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Teatro

Tragédia de Brumadinho transforma peça sobre o caso de Mariana

Lama, a montagem teatral sobre a tragédia em Mariana, será apresentada na Funarte de 14 a 24 de fevereiro com série de intervenções e manifestações políticas

Foto: Clau Silva / Divulgação

“Fizemos esse espetáculo para que essa história nunca mais repetisse, mas não foi isso que aconteceu”, lamenta Ângela Mourão. Ela é integrante do Grupo de Teatro Andante e uma das atrizes do espetáculo Lama, que entra em cartaz no dia 14, na Funarte, pela Campanha de Popularização do Teatro e Dança. A peça, baseada no rompimento da barragem em Mariana em 2015, agora ganha novos significados diante da tragédia de Brumadinho e propõe ações políticas.

Com 27 anos de existência, a companhia sempre teve engajamento político-cultural. A montagem, que estreou em 2017, fazia uma reflexão, por meio da arte, sobre as consequências de tanto descaso com pessoas e o meio ambiente. O rompimento da barragem do Feijão, em Brumadinho, despertou mais perplexidade nos artistas. “Vamos continuar debatendo o assunto. A tragédia de Brumadinho nos impulsionou a falar mais e ampliar as vozes. O que é mais impressionante de tudo isso é como as histórias das duas tragédias são parecidas. Ou seja, as empresas sabiam que o rompimento poderia acontecer e não fizeram nada”, salienta Ângela.

Resinificado e ações políticas

Diante do novo cenário, o grupo entendeu que precisava mudar a peça e debater ainda mais o assunto. “A peça em si fala especificamente de Mariana e nos faz refletir sobre a situação de tantas outras barragens. Mas algumas referências perderam a validade com a nova tragédia e a gente vai fazer algumas mudanças. Além disso, após todos as apresentações vamos fazer algumas ações”, explica Marcelo Bones, diretor do espetáculo.

Dentre as ações, após as oito apresentações, estão palestras, atos políticos, debates e performances. “É mais uma resposta à nossa realidade”, afirma Marcelo. Ângela conta que nos últimos dias tem recebido mensagens e ligações de pessoas que querem contribuir com os atos. “Um coletivo de psicanálise e psicologia pediu para dar uma palestra em um dos dias, por exemplo”. Entre os nomes confirmados nos atos, por exemplo, estão o secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira, e o diretor da Campanha, Rômulo Duque.

 

Foto: Clau Silva / Divulgação

 

O espetáculo

Lama foi montado em 2017 em meio ao processo de criação de um outro espetáculo. “Um dia cheguei no ensaio e disse que o importante no momento era fazer um espetáculo sobre Mariana. Um grito e debate em meio ao cenário que a gente via que o caso era esquecido aos poucos”, lembra Marcelo. “Dessa maneira utilizamos a arte para que essa história seja divulgada e não seja esquecida”, completa Ângela.

Para a montagem, o grupo seguiu para as cidades afetadas e colheu relatos dos moradores, principalmente em Mariana e Barra Longa. Teve, ainda, um processo de pesquisa e leitura. Dessa forma, o espetáculo traz para o palco a mistura de realidade e ficção. “Foi um desafio muito grande transformar aquilo tudo em arte. A ideia foi usar símbolos. Temos uma parte documental, com dados e algumas falas de moradores e outra parte poética”, explica Ângela.

No palco, os atores Ângela Mourão, Bruna Sobreira e Thiago Amador, não interpretam personagens. São narradores de uma história. Eles utilizam de diversas linguagens cênicas e recursos audiovisuais, para fazer a obra inovadora e criativa, dinâmica e poética. A dramaturgia é de Guiomar de Grammont e do Grupo Teatro Andante.

Após estreia em BH, no ano passado, o espetáculo também já foi apresentado em Mariana e Barra Longa (MG), em dezembro. Agora chega na Funarte de 14 a 24 de fevereiro, de quinta a domingo, às 20h. A intenção do grupo é levar o debate para o maior número de pessoas.

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