Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Obra de Laura Cohen vence primeira edição de prêmio da AML

Gostou? Compartilhe!

O livro “Caruncho”, de Laura Cohen Rabelo, foi lançado pela editora Impressões de Minas, e faturou o prêmio da AML

Patrícia Cassese | Editora Assistente

“Foi uma notícia que não estávamos esperando”, diz a escritora Laura Cohen Rabelo, sobre o fato de o seu romance “Caruncho” ter sido agraciado na primeira edição do Prêmio Academia Mineira de Letras. “E falo no plural porque a premiação da AML vai para autora e editora, e isso é importantíssimo”, prossegue ela, incluindo, em sua fala, a editora Impressões de Minas. O valor do prêmio da Academia Mineira de Letras é de R$100 mil, sendo R$ 60 mil destinados ao autor e R$ 40 mil à editora. “Enquanto livro tem quem escreve, o trabalho de colocar esse livro no mundo é coletivo: tem revisora, preparador, projeto gráfico, o pessoal da impressão… Então, é uma alegria sem fim ter esse reconhecimento. Além do mais, o prêmio vai facilitar a reimpressão do livro, que está quase esgotado”, brinda ela.

Laura Cohen Rabelo, cujo livro "Caruncho" venceu o Prêmio AML (Tatiana Bicalho/Divulgação)
Laura Cohen Rabelo, cujo livro "Caruncho" venceu o Prêmio AML (Tatiana Bicalho/Divulgação)

“Caruncho”, conta Laura Cohen, é um romance sobre a deterioração: das pessoas, das relações, dos próprios personagens. “O enredo cerca um maestro que está adoecido e vai reger o último concerto de uma violoncelista jovem, prestes a encerrar a carreira de maneira precoce. Os dois, há dez anos, tinham uma amizade, que se desfez depois de um acontecimento grave. Assim, o livro se alterna em capítulos de dois narradores, entre os acontecimentos do maestro e uma narração da violoncelista, lembrando acontecimentos passados”, resume a autora. “É também um livro sobre desistir quando alguma coisa não mais interessa e faz mal: desistir de pessoas, desistir de carreiras”, complementa.

Comissão

A comissão julgadora do prêmio literário foi presidida pelo Secretário Geral da AML, J.D. Vital, e composta ainda por Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, Humberto Werneck, Maria Antonieta Antunes Cunha, Maria Esther Maciel, Olavo Romano e Wander Melo Miranda. Eles receberam, de acadêmicos da instituição, sugestões de obras já publicadas entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2022, por autores mineiros ou residentes há pelo menos cinco anos no Estado.

Foram, ao todo, 12 obras sugeridas pelos acadêmicos. Cada jurado deveria fazer duas indicações. “’Caruncho’ foi escolhido por unanimidade pela comissão julgadora e acredito que representa bem essa riqueza, destacando-se pela temática, pelo domínio das estratégias narrativas e pelo estilo maduro e contemporâneo”, diz uma fala de Jacyntho Lins Brandão, presidente da AML, enviada à imprensa.

A trama

Ao Culturadoria, Laura Cohen conta que a trama de “Caruncho” surgiu em sua mente motivada por três inspirações. “Primeiramente, fiz uma viagem com duas amigas, e uma delas pediu que eu escrevesse sobre duas peças de Mahler e Shostakovich, compositores que eu ainda tinha escutado pouco. Gosto muito de escrever sobre o mundo da música clássica, tanto porque eu adoro música e acho que a gente fala pouco dela, quanto porque o mundo da música de concerto parece uma redução do nosso mundo. Assim, dá para trazer muitos assuntos numa escala pequena”.

O segundo fator que motivou Laura Cohen a escrever o enredo foi a questão da desistência. “Logo, queria trabalhar uma personagem que desiste de uma carreira firme. É uma questão que ‘sobrou’ do meu romance anterior, ‘Canção sem Palavras’: nele, havia uma personagem que flertava sem parar com a desistência, mas não desistia”. E a terceira coisa foi que a escritora quis (“muito”) criar personagens diferentes dela própria. “E sem nome. Daí surgiram o maestro e a violoncelista”.

