Nós, do Culturadoria, visitamos dez livrarias localizadas na região central da capital paulista, a maioria, independente!
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Ao charme das pequenas livrarias – aquelas, mais independentes, a maioria, “de rua” (ou situadas em galerias ou espaços culturais) -, resistir, quem há de? Assim, em visita recente a São Paulo, a gente aqui, do Culturadoria, listou alguns destes empreendimentos. Acreditamos que todo fã deste tipo de negócio (fica chato usar essa palavra, mas ok) certamente vai ficar satisfeito em conhecer quando for a essa cidade de tantas possibilidades (até rimou).
Faltaram algumas? Sim, estamos cientes. Logo, já estão devidamente anotadas para a próxima visita.
Gato Sem Rabo
Iniciativa pensada por Johanna Stein, curitibana radicada em São Paulo, e formada em Artes Visuais; a charmosa livraria Gato Sem Rabo foi inaugurada no primeiro semestre de 2021. Fica localizada na rua Amaral Gurgel, 352, Vila Buarque, ali, na região do Minhocão.
Além de aconchegante no último, com ambiente de madeira clarinha, o local primeiramente tem, como diferencial, o fato de ser especializada em livros (de ficção e não-ficção) escritos por mulheres e pessoas trans.
Assim, a apresentação da livraria, nas redes sociais, não poderia ser mais precisa: “Somos uma livraria independente, que aprecia e distribui livros escritos por mulheres. Nosso catálogo propõe um recorte de mundo, entre muitos possíveis, no qual as mulheres estão no centro do debate, da publicação e da leitura. (….) Queremos dar força ao movimento que retira mulheres do anonimato, estimula a apreciação e a produção de autoras, ao mesmo tempo que forma um público que utiliza a leitura e o pensamento crítica como ferramentas de transformação pessoal e social”.
Inspiração em Virginia Woolf
Eu, autora dessas linhas, já visitei a livraria Gato Sem Rabo em três ocasiões, e, na mais recente, segui o conselho da simpática atendente, que me recomendou avidamente que tirasse um tempo, me sentasse em um dos sofás e lesse um conto de Teresa Cárdenas. Assim, acabei levando para casa dois livros da também ativista cubana, atriz e bailarina, hoje com 53 anos.
Primordialmente, nome Gato Sem Rabo, que batiza a livraria, vale dizer, vem do ensaio “Um Teto Todo Seu” (lançado em livro no Brasil pela editora Tordesilhas), de Virginia Woolf (1882 – 1941). Por sua vez, o material é baseado em palestras proferidas pela britânica nas faculdades de Newham e Girton em 1928. Nelas, a escritora, antecipadamente, compara a presença feminina na literatura a “um gato sem rabo”. Ou seja, “animais estranhos e deslocados, que desfalcados de tempo, espaço e legitimidade, tiveram o atrevimento e a coragem de escrever- ou não encontraram outra saída senão essa”.
Uma curiosidade é que, logo ali, ao lado da livraria, funciona um restaurante super querido dos descolados, o Cora (rua Amaral Gurgel, 344 – 6ºandar), do chef Pablo Inca, que, vale lembrar, fez parcerias com o mineiro Cozinha Tupis, do chef Henrique Gilberto.
Livraria Megafauna
Localizada em um dos mais icônicos edifícios de São Paulo, o Copan, a livraria Megafauna foi inaugurada no final de 2020. Foi idealizada por Fernanda Diamant e Maria Emília Bender, que juntaram um time de ponta, formado pela arquiteta Anna Ferrari, pelo empresário Arthur Mello e pelo bibliófilo e veterinário Thiago Salles Gomes.
Em seu site, a livraria se apresenta de um modo tão bacana que resolveu dar o clássico ControlC+ControlV: “Um dos diferenciais da Megafauna é a escolha de seu acervo. Pautando-se pela busca de diversidade e qualidade, a curadoria dos livros se guia a um só tempo pela variedade de editoras – das pequenas casas aos grandes grupos – e pela escolha de títulos que contribuam para ampliar a perspectiva crítica, em consonância com a proposta de fazer da Megafauna um espaço de diálogo e reflexão”.
“Porque a livraria é um espaço de conversa, os lançamentos feitos na Megafauna são sempre acompanhados de leitura ou de debate. Além disso, a programação de conversas gira em torno de temas tão variados como ciência, literatura, política ou psicanálise”.
Lançamentos de livros, conversas e… o Cuia
Na nossa visita à livraria Megafauna, saímos carregadas de livros e, ainda, levamos para casa uma opção de cor da bela ecobag. Infelizmente, fomos no dia em que a convidada para a sessão de autógrafos que se desenrolaria à tarde era ninguém menos que a mineira Maria Esther Maciel, que lançava “Animalidades: Zooliteratura e os Limites do Humano” (Companhia das Letras), seu mais recente livro – mas não pudemos ficar para assistir.
Vale ir à livraria Megafauna com muita calma, inclusive para aproveitar o restaurante e café que funciona ali – o Cuia (foto abaixo).
