
Nelson Ned, em foto que consta na biografia "Tudo Passará -A vida de Nelson Ned, o Pequeno Gigante da Canção", de André Barcinski (Companhia das Letras)
Carlinhos Brown, Alceu Valença, Secos & Molhados, Nelson Freire, Nelson Ned e muitos: no formato ‘livro’, a vida de ícones da música
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Nos últimos meses – e, desse modo, estamos incluindo também uma parte de 2023 -, vários títulos aterrissaram nas prateleiras das livrarias com o intuito de apresentar, ao público leitor, os bastidores da vida de grandes nomes da música brasileira, seja da MPB ou de outras vertentes musicais, incluindo a música de concerto, por meio do mineiro Nelson Freire. Assim, o livro, por vezes, aborda o processo de criação, mas, também, há outros que se dedicam a repassar momentos de vida desses gênios, em alguns casos, ao abarcar momentos de vida da infância aos dias atuais.
Ou, ainda, uma autobiografia, a de Rita Lee, que ganhou edição especial. Já em “Nós, a Gente”, o cancioneiro de Gilberto Gil é colocado em repasse a borda das belíssimas ilustrações de Daniel Kondo. E tem também relançamentos, como o livro sobre o grupo Secos & Molhados, “Primavera nos Dentes”, que volta às prateleiras acrescido, por exemplo, com entrevistas inéditas.
Confira, a seguir, alguns desses títulos, incluindo um em pré-lançamento
“Trocando em Miúdos Seis Vezes Chico Buarque”
“Trocando em Miúdos” é uma biografia assinada por Tom Cardoso, e que vem à tona no bojo dos 80 anos de Chico Buarque – o cantor e compositor completará esta idade no dia 19 de junho deste ano. Na verdade, o livro em questão chegará em breve às livrarias, pela Editora Record. De acordo com o material da editora, a narrativa tecida por Tom Cardoso explora os meandros das experiências de Chico, desde os embates com a censura durante os anos sombrios da ditadura militar até os aspectos mais íntimos de seus processos criativos.
Desse modo, são seis temas caros à vida pública e particular do cantor e compositor: a política, a literatura, a fama, as polêmicas, a censura (assim como a autocensura) e o futebol. O autor reúne depoimentos, entrevistas e uma extensa pesquisa bibliográfica para apresentar ao leitor o retrato múltiplo de um dos maiores artistas vivos da cultura popular brasileira. A orelha do livro é assinada por Maria Ribeiro, que diz: “Eu amo as biografias do Tom. Por causa dele, me apaixonei pelo Tarso de Castro, virei torcedora retroativa do Sócrates, e coloquei a capa da Nara ao lado da foto do meu pai. Isso sem falar no Caetano, que tenho a sorte de amar em vida. Os brasileiros do Tom são uma espécie de bandeira ideal – e um jeito espertíssimo de conhecer nossa história”. O livro tem 280 páginas e preço sugerido de 79,90.

“Nelson Freire: O Segredo do Piano”
Um dos maiores pianistas da história recente, o mineiro (de Boa Esperança) Nelson Freire começou a dedilhar as teclas ainda criança. Reza a lenda que, assim, tentava imitar a irmã mais velha. Daí, estudou na Europa, em países como a Áustria, e, já nos palcos, teve uma carreira ascendente. Embora notoriamente tímido, Nelson Freire concedeu algumas entrevistas ao jornalista francês (especializado em música clássica) Olivier Bellamy. Desse modo, o livro “Nelson Freire: O Segredo do Piano’ é o resultado desta ligação. Trata-se, pois, de um resgate da trajetória do artista, morto em novembro de 2021.
Vale lembrar que o repertório de Freire era, desde cedo, variado. No entanto, sobressaia-se a predileção por compositores como Beethoven, Liszt e Debussy. Tal qual, nutria apreço pelos conterrâneos, como o compositor das Bachianas Brasileiras, Heitor Villa-Lobos. Lançado pela DBA (com tradução para o português assinada por Julia da Rosa Simões), o livro, de 232 páginas, tem o preço sugerido de R$ 74,90. E-book: R$ 52,90.

