
Uma das imagens que estão no livro que marca os 20 anos da Nitro (NITRO Historias Visuais/Divulgação)
“Tramas – Sobre Caminhos e Encontros” repassa os 20 anos de existência da produtora de conteúdo Nitro Histórias Visuais
Patrícia Cassese | Editora Assistente
E assim se passaram 20 anos. Para pontuar as duas décadas de trajetória da produtora de conteúdo Nitro Histórias Visuais, acontece neste sábado, na Una Belas Artes, o evento de lançamento do livro e do filme “Tramas – Sobre Caminhos e Encontros”. “Livro e filme contam um pouco da trajetória da Nitro nestas duas décadas de atuação. Um resumo, um pouco dos principais projetos que a gente executou”, situa Bruno Magalhães, um dos integrantes do coletivo junto aos fotógrafos João Marcos Rosa, Leo Drumond e Marcus Desimoni e, ainda, ao escritor Gustavo Nolasco. Bruno assina a direção do filme junto a Natacha Vassou, que também é a montadora do filme.
“Na verdade, no caso do livro, a gente cria uma nova obra a partir do material que a gente revisita. E propõe uma nova construção narrativa através de fotos icônicas”, prossegue ele, acrescentando que a obra conta com a parceria de Simonetta Persichetti, na curadoria e edição. Simonetta, vale dizer, é crítica, pesquisadora e curadora em fotografia. “E essa curadoria do livro, feita com a gente, junto ao filme, mostra um pouco dos bastidores dessa construção, não só desses projetos, mas do nosso fazer coletivo na Nitro. Assim, acabam traduzindo o que a gente faz, a forma que a gente faz. E a gente está muito feliz de poder fazer o lançamento em Belo Horizonte”, diz ele. Cumpre frisar que, no sábado, o filme será exibido em três horários: às 11h, às 12h e às 13h.
O livro
Simonetta Persichetti conta que, quando foi convidada pela Nitro para ajudar na elaboração do projeto comemorativo dos 20 anos, de pronto já pensou em algo que não fosse um livro tradicional de fotografias. Não porque este formato não lhe soasse interessante. “Mas, sim, pela variedade de histórias que eles tinham para contar. Pela multiplicidade de olhares e, também, dos textos do Gustavo, eu, desde o início, pensei em criar um objeto fotográfico no qual as imagens, os textos e o design formassem um conjunto só. Eles eram totalmente dependentes um do outro. Então, assim, fomos construindo, como o próprio nome do livro diz, tramas – por meio de linhas, de frases, de imagens”.

Imagens que não obedecem uma ordem cronológica, justamente por isso. “Mas tentam criar todo um passeio visual pela multiplicidade de olhares. Então, quando eu falo em objeto fotográfico, é exatamente nisso que eu penso. Não um livro para ser folheado – o que, como eu já disse, não é pouco. Mas, sim, como se cada imagem que nos levasse a outra imagem, por meio de linhas, de tramas, de urdiduras; fizesse com que a gente mergulhasse nessas histórias, nessa estrada, nessa possibilidade múltipla de ver as fotografias”.
Objeto fotográfico
O próprio livro referente aos 20 anos da Nitro em si, prossegue ela, já é um objeto fotográfico. Assim, formado por fotografias, pelos textos, pelas linhas, pelo design. “E daí, o próprio nome do livro (“Tramas – Sobre Caminhos e Encontros”), que, aliás, nunca é algo fácil de a gente dar, mas que acabou surgindo depois da edição das fotografias, depois do design do próprio livro. Surgiu de forma natural. Então, o próprio título também faz parte desse objeto fotográfico. Uma obra para a gente mergulhar. E a cada olhada, uma nova memória. Um novo entendimento, uma nova leitura. Isso também é dado pelos trípticos que a gente colocou no livro, para ajudar, justamente, nessa experiência visual”.
A Nitro
A produtora de conteúdo Nitro já publicou obras como “Os Chicos”, vencedor do Prêmio Jabuti de Fotografia. Tal qual, “Mães do Cárcere”, sobre o cotidiano de mães em privação de liberdade. O Projeto Moradores – A Humanidade do Patrimônio, por seu turno, foi vencedor da maior láurea nacional de promoção do patrimônio cultural do Brasil, o prêmio Rodrigo Melo Franco, do Iphan. Vale acrescentar, ainda, o filme “Mulheres na Conservação”, vencedor do festival internacional Feedback Female Film Festival (FFFF).
