desenvolvimento da criança autista
Um filme que convida o público a refletir sobre o poder da música e do acolhimento como ferramentas para a expressão da personalidade de uma criança com autismo. Assim é “Meu Amigo Lorenzo”, novo longa-metragem do cineasta e músico André Luiz Oliveira. Na verdade, o filme chegou às telas em sistema de pré-estreia em Brasília, no dia 2 de abril, Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo. no entanto, antes, já havia arrebanhado o prêmio de Melhor Longa-metragem no festival Primavera do Cine de 2023, em Vigo, na Espanha.
A boa notícia é que, a partir desta quinta, dia 11 de abril, “Meu Amigo Lorenzo” entra em cartaz em Belo Horizonte (no UNA Cine Belas Artes), bem como em Porto Alegre e São Paulo. Já na próxima semana, dia 18, em Salvador e no Rio de Janeiro. Na capital mineira, acontecerá um bate papo aberto ao público com a musicoterapeuta Clarisse Prestes, na segunda, 15 de abril, às 19h.
O início de tudo
O embrião do filme começou num encontro em um “setting” de musicoterapia (ambiente especial onde o atendimento acontece), quando cineasta foi convidado pela musicoterapeuta Clarisse Prestes a registrar as sessões terapêuticas de Lorenzo, uma criança autista. De pronto, a empatia entre o cineasta/músico e a criança foi imediata. Dessa maneira, teve início um processo que perpassou nada menos que 15 anos de filmagens. Do mesmo modo, veio o início de uma amizade no qual o amor foi o caminho para o desenvolvimento da personalidade artística da criança.
Assim, ao longo dos 96 minutos de “Meu Amigo Lorenzo”, o público é convidado a conhecer um relato intimista desta história baseada em acolhimento, música e afeto.
Percurso
O filme acompanha o desenvolvimento de Lorenzo Barreto, desde quando ele era uma criança até mais recentemente. Diz o diretor: “Percebi que ele tinha imensas qualidades musicais, bem como enormes dificuldades psicomotoras. Assim, isso teve um grande impacto sobre mim. Quando nos conhecemos, Lorenzo tinha 4 anos e não parei de filmá-lo até os 19. Sem nenhuma ideia do que iria fazer, muito menos que resultaria num filme de longa-metragem”, revela André Luiz.
Para o cineasta, os encontros com Lorenzo sempre foram extremamente valiosos para ele, assim como importantes para o desenvolvimento estrutural da criança. “A música que flui através dele vem de uma região muito profunda do seu ser e é como o ar que respira. Ou seja, tocar com ele, ouvi-lo e ser ouvido por ele foi – e continua sendo – extremamente prazeroso, luminoso, desafiador”.
Espírito amoroso e compassivo
André prossegue: “O cinema e a música sempre foram os meus meios de expressão e de estar no mundo. Entretanto, o autismo se revelou como um desafio necessário, que eu precisava incorporar à minha experiência de vida”. Além de Lorenzo, André Luiz também considera que os outros garotos autistas que acompanhava pontualmente no setting abriram, a ele, novas portas de percepção do mundo. Hoje, entende que, se há disposição de se sobrepor ao preconceito, ao medo e às ordens internas de separatismo e intolerância, a descoberta de algo muito precioso é inevitável.
De pronto, André coloca em relevo a presença da pureza de estar no mundo sem julgamento, sem disputa, inteiramente entregue ao presente. “Acho que o filme ‘Meu Amigo Lorenzo’ consegue transmitir esse estado de espírito amoroso e compassivo tão necessário nos dias de hoje”, afirma o diretor.
Individualidades
De acordo com a musicoterapeuta Clarisse Prestes, “infelizmente, nos últimos anos, o tratamento que se impôs à sociedade como aquele que funciona para o autismo, supostamente o único com ‘comprovação científica’, é o comportamental”. Desse modo, prossegue ela, esse modelo tem dominado hegemonicamente o pensamento sobre como devem ser as intervenções. Para Clarisse, porém, essa prática impõe ao indivíduo autista um conjunto de habilidades que nem sempre vem ao encontro das necessidades dele como ser humano integral.
“Assim, ‘Meu Amigo Lorenzo’ mostra que há outras formas de se estar com o indivíduo com autismo, já que estamos caminhando em outro sentido. O importante, para nós, que lidamos por quase duas décadas com essas crianças, é o amor incondicional, o respeito ao outro. Do mesmo modo, o ‘estar junto’ na prática, sem imposição de teorias ou modelos externos pré-determinados. Afinal, além de um diagnóstico, existe ali um sujeito com sua individualidade e preferências, que pode se manifestar desde que encontre um ambiente seguro e acolhedor”, afirma Clarisse.
Reconhecimentos
“Meu Amigo Lorenzo” foi premiado no FAC – Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal, para a finalização da obra, via Arranjos Regionais/FSA. Em 2022, participou das Rodadas de Negócios do DocSp e do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
O diretor
Cineasta, músico, roteirista, André Luiz realizou curtas, médias e longas-metragens, além de shows musicais e trilhas sonoras para filmes. Em 1969, dirigiu o primeiro longa “Meteorango Kid – O Herói Intergalático”, ícone do “cinema marginal”, que participou de vários festivais internacionais. Os longas “A Lenda de Ubirajara”, de 1974, e “Louco por Cinema”, de 1994, ganharam vários prêmios e viajaram pelo mundo. Em 2009, lança o doc/ficção “Sagrado Segredo”.
A partir 2009, inicia um ciclo de documentários: “Cozinheiro do Tempo – Bené Fonteles” (2009), “Mário Cravo, O Ferreiro de Exu” (2012), “Zirig Dum Brasília – A Arte e o sonho de Renato Matos” (2014). Com “O Outro lado da Memória” (2018), em parceria com Rama de Oliveira, e “Mito e Música – A Mensagem de Fernando Pessoa” (2019), conquista diversos prêmios no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Ambos os filmes foram licenciados pelo Canal Brasil. Em 2020, lança a ficção “Ecos do Silêncio” e em 2023 chega com o documentário “Meu Amigo Lorenzo”. André é da Bahia e vive em Brasília desde 1991.
Confira, abaixo, o trailer
Serviço
Longa-metragem “Meu Amigo Lorenzo”
Quando. Estreia em Belo Horizonte nesta quinta, dia 11 de abril de 2024
Onde. UNA Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes) – Sala 3 – sessão às 15h40 (o Culturadoria aconselha o público interessado que, antes de sair de casa, acesse o site do espaço para se certificar da efetiva realização da sessão)
Quanto. Informações e valores: www.belasartescine.com.br
Bate-papo com a musicoterapeuta Clarisse Prestes
Dia 15 de abril, às 19h (gratuito)
Mais informações sobre o filme: www.meuamigolorenzo.com.br