“Meia Lua Inteira – A Constelação Mística de Carlinhos Brown”
Lançado no segundo semestre do ano passado, o livro “Meia Lua Inteira – A Constelação Mística de Carlinhos Brown” (Editora Record), de autoria de Julius Wiedemann, conta, em 308 páginas, alguns episódios da trajetória do cantor e compositor Carlinhos Brown. Assim, da infância, no Candeal, em Salvador, à vitoriosa carreira, detendo-se em projetos vitoriosos como o Timbalada, os Tribalistas (junto a Arnaldo Antunes e Marisa Monte – que, aliás, assina a orelha) e a participação, como jurado, do programa global “The Voice Brasil”.
Tal qual, lutas individuais, travadas, por exemplo, contra a pobreza e o racismo. De acordo com o autor do livro, foram mais de 30 horas de entrevistas com o biografado, hoje com 61 anos. Não bastasse, inúmeras conversas por WhatsApp. E, ainda, entrevistas com pessoas como Gilberto Gil, Djavan, Nelson Motta, Margareth Menezes, Sergio Mendes, Ivo Meirelles e Boninho, entre vários outros.

“Pelas Ruas que Andei – Uma Biografia de Alceu Valença”
A biografia de Alceu Valença também foi lançada no ano passado – no caso, pela Companhia Editora de Pernambuco – Cepe. O autor é o jornalista e escritor carioca Julio Moura. Na verdade, o projeto da obra data de 2019. No entanto, com o advento do coronavírus, e a decorrente quarentena, a linha inicialmente pensada para o projeto sofreu algumas alterações. Assim, em vez de entrevistas sendo realizadas pessoalmente, Moura optou por centrar as energias em pesquisas, que apontam aspectos reveladores da trajetória do artista.
Nascido em São Bento do Una, em Pernambuco, Alceu Valença, 77 anos, já soma mais de 50 anos dedicados à música. Nesta caminhada, emplacou uma série de sucessos, como “Morena Tropicana”, “Anunciação”, “Como Dois Animais”, “Coração Bobo” ou “La Belle du Jour”. 592 páginas. Preço sugerido: R$ 70.

“Tudo Passará”
Chancelado pela Companhia das Letras, o livro “Tudo Passará – A Vida de Nelson Ned, o Pequeno Gigante da Canção”, do jornalista André Barcinski, esquadrinha a vida do cantor Nelson Ned (1947 – 2014) desde a infância – quando recebeu o diagnóstico de displasia espondiloepifisária – até os últimos dias de vida, em uma clínica de repouso. Neste caldeirão, entram os percalços do início da carreira, a fama nacional e internacional, os casamentos conturbados e a paternidade, a relação com o nanismo (tinha 1m12), embates com a imprensa e com outros movimentos musicais, bem como a conversão à igreja evangélica e o ostracismo.
A obra – cujo título faz referência a uma das músicas mais famosas do artista, de 1969 – traz, ainda, imagens inéditas. Nascido em Ubá, Minas Gerais, em 1947, Nelson Ned D’Ávila Pinto faleceu em Cotia, São Paulo, em 2014. Em tempo: como revelou ao jornal “O Globo”, Barcinski pretende levar a vida de Nelson Ned para o cinema, na versão ficcional e em documentário. O livro tem 256 páginas. Preço sugerido: R$ 79,90.

“Primavera nos Dentes – A História do Secos & Molhados”
A história do icônico grupo recheia as páginas do livro “Primavera nos dentes: A História do Secos & Molhados – Ditadura, Censura e Sedição”, que leva a assinatura do escritor, editor e cineasta Miguel de Almeida, colunista de “O Globo”. De acordo com o autor, o relato nasceu da curiosidade em descobrir como um período de tão poucas liberdades, sob uma ditadura militar sanguinária, produziu um artefato cultural de altíssima sedição. Ou seja, o Secos & Molhados, de Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad, grupo formado em 1971 (embora Ney só tenha entrado um ano depois).
Na verdade, o livro foi publicado inicialmente em 2019, mas uma nova edição veio à cena no ano passado, no bojo dos 50 anos de lançamento do primeiro disco do grupo. A reedição acrescenta capítulos “com informações colhidas em entrevistas inéditas, cujo conteúdo auxilia na compreensão do quadro cultural do período, da umbilical ligação de teatro e música, do trânsito de ideias, estéticas e personagens entre as duas linguagens”, segundo Miguel de Almeida.