Projetos autorais
Um dos integrantes da Nitro, Leo Drumond entende que a produtora chega as 20 anos “com muito pique, com muita energia, cada vez mais plural no seu fazer”. “Porém, cada vez mais simples no que a gente acredita que é importante, no que tem valor, seja para os projetos autorais, seja para os trabalhos comerciais. A Nitro começa lá em 2003, muito numa pegada de uma agência fotográfica, sempre num espírito muito coletivo”.

Isso porque, como Leo Drumond lembra, o fotógrafo sempre se caracterizou por um fazer muito solitário. “Assim, as agências surgiram com esse propósito de fortalecer o trabalho. Não só de dar uma estrutura, uma questão institucional, mas de também um espaço de troca de ideias. Então, a gente nasce nesse caminho”. Na verdade, ele conta que Bruno e Marcos já tinham montado uma agência. “E aí, eu entro em 2003, quando a gente batiza com o nome Nitro. Isso no dia 1º de janeiro de 2003”.
DNA
No início, rememora Leo, a agência se desdobrava em múltiplos fazeres. “Fazia publicidade, fazia casamento, fazia 15 anos, evento corporativo, corria atrás de pauta na rua… Com o tempo, a gente vai amadurecendo”. Um momento que ele considera simbólico foi o projeto Fotos de Família, que João Marcos Rosa os convidou a fazer. “Ele, aliás, está muito presente no livro e muito presente no filme. Esse trabalho cristaliza muito o que a gente gosta, que é esse trabalho documental, de escuta. Assim, de estar em campo, ouvindo as histórias”.
E não só ouvir. “Registrando, documentando e, depois, compartilhando. Eu acho que aí nasce um pouco desse DNA e dessa origem do que depois vai definir muito o nosso trabalho”. Em 2005, João Marcos Rosa entra na Nitro. “E aí a gente vai focando, achando o nosso caminho. Durante muito tempo, a gente atendeu bastante o mercado editorial. O João tinha feito o curso (da editora) Abril, eu tinha participado da primeira turma de trainee de fotografia da Folha de S. Paulo. Então, acho que isso foi importante também”. Assim, durante muito tempo, a Nitro teve uma base de clientes editoriais muito forte.
Contadores de histórias
Ao mesmo tempo, a Nitro sempre atendeu o mercado corporativo. “Sempre foi uma pegada da Nitro. Veja, a gente é um coletivo, mas também tem uma cabeça de negócio, de empresa, de estar bem administrado, de ter as contas muito em dia, de ter uma estrutura. Mas eu entendo que o que vai nos definir ao longo desse tempo é esse olhar documental. Esse trabalho documental, esse trabalho de campo. E as coisas vão evoluindo. A gente sempre teve uma coisa autoral muito forte. Projetos, ideias nossas que a gente queria executar…”.
E, ainda, uma batalha constante para que os projetos saiam do campo das ideias para o plano concreto. “Assim, lei de incentivo aqui, um apoio ali, um suporte aqui. Desse modo, com poucos anos de Nitro, já havíamos publicado dois livros com trabalhos importantes e consistentes. Então, acho que isso define muito o caminho da Nitro. Ou seja, somos, sim, uma empresa, um negócio. Mas com a pegada de autor, de nos expressar. Entendo que, hoje, a gente se vê num lugar muito mais de comunicadores. De contadores de histórias, que é como nos entendemos, como nos definimos”.
“Os Chicos”
Um outro a gente tem mais um ponto de amadurecimento, que é a entrada do Gustavo, em 2012, através do projeto “Os Chicos”, livro que teve dois volumes. Daí nasceu o projeto “Moradores”, uma síntese da força dos projetos que a Nitro acredita. “Naquele ano, também, perdemos o medo de falar que somos contadores de histórias. Assim, e passamos a entender o vídeo, o texto, uma exposição, um livro, a fotografia como meios narrativos, de contar as nossas histórias. Hoje, não nos colocamos em uma caixa. A gente faz projetos nos quais fazemos filme, livro e gera uma banco de imagens para eles, por exemplo. É um caminho que a gente gosta muito. Cada projeto a gente se redescobre de alguma maneira”.
Serviço
Lançamento do livro e do filme “Tramas – Sobre Caminhos e Encontros”
Quando. Neste sábado, dia 28 de outubro, das 10h às 14h.
Exibição do filme, que tem a duração de 25 minutos, em três sessões: às 11h, 12h e 13h.
Onde. Una Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes).
Evento gratuito e aberto ao público.