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Agenda Cultural

Livro reúne discussões de plataforma da UFMG

Capa do livro "Encontro de Práticas", que será lançado neste sábado, dia 8, no Mama/Cadela (Quintal Edições/Divulgação)

Capa do livro "Encontro de Práticas", que será lançado neste sábado, dia 8, no Mama/Cadela (Quintal Edições/Divulgação)

Aberto ao público, lançamento do livro da plataforma Práticas de Encontro, da Escola de Arquitetura da UFMG, acontece neste sábado

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Fruto direto da Plataforma Práticas de Encontro, sediada na Escola de Arquitetura da UFMG, o livro “Encontro de Práticas”, da Quintal Edições, será lançado neste sábado, dia 8, no Mama/Cadela. O evento vai contar com a participação do organizador Frederico Canuto (UFMG), bem como da pesquisadora Junia Mortimer (UFMG) e das lideranças Makota Kidoialê (Kilombu Manzo Nzungo Kaiango) e Kelly Simone Santos (Guarda de São Jorge de Nossa Senhora do Rosário).

De acordo com o material de divulgação da iniciativa, eles propõem uma conversa que destacará a troca de experiências entre diferentes mundos, como as comunidades quilombolas urbanas e indígenas. Tal qual, a confluência de conhecimentos universitários, artísticos e de movimentos sociais. Assim, serão abordados acontecimentos como o do último dia 24 de maio, no qual as famílias do Kilombu Manzo Nzungo Kaiango retomaram o território aos pés da Serra do Curral, de onde haviam sido despejadas em 2012.

A obra conta com um total de 22 autores, incluindo nomes de alcance internacional, como Micheliny Verunschk. Além de Frederico, assinam, como organizadores, Amanda Sicca, Daniel Menezes, Everton Jubini e Juliana Marques. Para falar mais da publicação, o Culturadoria conversou com Frederico Canuto. Confira, a seguir, alguns trechos do bate-papo, por tópicos.

Embrião da iniciativa

Frederico Canuto conta que a ideia dos encontros surgiu a partir de uma convergência de pesquisas em andamento produzidas na universidade. Assim, ainda que os temas abordados neles fossem bem diversos, veio a percepção de que havia zonas de contato entre elas que os organizadores pensaram ser pouco discutidas coletivamente. Entre os temas que nortearam as conversas, estavam, por exemplo, os recentes episódios que envolveram rompimento de barragens.

Ou, ainda, como elenca Canuto, a história de Belo Horizonte e as lacunas de seus arquivos. Tal qual, modos de reconhecimento de quilombos urbanos, narrativas afro-indígenas e, como aponta o professor adjunto da Escola de Arquitetura da UFMG, “uma crítica à branquitude territorializada nas cidades brasileiras”. “Assim, o objetivo inicial desta plataforma Práticas de Encontro era abrir um espaço para que essas investigações continuassem fora de interesses particulares”.

E, para tal, foi proposto construir conversas entre sujeitos de pesquisa que aparecem nos trabalhos como “referencias”, mas que, salienta Frederico, muitas vezes são parceiros de pesquisa. “Portanto, pesquisadores também, independentemente de vinculação a universidades”.

Dinâmica

Sobre os encontros e sua dinâmica, Frederico Canuto diz que os organizadores desde o inicio entenderam a necessidade de provocar contatos entre sujeitos que vivem seus territórios a partir de diversas e únicas formas de experimentá-lo, senti-lo e pensá-lo. “Mais do que entender a diversidade destas formas (que também fizemos nas entrevistas individuais que estão no site, ainda que não tenham sido transcritas), nos interessou colocá-las em contato umas com as outras. Assim, para que a conversa fosse também campo de exercício de pensamento e de troca”.

Além disso, prossegue Canuto, ao mesmo tempo, com o excesso de lives ocorrendo durante a pandemia, veio a percepção de que organizar tais conversas individualmente iria replicar um formato cansativo. “Então, as conversas coletivas também eram uma maneira de desvio do foco da câmera para o outro, fazendo com que mediadores e convidados se transformassem todos em participantes do processo. Assim, tais encontros ocorreram entre abril e maio de 2022 e a transcrição, até inicio de 2024”, situa ele.

Pautas

Frederico Canuto lembra que o objetivo dos Encontros foi discutir as diversas formas de se produzir conhecimentos sobre os territórios. “Tanto em campos diversos do conhecimento quanto em suas formas variadas de expressão e construção. Assim, nos preparamos estudando e lendo boa parte dos escritos, vídeos, lives e artigos disponíveis sobre os convidados para que pudéssemos construir não um roteiro de entrevistas, mas, sim, questões-chave que precisavam ser abordadas e que implicassem todos os envolvidos”. Essa questão, pois, era central na abordagem: fazer e colocar questões que expusessem diferenças.

“Desde tal estudo inicial, questões surgiram e sublinharam a necessidade de fazer encontros e não conversas individuais. Começando, por exemplo, com a diferença de fontes bibliográficas, por exemplo. No caso de lideranças quilombolas e indígenas, a falta de uma bibliografia escrita e de autoria das mesmas foi compensada pelas lives ocorridas durante a pandemia, bem como por vídeos produzidos por seus colaboradores e parceiros na universidade, por exemplo”. Já no caso de cineastas e pesquisadores, prossegue Frederico Canuto, a fortuna critica é maior e está bem disponível na internet. “Além de ser considerado, e ser, o conhecimento científico legitimo pois produzido na universidade”.

