
Foto: Editora Malê / Divulgação
Literatura é a expressão artística escolhida para encerrar o especial do Culturadoria que celebra o dia da Consciência Negra. Como diversas outras artes, a literatura negra e os escritores negros foram, e ainda estão sendo, constantemente invisibilizados. Suas produções são diversas, passando por romance, poesia, biografia e outras. Os temas escolhidos também, como escravidão, sociedade, gênero e política.
O Brasil, por exemplo, tem nomes de destaque na literatura negra. Carolina Maria de Jesus, uma catadora de papéis, teve o diário que mantinha transformado no clássico livro Quarto de despejo, um relato sobre o dia a dia em comunidades pobres de São Paulo. Outros nomes de destaque na contemporaneidade são de Ana Maria Gonçalves, autora de Um defeito de cor e Conceição Evaristo. A escritora é militante do movimento negro e de causas sociais. Também viveu na periferia e escreve sobre discriminação racial, de classe e de gênero. Além disso é poetisa, participa de antologias e já publicou no exterior.
Além delas, quem mais faz ou já fez literatura negra por aí? Separamos algumas iniciativas, grupos e nomes de pessoas que estão fazendo a diferença no cenário da literatura negra. Conheça e compartilhe conosco outros não listados.
Literafro
Este é o Portal da Literatura Afro Brasileira, que nasceu do trabalho do Grupo de Interinstitucional de Pesquisa Afrodescendências na Literatura Brasileira na Universidade Federal de Minas Gerais. O portal apresenta autores e autoras negras, artigos, resenhas, fala sobre teatro (grupos e dramaturgos), ensaístas e ainda dá notícias do que acontece no mundo da cultural literária negra. Ah! E como nós aqui do Culturadoria somos fãs de podcasts, não poderíamos deixar de indicar o deles. No canto inferior esquerdo do site você pode ouvir!
Livraria Bantu
Um local onde a literatura negra, a cultura, a religiosidade e a corporeidade são o foco. É assim que funciona a Livraria Bantu. Localizado no coração da cidade de BH, o espaço é dedicado à produção literária de origem africana e afro descendente. A ideia começou com a jornalista Etiene Martins, pois ela procurava livros de escritores negros em livrarias tradicionais, mas nunca encontrava. Dessa forma, criou a própria livraria para promoção da literatura negra. O nome Bantu faz referência ao povo africano que foi responsável pela criação de mais de 600 línguas, inclusive o português. Na Livraria Bantu tem nomes como as já citadas Conceição Evaristo e Carolina Maria de Jesus, como também Lima Barreto, Lázaro Ramos, Bento Balói e a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.
Preta Poeta
O projeto Preta Poeta funciona com a tentativa de resgatar a produção autoral de poetisas negras por meio de pesquisas e difundir a contribuição que essa produção tem para a sociedade e para a literatura em geral. Além disso, incentiva a produção poética, a declamação e a difusão da literatura negra feminina emergentes por meio de ações para toda a comunidade. Regularmente, o projeto convida coletivos, faz roda de leitura, sarau, feira de literatura, palestras e até lançamento de zine. Na página do Facebook você encontra mais informações sobre a atuação do Preta Poeta e fica sabendo onde vai ser cada evento.

Foto: Livia Wu / Divulgação
Maria Firmina dos Reis
Este, com certeza, é um nome fundamental na literatura brasileira. Principalmente quando falamos de escritoras mulheres e, sobretudo, negras. Maria Firmina dos Reis, a primeira escritora negra do Brasil, nasceu em São Luís do Maranhão em 1822 e não recebeu o nome do pai biológico. Não se sabe muito sobre a história de Maria Firmina, no entanto, ela era filha de mãe branca e pai negro, provavelmente escravo. Aos oito anos de idade se mudou de São Luís. Firmina vivia sob boas condições financeiras, pois na nova cidade morava com uma tia que oferecia suporte. Dessa forma, teve a oportunidade de ser alfabetizada e entrar em contato com a literatura. Alguns anos mais tarde se tornou professora primária.
Já em 1859, Maria Firmina dos Reis foi pioneira na literatura negra no Brasil pois lançou Úrsula, que mais tarde foi considerado primeiro romance nacional feminino. A obra dá foco à escravidão através da narração do cotidiano de mulheres negras escravizadas e livres no país.
Entretanto, o livro não recebeu, na época, o reconhecimento merecido. Isso porque, de acordo com a escritora, ela não tinha estudado em terras europeias e nem dominava outros idiomas. Essas eram características comuns entre homens e mulheres ricos contemporâneos a Firmina. Mesmo assim, ela não deixava se intimidar. Por outro lado, uma característica curiosa em relação à escrita desta autora eram os prefácios do que escrevia. Eles sempre vinham da seguinte forma: “pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados”.
O legado de Maria Firmina dos Reis continua, pois suas ações abriram caminhos para o surgimento de nomes como Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo. Só para dar um exemplo, Firmina abriu uma escola gratuita onde as crianças não eram separadas pela cor da pele, iniciativa que eu causou escândalo no povoado em que vivia no Maranhão. A escola fechou em três anos.
Atualmente, o índice de racismo e violência contra os povos negros ainda é alto. Histórias como as que contamos são importantes para mostrar como nós resistimos e não desistimos. Literatura, teatro, dança, música, cinema e qualquer outra forma de manifestação artística é legítima independentemente da cor da pele, religião e classe social.