No livro, Miguel de Almeida conta, por exemplo, que o nome do grupo ocorreu a João Ricardo durante uma viagem a Ubatuba, litoral norte de São Paulo. Ele voltava de um banho de mar quando a atenção foi capturada por uma plaquinha, onde se lia “Secos e Molhados”. Estava na porta de uma venda. E, assim, veio a ideia, não sem alguma dúvida de Gerson Conrad. Mas há várias outras histórias saborosas, como as da escolha do poema “A Rosa de Hiroshima” (1954), de Vinicius de Moraes, para ser musicado. A obra também traz muitas fotos. Editora Record, 432 páginas. R$ 79,90.
“Rita Lee – Uma Autobiografia” – Nova edição
O best-seller “Rita Lee: Uma Autobiografia”, que conta a história da vida e carreira da saudosa cantora e compositora, ganhou, recentemente, uma edição especial. Assim, o novo livro conta com capa dura, pintura lateral em tie-dye, fitilho e 37 novas fotos, sendo a maioria inéditas. Em uma delas, Rita ajuda a derrubar o muro de Berlim, em 1989. De acordo com material da editora Globo, o projeto teve início em 2020 e a nova capa foi pensada pela própria Rita, junto ao grande amigo e editor Guilherme Samora, o Phantom. Aliás, ele é responsável também pelas fotos de ficha policial, as quais Rita sugeriu que ocupassem a capa e a quarta capa desta edição. Lançamento Globo Livros, 376 páginas. Preço sugerido: R$ 89,90 (impresso) ou R$ 49,90 (e-book).

Nós, a Gente
Parte da comemoração dos 80 anos de Gilberto Gil, o projeto múltiplo “Nós, a gente” se desdobrou em documentários, em concertos, num site e neste livro. A obra traz algumas das canções compostas por Gil, que, de acordo com a editora, a WMF – Martins Fontes – passaram por sugestões familiares, foram ensaiadas para os shows e, por fim, entraram nas apresentações de fato. “Mas também outras canções foram escolhidas por revelarem relances da trajetória artística, conceitual e afetiva de um dos maiores nomes da canção, num movimento que não para de se voltar para os vínculos com seu convívio familiar, no tempo, no espaço e no eterno”.
Organizado por Guilherme Gontijo Flores, “Nós, a Gente” tem outro trunfo, além do cancioneiro “gilbertogiano”. É que cada canção ganhou uma ilustração, e, no caso, assinada pelo artista visual, designer e ilustrador brasileiro Daniel Kondo. Há, ainda, no livro, uma entrevista exclusiva com Gilberto e Flora Gil, que consome 11 páginas. Nela, Gil trata de temas de largo espectro, inclusive, da morte. “O meu desejo mais recente, mais atual, em relação a mim mesmo, é que eu caminhe para a extinção desse corpo, para o desaparecimento, para aquilo que a gente chama de morte (…) com a possibilidade de um mergulho”. (abaixo, capa do livro – Nelson Kon/WMF/Divulgação)

Família Gil
E prossegue: “Tudo o que eu quero é estar pronto, para o mergulho final nesse qualquer coisa que seja o depois do desaparecimento. Se aparecer alguma coisa, ótimo”. Ele também fala sobre trabalhar em família, os múltiplos sentidos do nome da turnê – “Nós, a gente” -, que remete a nó, a nós, “nossa”…. O livro revela, ainda, planos futuros dos Gil, como uma exposição em Punta del Este. A conversa aconteceu no sítio da família Gil, A Linha e o Linho.
O livro contempla uma árvore que o organizador chama de “Árvore Gilnealógica”. O que, vale dizer, é muito útil para o fã, que por vezes se desnorteia ante tantos integrantes. No caso das canções, há aquelas bem conhecidas, como “Palco”, “Cores Vivas”, “Expresso 2222” ou “Refazenda”. Tal qual, músicas compostas por encomenda, como “Sítio do Picapau Amarelo”. Do mesmo modo, músicas que se tornaram mais conhecida em outras vozes, como “Babá Alapalá”, que ganhou bela interpretação de Zezé Motta.