E, óbvio ululante, dar uma passeada pelo Copan, com suas lojinhas encantadoras.
Tapera Taperá
Ao decidirmos conhecer a Tapera Taperá, seguimos a indicação de uma amiga, da assessoria do Itaú Cultural. A charmosa livraria fica na Galeria Metrópole (Av. São Luís, 187, Centro, Loja 29, 2º andar), que, por seu turno, é uma perdição – acabamos passando o dia, com parada no Matchá Café que tem, em sua sobreloja, gatos! (aos moldes dos estabelecimentos que começaram a emergir no Japão e, de lá, ganharam o mundo).
No site da livraria, encontramos a explicação para o nome: “Tapera representa o passado. Taperá, o futuro. Estamos em algum lugar entre o passado e o futuro”. A Tapera Taperá se define como uma biblioteca, livraria, espaço cultural. “Um experimento, tentativa, ensaio, um esboço em construção. Sem fins lucrativos, sem objetivos claros, sem maiores planejamento e precisão. Um experimento político-cultural”.
Adoramos não só o espaço (decoração fofa, café disponível), como a recepção. Saímos com um livro sobre a obra de Maria Firmina e um outro sobre o Marrocos – no caso deste último, comprado em meio a uma conjunto que estava reservado em uma prateleira, no qual os exemplares eram vendidos a R$ 20 (unidade), uma pechincha.
HG Publicações
E de lá, seguindo também as indicações de nossa coleguinha do Itaú Cultural, fomos parar na HG Publicações, que também fica na Galeria Metrópole (desta vez, no 1º andar, na loja 19). Mais uma recepção calorosa na agenda. E, mais uma vez, outro ambiente charmoso que só.
A história: a livraria HG é um desdobramento da Banca Higienópolis, que ficava na avenida de mesmo nome, com a Martim Francisco, no centro expandido de São Paulo. A banca era tocada por Thom Levisky e Juliana Borges, que assim pensavam: “Quem passava por lá tinha uma experiência nova, ao não apenas comprar o jornal do dia, mas também sair com a janela das possibilidades que é o livro nas mãos”. Achamos essa frase de uma lindeza!
Ainda a HG
Ao mudar de endereço, ou seja, deixar a rua e ir para a Galeria Metrópole, em formato de livraria, os donos buscavam um espaço no qual também pudessem sediar eventos, continuando com a mesma filosofia: uma curadoria que representa o posicionamento dos dois diante do mundo. Melhor dizendo: “anticapitalista, antirracista, feminista, anti-especista e anti-lgbtfóbica”.
“Queríamos representar os diversos olhares e Histórias de Gentes, na diversidade do que somos e do que queremos do mundo”, escreveram, em um post. Só que, no final do ano passado, os dois chegaram a anunciar o fim das atividades. “Ainda acreditamos nesse sonho, mas vamos ter que dar esse passo para trás para podermos ganhar fôlego e seguirmos contribuindo com os nossos ideais e as lutas que continuam”, postaram, à época.
Para sorte dos paulistanos aficcionados por livrarias independentes, na postagem seguinte, veio a boa notícia: “Quando publicamos a decisão de fechar, uma corrente linda se iniciou. E pensamos que poderíamos sonhar mais um sonho”.
Além de livros que abordam questões que estão na pauta do dia (não por modismo, mas, claro, por serem necessárias, vitais), o local comercializa revistas independentes e outras já mais conhecidas (de literatura, fotografia etc). Assim, longa vida à HG, é o que desejamos. Ah! Juliana Borges dá ótimas dicas no Instagram e, aliás, inclusive já iremos atrás da HQ “Ópera Negra”, de Clara Chotil, que é um lançamento Editora Veneta, indicado por ela. Valeu, Juliana!
IP Livros Raros e Usados
Na visita à Galeria Metrópole, logo depois, topamos com a IP Livros Raros e Usados (Avenida São Luís, 187 — 2º andar, loja 18. No dia, um lançamento de livros que estava por lá ocorrendo nos atraiu – era o do livro “Violeta”, o terceiro livro da série “A História dos Ossos”, de Alberto Martins (Editora 34). O foco confesso desse sebo mais do que charmoso “é ajudar você a encontrar aquele livro que já parou de ser editado e está esgotado”.
A livraria foi fundada pelo professor de literatura Iuri Pereira, em agosto de 2022. Atualmente, o acervo tem cerca de dois mil títulos.
“Assim, vasculhando entre as prateleiras, você pode encontrar obras autografadas, catálogos de exposições e impressões especiais”, promete a descrição.
Igualmente importante, a informação de que funciona de segunda a sábado, das 14h30 às 18h30. Instagram: @ip.livrosusados.
Descabeça Livros
Livros novos e já lidos. Esta é a premissa dessa outra charmosa livraria da Galeria Metrópole, a Descabeça Livros, que é fruto de um projeto de Eduardo Vaz e Felipe Nizuma. Fica no primeiro andar, na loja 09. Assim, o acervo abrange artes, humanidades, literatura e cultura pop.