Impressões de Minas

Wallison Gontijo, um dos nomes à frente da Impressões de Minas, lembra que Laura Cohen e a editora têm uma história longa. “Desde o primeiro romance dela, que foi o ‘História da Água’. Depois, a gente publicou também um outro romance dela, “Ainda”, e o livro de poema ‘Ferro’. Ela vem escrevendo prosa há um bom tempo e a gente teve a honra de estar acompanhando-a nesse processo de escrita e de evolução da linguagem, da forma de apresentar os personagens. E ‘Caruncho’, sem dúvida, é um livro no qual a Laura está com muito fôlego, seja na construção dos personagens, na forma como lida com o tempo e espaço, em vários sentidos”, explana.

Para Wallison, a ligação da Laura com a música também é muito interessante. “Porque os outros poemas também aponta. O ‘Ainda’ também passa por esse universo musical. E essa musicalidade está na escrita dela”. No geral, ele entende como “muito bom” poder receber um prêmio com uma autora “que é muito de casa, uma grande amiga”. “Uma autora que a gente acredita muito no trabalho dela. Parceira, que construiu uma história junto com a gente. Assim, esse prêmio celebra também um encontro bonito de muitos anos”.

Encontro

O editor lembra, ainda que “História da Água”, primeiro romance de Laura lançado pela Impressões de Minas em 2012, está praticamente esgotado. “A gente ainda tem alguns exemplares, mas brevemente deve sair a reimpressão. E o ‘Caruncho’, com quatro ou cinco meses, já está basicamente esgotado. Aliás, com parte da verba do prêmio, a gente vai voltar a imprimir mais, para dar mais um fôlego à obra. Foi um livro que vendeu muito rápido. Ainda não está 100% esgotado, mas a gente tem um mínimo de livro aqui. Ele circulou rapidamente, teve boa venda nas livrarias, nas feiras, nos eventos. Então, é um encontro muito bonito e aí, agora, vem um prêmio, celebrar isso. E é muito legal também ter um prêmio no qual a editora também é premiada”.

A capa do livro “Caruncho”, à qual Walisson Gontijo, da editora Impressões de Minas, comenta (Impressões de Minas/Divulgação)

Gontijo esclarece que, primeiramente, o reconhecimento é do texto. “Claro, do trabalho, da criação, da escrita da Laura. Mas também do livro, da edição desse livro. E aí, acho que a Elza (Silveira, sócia de Walisson) foi super feliz na coordenação dessa edição. Foi ela quem diagramou também. Esse projeto gráfico é muito bonito, né? A materialidade do livro diz muito do que é o conceito, o texto, a história toda dele. É palavra e objeto juntos. Então, acho que a Elza foi super feliz, é um belo trabalho dela”. O livro, vale dizer, para quem não viu ainda, tem uma capa com furinhos, simulando a ação dos carunchos.

Feedback

O retorno dos leitores, comenta Laura, tem sido dos mais positivos. “Normalmente, as pessoas falam do personagem do maestro, e isso vem com um ódio por ele. E realmente é um personagem odiável – e que todo mundo conhece: encarna o homem decadente, uma masculinidade que já está ficando para trás. O sujeito competitivo, o chefe tóxico”. Ao mesmo tempo, acrescenta a autora, tem gente que tem pena dele. “Gosto de perguntar para quem leu o que achou do maestro ao fim da trama. Parece que tem uma diversão em odiar um personagem assim, uma espécie de catarse. Mas eu fiquei tão mal quando encerrei a escrita desse livro que tive que escrever outro (deve sair em breve) sobre um homem que não fosse tão terrível”.

Em tempo: mestre em Estudos Literários pela FALE/UFMG, Laura Cohen Rabelo já publicou outros três romances: “História da Água” (Impressões de Minas, 2012), “Ainda” (Leme, 2014) e “Canção sem Palavras” (Scriptum, 2017), além dos livretos de poesia “Ferro” (Leme, 2016) e “Escrever é uma maneira de se pensar para fora” (Leme, 2018).

Gostou? Compartilhe!

[ COMENTÁRIOS ]

[ NEWSLETTER ]

Fique por dentro de tudo que acontece no cinema, teatro, tv, música e streaming!

[ RECOMENDADOS ]