Mobilidade entre saberes

No entanto, contextualiza o organizador, em se tratando de temas – como narrativa e território – bastante amplos e abordados por diferentes campos disciplinares, veio a necessidade de exercitar uma intensa mobilidade entre saberes. Os temas aos quais ele faz alusão são arqueologia, artes visuais, arquitetura, cinema – e grupos sócio-espaciais – quilombos urbanos e povos indígenas, por exemplo. “Isso significou repensar como abordar questões comuns considerando as diferentes formas de pensamento e a diversidade e desigualdade de informações disponíveis”.

Pandemia

Já sobre a pandemia e a relação dela nessa construção Práticas de Encontro, ele diz que variadas são as interseções. “Uma delas, por exemplo, diz respeito a necessidade de articulação entre variados campos de conhecimento na construção de defesas contra os ataques diretos contra o direito a terra e memória”, explana Canuto.

Livro

Frederico Canuto esclarece que uma reunião do teor das conversas em formato livro não estava inicialmente nos planos do grupo. “Como somos uma plataforma cujo objetivo é criar contextos de contatos e alianças com sujeitos que pensam, vivem e produzem suas realidades de maneiras próprias – seja na academia, seja em um quilombo -, nosso interesse era criar esses encontros e disponibilizá-los num site. Desse modo, construímos o site e havíamos entendido que seria suficiente”.

Entretanto, após tais encontros, questões relacionadas à disseminação da informação, por exemplo, veio a ideia da produção de um livro. Ou, ainda, questões como narrar, produção de conhecimento, disputa pela história e especulação de tais encontros numa chave imagética. “E isso foi interessante nesse processo de produção do livro: como transcrever o acontecimento ‘encontro’ em um texto escrito. Melhor ainda, como transformar o encontro num texto, pois tal transcrição não é apenas uma cópia, mas, sim, uma tradução entre mundos que tem, cada uma à sua maneira, linguagens próprias”.

Desse modo, editar o texto, usar de imagens das gravações e criar colagens foram modos de construir um ambiente de leitura em cada capítulo e no livro como um todo, frisa Canuto.

Edição

Já com a ideia do livro amadurecida, Frederico Canuto e demais organizadores e envolvidos entenderam que o limite de páginas não deveria ser um empecilho ou critério para cortes em transcrições ou redução de textos. “No entanto, conforme a transcrição ia sendo feita, vimos a necessidade de editar certas falas”. Isso porque, na forma escrita, comenta ele, elas perdiam o sentido tendo em vista o acontecimento do encontro gravado. “Por isso, os vídeos são mais completos. No entanto, em alguns textos colocamos imagens dos encontros (visto que estes foram gravados) tendo em vista o contexto da conversa, a intensa troca ou ainda, as próprias provocações que fizemos aos participantes”.

O importante para o grupo, pontua ele, era ter em consideração que não se trata de transcrever textos simplesmente, mas criar uma atmosfera de leitura em que as questões ficassem claras para os leitores. Isso, independentemente de numero de páginas. “Ou seja, levando em conta que alguns dos participantes pouco são lidos ou ainda mais entendidos na singularidade que lhes é própria. Ou seja, a transcrição é uma forma de construir a existência de um saber e pensar junto a pessoas que ou não são, ou pouco, são escutadas como sujeitos-pesquisadores do mundo por não terem frequentado uma universidade, por exemplo”.

Abertura a outros saberes

Na verdade, Frederico Canuto lembra que sim, as universidades estão mais abertas a esses saberes que vêm de outros lugares que não dela mesma. No entanto, pontua que mesmo criando redes de colaboração e troca e concedendo títulos como Notório-saber, tais ações ainda são insuficientes. “Embora válidas”. Porém, ele entende que poucos livros e artigos de autoria destes pesquisadores não-universitários existem e/ou são financiados pela universidade como pesquisas.

Compartilhando saberes

Por fim, ao falar sobre o objetivo da empreitada, Canuto considera que, ainda que os mundos sejam vários e diversos (“pois são diferentes maneiras de ver, perceber, experimentar e agir no mundo”), o planeta é somente um. “Assim, entendemos ser extremamente necessário um movimento de aproximação e contato entre os diversos sujeitos. Não para disputarem certezas próprias, mas para compartilharem formas de viver de seus territórios, construir sua história, imaginar e produzir imagens do que significa habitar o mundo”.

E finaliza: “Ainda que consensos e compreensões comuns sejam difíceis – pois os mundos que apareceram nas conversas são vários -, propusemos, nesse livro, trabalhar a aproximação entre o que é sempre diverso”.

Serviço

Lançamento do livro “Encontro de Práticas”, seguido de conversa com Frederico Canuto, Junia Mortimer, Makota Kidoialê e Kelly Simone Santos

Quando. Sábado, 8 de junho, às 14h
Onde. Galeria de Arte Mama/Cadela (Rua Pouso Alegre, 2.048, Santa Tereza)
Quanto. Acesso gratuito. Valor do livro: R$ 60 | 374p.
Link da pré-venda: https://loja.quintaledicoes.com.br
Informações para o público:
Instagram @praticas_de_encontro | @quintal_edicoes

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