Aberta em agosto, produção da Fundação Clóvis Salgado em parceria com Sebrae Minas é inspirada nas culturas e tradições do Vale do Jequitinhonha
Equipe Culturadoria
Se Minas Gerais é um estado de produção artística reconhecidamente profícua, em meio a seus limites geográficos, uma região em particular se destaca no campo da chamada arte popular: o Vale do Jequitinhonha. E foi exatamente este o recorte territorial do mais recente projeto artístico da Fundação Clóvis Salgado, “Jequitinhonha: Origem e Gesto”.
A exposição faz parte de um projeto que o Sebrae Minas tem desenvolvido na região com o objetivo de fortalecer a identidade e divulgar a origem do produto, além de estimular e valorizar o artesanato regional. As ações incluem a criação da marca território “Vale do Jequitinhonha”, e a promoção de eventos e feiras para divulgar o trabalho dos artesãos. A exposição Jequitinhonha: origem e gesto é uma das ações.
Além disso, em 2023, o Sebrae Minas realizou uma expedição com lojistas de todo o país para conhecer o artesanato da região. A ação resultou em cerca de R$ 300 mil em vendas diretas e encomendas para os empreendedores criativos locais.
Com coordenação geral do artista Marco Paulo Rolla, “Jequitinhonha: Origem e Gesto” teve start precisamente no dia 3 de agosto. Assim, neste dia, foi inaugurada uma mostra panorâmica com obras dos principais artistas e artesãos da região. Desse modo, quem adentrar a Grande Galeria vai poder apreciar um conjunto de 100 peças históricas. Os trabalhos são provenientes de acervos particulares, do Centro de Arte Popular (CAP), com obras da colecionadora Priscila Freire e também do Sebrae, parceiro do projeto. Tal qual, há criações atuais feitas especialmente para a ocasião.
Coreografia
Para acolher as peças, uma ambientação específica foi preparada na Grande Galeria. Primeiramente, a escolha recaiu para o uso dos tons terrosos. Logo, uma paleta que remete aos barrancos, às casas de pau a pique e, do mesmo modo, às texturas da paisagem daquela região. É lá que, também desde agosto, a coreografia da Cia. de Dança Palácio das Artes, também batizada de “Jequitinhonha: Origem e Gesto”, vem sendo encenada em sessões gratuitas.
Sendo assim, com concepção coletiva dos bailarinos da CDPA, a nova coreografia é resultado da pesquisa de campo realizada pelo corpo artístico do Palácio das Artes no Alto Jequitinhonha. As visitas às Associações de Artesanato e as conversas com moradores da região inspiraram um trabalho que mescla as tradições mineiras à contemporaneidade.
Novo olhar para a riqueza criativa
Para o presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis, “Jequitinhonha: Origem e Gesto” é uma celebração das tradições do estado para além da Minas histórica. “Com a iniciativa, a Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard abre espaço para todo simbolismo das ‘Gerais’, que é essa região mais profunda de Minas. O objetivo é estimular um novo olhar para a diversidade e a riqueza da produção artística de nossa terra”, destaca.
Marco Paulo Rolla, que assina a curadoria da exposição e a direção da coreografia da Cia. de Dança, explica que o projeto foi pensado para ampliar a percepção do público a respeito do Jequitinhonha. “O objetivo é abrir uma porta para imaginar além do que a região é. É uma tentativa de apresentar, na Grande Galeria, esse recorte muito sensível daquela região. O presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo de Souza e Silva, por sua vez, destaca a importância da iniciativa para valorizar o artesanato mineiro. Especialmente, o trabalho dos mais de 130 artesãos do projeto Artesanato do Vale do Jequitinhonha, atendidos pelo Sebrae.
Um Vale, múltiplas artes
Com as obras dispostas na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, entre artesanato, pintura e videoinstalação, a exposição traça uma narrativa histórica e interpretativa a respeito da formação da identidade cultural da região. O barro é o ponto de partida para a expografia. “É daí que surge a ‘Origem’. Nossa ideia é celebrar um trabalho manual, artesanal, que diz muito sobre a cultura do Jequitinhonha e todas as tradições que estão impregnadas naquele povo”, explica Marco Paulo Rolla.
A expografia também contempla uma videoinstalação com registros feitos durante a pesquisa da Cia. de Dança Palácio das Artes na região. Além disso, pinturas de Gildásio Jardim, artista natural de Joaíma, no Baixo Jequitinhonha, estão na exposição. As obras dele abordam o cotidiano do povo. Assim, a personalidade do retratado se funde com estampas do tecido.
A Dança, os saberes e os dizeres
Para a composição da parte coreográfica do projeto, a Cia. de Dança Palácio das Artes iniciou uma pesquisa no início deste ano sobre características culturais do Jequitinhonha. Em primeiro lugar, em abril, o corpo artístico se dirigiu para Turmalina, no Alto Jequitinhonha. Assim, ali conheceu um pouco mais da cultura local, do povo e das nuances da região. Desse modo, a coleta de material envolveu visitas a espaços de artesanato e outros centros comerciais, Tal qual, o olhar dos bailarinos para as diferentes facetas da região.
De Turmalina, os bailarinos seguiram para três comunidades, visando entender o “Gesto”. Primeiramente, foram ao distrito de Cachoeira do Fanado. Lá, grupo conheceu as criações em artesanato e participou de conversas com as mulheres da comunidade. A ideia era entender as cantigas e danças de roda, passadas de geração em geração. Do mesmo modo, em Campo Alegre e Campo Buriti, descobriram mais detalhes sobre os costumes locais. Tal qual, como esse saber popular poderia inspirar a criação.
Visitas de campo
Para a diretora da Cia. de Dança Palácio das Artes, Sônia Pedroso, as visitas de campo foram fundamentais para a criação artística. “A dança contemporânea se espelha em urgências, pesquisas, observações e tantos outros detalhes que possam inspirar a criação de uma coreografia. Esse olhar de descoberta, que busca o diferente, o novo, o inesperado, é mais do que necessário para as criações da Cia. de Dança Palácio das Artes. É com essa pesquisa ‘in loco’ que tentamos traduzir o Vale do Jequitinhonha em nossa dança”, explica.
Sendo assim, na coreografia de Jequitinhonha, os bailarinos incorporam elementos da cultura do Vale para além da observação cotidiana. Logo, as famosas bonecas inspiram passos que se desdobram em histórias dos moradores. Tal qual, a vegetação característica do Vale do Jequitinhonha se incorpora no imaginário dos bailarinos. Portanto, é ressignificada a partir de corpos que ocupam a galeria.
Serviço
“Jequitinhonha: Origem e Gesto”
A exposição fica em cartaz até 8 de outubro, de terça a sábado, das 9h30 às 21h; domingo, das 17h às 20h
Espetáculo da Cia. de Dança Palácio das Artes
Em setembro, a apresentação será no dia 29 de setembro; já em outubro, no dia 6, às 20h (retirada de ingressos uma hora antes, na Bilheteria do Palácio das Artes)
Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard (avenida Afonso Pena, 1.537, Centro)
Entrada gratuita
* texto construído a partir de material descritivo da iniciativa, elaborado pela assessoria de imprensa da FCS