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Agenda Cultural

Belo Horizonte será palco do Kudiá: Seminário de Comida Afro-brasileira

O seminário Kudiá será realizado no Centro Cultural Urucuia e tem como foco principal a valorização do acarajé (Luiz Rocha e Leonardo Rocha/Divulgação)

O Kudiá não é apresentado apenas um evento gastronômico, mas, sim, como uma ação de resistência cultural e preservação das heranças afrobrasileiras

Nos dias 18 e 19 de outubro de 2024, Belo Horizonte será palco do Kudiá: Seminário de Comida Afro-brasileira, um evento cultural inédito que celebra e preserva as tradições afro-brasileiras, com destaque para a rica gastronomia dos terreiros de candomblé. Organizado pelo terreiro e Associação Sociocultural Nzo Jindanji Kuna N’kosi, o seminário será realizado no Centro Cultural Urucuia. O foco principal é a valorização do acarajé, uma iguaria que carrega em si séculos de história, fé e resistência cultural.

Ação de resistência

O Kudiá não é apenas um evento gastronômico, mas uma ação de resistência cultural e preservação das heranças afrobrasileiras. O nome “Kudiá” é uma palavra do kimbundu, de origem bantu, cujo significado está no gesto de comer e partilhar a comida com o próximo. O seminário contará com mesas redondas e rodas de conversa que vão discutir a história do acarajé, bem como sua importância litúrgica nos terreiros de candomblé. Tal qual, o papel da comida na resistência e na luta pela identidade afro-brasileira.

Além disso, o evento terá um compromisso com a inclusão social. Desse modo, vai garantir acessibilidade para pessoas com deficiência visual, por meio de audiodescrição em todas as atividades, além de tradução simultânea em libras.

Programação teórica e atividades práticas

O evento Kudiá terá início na sexta-feira (18/10), acontecendo entre 18h30 e 21h, com uma programação teórica. No sábado, 19, das 09h às 12h, prossegue com uma oficina e degustação de diferentes pratos. Durante a oficina, o público terá a oportunidade de aprender o processo de preparo do acarajé, bem como seus acompanhamentos tradicionais. Caso do vatapá, caruru, camarão e salada de tomates. A orientação será de Kota Mebagande (Ramon Nabôr). Além de aprender sobre o processo, os participantes também poderão degustar o acarajé recém-preparado. As inscrições podem ser feitas neste link.

Coração do terreiro

Para Nengua Monasanje (Ângela Miguel), diretora litúrgica da Nzo Jindanji Kuna N’kosi e Mestra da Cultura Popular de Belo Horizonte e Contagem, a cozinha é o coração do terreiro. “Sem a cozinha, não há candomblé. Assim, a comida que oferecemos aos Nkisis (divindades) é carregada de energia e amor. Tudo o que é preparado ali deve ter uma intenção sagrada. Desse modo, energia que emanamos através da comida é transmitida para quem recebe os cuidados espirituais,” afirma. Ela ainda ressalta que o cuidado com o preparo dos alimentos não só zela pelas divindades, mas também pela comunidade. “Ou seja, a gente cozinha para o santo, mas também para a matéria. Aqui, no terreiro, ninguém passa fome. Garantimos que todos estejam bem alimentados, pois isso é essencial para a nossa prática”, afiança.

Caráter simbólico e sagrado

Makota Kinajenu (Andréia Roseno), coordenadora geral do evento, destaca o caráter simbólico e sagrado da comida nos terreiros de candomblé: “O Kudiá reafirma a importância da comida como um elemento sagrado e cultural, que conecta o passado ao presente, mantendo viva a memória e a luta de nossos ancestrais. A comida de terreiro, como o acarajé, carrega em si o poder de alimentar tanto o corpo quanto a alma, trazendo consigo valores de fé, resistência e pertencimento.”

Na foto, Makota inajenu (Andréia Roseno), coordenadora geral do evento (Luiz Rocha e Leonardo Rocha/Divulgação)

Cartilha educativa

Na primeira noite do evento, será lançada a cartilha educativa “Kudiá”, criada para aprofundar o conhecimento sobre a culinária de terreiro e sua importância litúrgica e cultural. Dividida em capítulos, aborda a história social do acarajé, bem como seus significados espirituais nas diferentes nações do candomblé (como Kongo-Angola, Ketu, Jeje e Ijexá). Não bastasse, explora o papel da cozinha como um espaço sagrado dentro dos terreiros. 

Nas fotos, detalhes da cartilha que aborda a história social do acarajé (Tainá Evaristo/Divulgação)

A cartilha conta com entrevistas de figuras importantes do cenário afrobrasileiro, como Rita Santos, presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé de Salvador. Do mesmo modo, Mãe Vânia do Amaral (Ialorixá Ile Asé Kalè Bokùn), Iyá Andreia de Oyá (Ialorixá do Ile Ase Omi Ogunsade), Dofono Sogbossi (vodunsi do Hùnkpámè Hùndàngbènà) e Ekedi Iara (Ilé Asé Dan ladejí). As lideranças religiosas entrevistadas, exceto Iyá Vânia Amaral, estarão presentes no evento. 

Mapeamento

A publicação realizou um mapeamento e entrevistas com vendedoras (es) de acarajé de Belo Horizonte. A cartilha também reflete sobre o impacto econômico da venda do acarajé e as ameaças de apropriação cultural. Além de oferecer receitas tradicionais, ela é tida como uma ferramenta essencial para a valorização e preservação do patrimônio gastronômico afro-brasileiro. Isso, por servir como um guia de estudo e reflexão para todos os interessados na cultura afrobrasileira.

Apresentações artísticas

O seminário Kudiá contará com apresentações artísticas. Desse modo, na primeira noite, a cantora Maíra Baldaia encerra as atividades teóricas com uma apresentação vibrante. Já no sábado, o público poderá assistir à cantora Anárvore e ao grupo Afoxé Bandarerê, com a força da tradição musical afro-brasileira.

Oficina

A oficina prática de acarajé é um dos momentos mais aguardados do seminário Kudiá. Durante a atividade, os participantes não apenas terão a chance de aprender o passo a passo do preparo, mas também poderão degustar o acarajé e seus acompanhamentos, vivenciando a experiência completa da culinária de terreiro. “O acarajé não é apenas uma comida, é um símbolo de nossa cultura, de resistência e de amor pela nossa ancestralidade”, finaliza Makota Kinajenu.

O Kudiá Seminário de Comida Afrobrasileira tem o fomento da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte, através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura no Edital Multilinguagens 2023 (Projeto 0318/2023)

Serviço

Kudiá: Seminário de Comida Afro-brasileira

Data: 18/10 das 18:30 às 21h – Lançamento da Cartilha, Mesa redonda com Lideranças Religiosas e Pocket Show com Maíra Baldaia. 

Data: 19/10 das 09h às 12h – Oficina e Degustação de Acarajé e Pocket Show com Anarvore e Afoxé Bandarerê.
Local: Centro Cultural Urucuia, Rua W-3, 500 – Pongelupe, Belo Horizonte – MG
Entrada: Gratuita (inscrições por aqui: https://forms.gle/XK2L6EqNdPDEVgVN7

Instagram: https://www.instagram.com/seminariokudia/ 

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