Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Kevin: uma história de amizade e amadurecimento na Mostra Tiradentes

Documentário dirigido por Joana Oliveira é representante de Minas Gerais na competitiva da Mostra Aurora

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A história do documentário Kevin começou em um corredor de uma escola de línguas na Alemanha, em 1999. A cineasta Joana Oliveira olhava, displicentemente, um cartaz com anúncios turísticos. “Você quer viajar?”, perguntou uma colega de sorriso largo que havia acabado de conhecer na aula de alemão para estrangeiros. 

“Na verdade, eu acho que queria estar em um coffee shop na Holanda”, respondeu. Kevin caiu na risada. Sem controle. “Ela não conseguia parar de rir e eu pensei ‘gente, essa menina está me achando uma pervertida'”, lembra. 

Daquele instante cheio de graça, para o início da amizade foram poucos minutos. Lá se vão 22 anos desse laço forte que começou em um corredor universitário, se consolidou no período em que as duas experimentaram o que é ser estrangeiras na Europa e depois se perenizou mesmo com a distância continental. Agora virou filme.

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Cena do documentário Kevin. Foto: Cristina Maure/Divulgação

A relação de Kevin e Joana é tema principal do documentário que leva o nome da amiga africana, atualmente de volta ao país natal, Uganda. O longa é o selecionado de Minas Gerais para a Mostra Aurora, a seção competitiva e bastante aguardada da Mostra de Cinema de Tiradentes. A estreia está marcada para o dia 26 de janeiro. Logo depois o sinal fica aberto por 48 horas. Qualquer pessoa do Brasil pode ver gratuitamente.

O documentário 

“Foi a falta dela que me fez ter a vontade de fazer um filme”, confessa Joana. Em 2013, a diretora estava organizando a própria festa de casamento e enviou um e-mail com convite para Kevin. “E se viesse para o Brasil? O que ela ia pensar do Brasil sendo uma africana negra?”. Sendo assim, a partir dessas questões, Joana escreveu o primeiro projeto. No caso, seria uma ficção. 

Kevin não veio. O projeto se transformou. Virou um documentário. Mais que isso: Joana também se tornou personagem. Não era ela que queria ver a Kevin? Sendo assim, a brasileira foi para Uganda. “Entendi que era um filme sobre a diferença entre a vida adulta e a juventude”, resume. Também é sobre a amizade.

 

Cena do documentário Kevin. Foto: Cristina Maure/Divulgação
Cena do documentário Kevin. Foto: Cristina Maure/Divulgação

Coração

Realizar um projeto cinematográfico é um milagre. É preciso, sempre, ter muito clara a premissa principal, o coração daquilo que se pretende contar. Por isso, na trajetória do longa tem vários pontos curiosos. 

Por exemplo, enquanto era um projeto da Kevin no Brasil, não decolava. Inclusive do ponto de vista de financiamento. Foi mudar o rumo do roteiro que as portas se abriram. Primeiro com a Lei Municipal de Incentivo à Cultura em BH e o patrocínio do UniBH. Depois com diversos encontros no exterior.

Além de diretora, Joana Oliveira também é professora e roteirista. Sendo assim, a prática a colocou em um lugar de contar a história do outro e não a própria. “Foi muito difícil confiar que a minha história seria suficiente”, confessa. Às vésperas da estreia nacional ela admite que está batendo uma vergonha de aparecer diante da tela.

Em resumo: Joana – a personagem – se jogou no filme. Dessa maneira, mais um desafio ao longo de todas as etapas do projeto foi mostrar, sem banalizar, a intimidade de uma amizade. 

Trocas

Para fazer Kevin, Joana Oliveira e equipe estiveram duas vezes em Uganda, em 2017 e 2019. Para a diretora, além da própria exposição, outra dificuldade encontrada foi manter a concentração tanto na mediação diante da câmera como em todos os aspectos técnicos que a função exige. Elas conversam em inglês. 

Brasil e África

A equipe de Kevin é predominantemente feminina. A montadora, Clarissa Campolina, trabalhou em parceria com a assessora de montagem Angela Wamai, do Quênia. Ela e a produtora Luana Melgaço viajaram ao país africano onde foi também realizada uma sessão especial work in progress para documentaristas. O objetivo era justamente entender se a troca funcionava. E sim, perfeitamente. Agora chegou a nossa vez. 

O sinal de Kevin na Mostra de Cinema de Tiradentes será aberto somente no Brasil. Os direitos internacionais são negociados Figa Filmes. 

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