“A Descabeça é um projeto de vida de amigos de longa data, de pequenas grandes vitórias às mais incríveis furadas. Estamos animados e felizes em poder participar da vida cultural ao avesso na cidade. O Brasil é (muito) mais do que a violência daqueles que têm medo de Paulo Freire”, diz a apresentação.
Para seguir no Instagram: @descabeca_livros
Sob Influência
Estando na Galeria Metrópole, acabamos passando em frente à Editora Sob Influência – infelizmente, como passeamos por lá em um sábado à tarde, o local já havia fechado. Mas ficamos inspirados pela vitrine.
No perfil no Instagram, achamos a informação que a iniciativa editorial contabiliza três anos de vida, enquanto a livraria física, é mais recente. “Três anos de descaminhos e desvios, percorridos na política noturna, sempre experimentando e abertos ao jogo. Nestes três anos muita coisa mudou, em especial nesse ano, com a abertura de nossa livraria. Este espaço abriu tantos poros ao impossível, dilatou vasos, criou camadas e mais camadas de encontros e de fagulhas que nos animam com potência inflamada e desejo vivo”.
“Com estas novas aberturas, fomos alçados a maiores demandas – gravação de vídeo, captação de áudio, manutenção do espaço, limpeza, edição de imagem, equipamento de som, tudo isso se tornou rotineiro neste espaço que insiste em povoar a contracultura desviante através de encontros, discotecagens, processos de pesquisa virados do avesso e confabulações transgressoras”.
Atualmente, o espaço ativou uma campanha de financiamento. De antemão, “viemos pedir o apoio de nossos camaradas para, primeiro de tudo, construir este espaço junto a nós, bem como nos apoiar na remuneração dos trabalhadores que desenvolvem o sob influencia. Assim, mantendo nossa livraria de pé, sempre fazendo eventos e encontros gratuitos para girarmos na noite juntos. (…) Lendo e caminhando, construímos juntos as potências que imaginamos radicalmente”.
Livraria Sesi-SP
Bem, aí, já saímos da região da Galeria e, analogamente, fomos bater perna nas livrarias da Paulista. Primeiramente, passamos no Centro Cultural Fiesp, onde fica a livraria gerenciada pelo Sesi-SP. De pronto, ela possui publicações de diversos autores, incluindo os catálogos de arte de todas as exposições realizadas pelo Sesi-SP.
Nesse sentido, deixamos, aqui, o endereço do site oficial, para você conferir mais e mais. https://www.sesispeditora.com.br/
Livraria no Reserva
A Livraria no Reserva fica ali, no espaço Reserva Cultural, onde ficam situadas salas de cinema, bistrô e cafeteria. A iniciativa tem a curadoria do produtor artístico Vitor Daneu. Além das majors, trabalha também com pequenas editoras. E, ainda, oferece DVDs de filmes de arte e cartazes de filmes.
Pelo Instagram, soubemos que nesta segunda-feira e amanhã, terça, o espaço, porém, estará fechado para obras de manutenção e melhorias (que bom). “Assim, reabriremos na quarta, 28, para comemorar os 18 anos de Reserva Cultural. Venha celebrar com a gente essa data e conhecer o novo visual do Reserva, com a pré-estreia do aguardado ‘O Crime é Meu’, do diretor François Ozon. E com o sorteio de prêmios, com espumante e pipoca. Um brinde ao Cinema, um brinde ao Reserva Cultural”. Se a gente estivesse em São Paulo, certamente iria!
Desde já, fique ligado: o Reserva Cultural funciona no térreo baixo do prédio número 900 da Paulista, que também abriga a Fundação Casper Líbero. A livraria fica aberta todos os dias, das 12h às 21h.
Martins Fontes
Bem, aqui, acima de tudo, é preciso salientar que já estamos falando de uma grande livraria. Assim, a Livraria Martins Fontes Paulista reúne milhares de títulos em seu acervo, dos quais 250 mil estariam para pronta entrega, organizados em mais de 40 categorias.
De antemão, são obras de escritores brasileiros clássicos e contemporâneos, bem como de autores estrangeiros consagrados e atuais. De acordo com o material da livraria, a Martins Fontes Paulista também é referência em livros didáticos, assim como de idiomas.
Agora, uma seção “história do empreendimento”: “A história da Livraria Martins Fontes começou no ano de 1960, na cidade de Santos. Primeiramente, três irmãos se uniram para colocar em prática o ideal de vender livros. Na capital paulista, a Livraria Martins Fontes chegou duas décadas depois, com sua primeira loja, na rua Dr. Vila Nova, próxima ao Mackenzie”. Mais tarde, veio a loja da avenida Paulista, que atualmente perfaz 1000 m2 de área.
Tal e qual, a Martins Fontes também realiza venda de livros pelo próprio site www.martinsfontespaulista.com.br.