Fomentar, valorizar, divulgar e pensar a nova escrita teatral brasileira. Esses são os principais objetivos da mostra Janela de Dramaturgia, que é realizada anualmente em Belo Horizonte. A edição de 2019 vai ser diferente. Chamada de Edição Manifesto, busca discutir a situação política e social atual do Brasil. Para que isso ocorra as reivindicações das minorias, e de todo o país, serão representadas artisticamente, ou seja, por meio do texto teatral. “A intenção é ouvir essas vozes e pensar como elas se manifestam artisticamente. Além disso, entender como as reivindicações de todo o país também se manifestam”, explica o coordenador geral da mostra Janela de Dramaturgia, Vinícius Souza.
A escrita teatral
Desde 2012, a Janela de Dramaturgia busca dar cada vez mais visibilidade para a escrita teatral brasileira. Trata-se justamente de escrever para encenação, pensar a organização da peça, o conceito das apresentações. “Só que pensar a escrita teatral não é ter em mente apenas as peças clássicas como as de Shakespeare, por exemplo”, conta Vinícius. “É preciso conhecer quem faz esse tipo e texto perto de nós”.
De acordo com o diretor geral, o projeto busca apresentar ao público texto de autores contemporâneos ao nosso tempo e que estão entre nós. A fim de colocar essa ideia em prática, Vinícius Souza e os curadores Anderson Feliciano e Marina Viana selecionaram dez convidados, entre artistas e coletivos. Eles vão escrever uma peça-manifesto. O tema e o conteúdo das leituras, são livres, desde que sejam inspirados na ideia e no formato de um manifesto. O resultado pode ser conferido até o fim do ano. Na programação destacam-se, por exemplo, a Academia TransLiterária, coletivo de artistas trans, e a atriz, diretora de teatro e ativista Cida Falabella. Será no dia 17 de setembro, às 20h, nA Central, point do Janela em 2019.
Ainda sobre o texto
Você deve estar se perguntando: como é feita a leitura desses textos de escrita teatral? Atualmente, é chamado de Leitura Performática e pode ser realizada por atores, atrizes, performers e pelo próprio autor. “O gesto de uma pessoa ler para a outra ouvir, já é, em si, uma linguagem teatral”, explica Vinícius Souza.
Só para ilustrar, esse formato se aproxima de eventos como saraus de poesia e slams. A palavra está no cerne. Seja ela dita, ou ouvida, os criadores do Janela de Dramaturgia acreditam na força da palavra para fazer as coisas acontecerem.
Grace Passô
Pela Janela já passaram importantes nomes do teatro contemporâneo brasileiro. Entre eles estão Grace Passô, Eid Ribeiro, Alexandre Dal Farra, Silvia Gomez e Leonardo Moreira e nomes internacionais como os argentinos Ariel Farece e Romina Paula e o português Tiago Rodrigues.
Grace Passô, por exemplo, que é atriz, diretora e dramaturga brasileira, apresentou um texto na Janela de Dramaturgia lá nas primeiras edições e ele rendeu frutos. Atualmente, a artista circula pelo país com o solo Vaga Carne. No enredo uma voz invade um corpo humano e sonda o que esse corpo sente enquanto mulher e os seus desdobramentos. Vaga Carne já passou por diversos festivais e estados e já foi vencedora dos prêmios Cesgranrio e Shell de Teatro. Os dois foram na categoria Melhor Texto.
Grace também está em cartaz no filme No coração do mundo, produzido pela Filmes de Plástico. Ela interpreta Selma, responsável por planejar um assalto. O filme mostra amadurecimento no cinema mineiro e de atores como Grace Passô e Kelly Crifer. Leia o texto do Culturadoria sobre o assunto.
Curadoria e formato da edição 2019
A edição 2019 da Janela de Dramaturgia tem proposta um pouco diferente das anteriores. Nos outros anos chamamentos eram abertos para todos os artistas. Em virtude de a edição deste ano ter o tema “manifesto”, a organização e curadoria decidiu convidar os artistas. “Os convidados dialogam de algum modo com o formato que estamos propondo, pensamos que neste momento atual do país seria interessante ouvir a voz dessas pessoas”, comenta Vinícius Souza. Todos os textos são inéditos e alguns ainda estão em produção.
As apresentações serão todas as terças-feiras até 10 de dezembro. Serão duas apresentações por noite com um autor de Belo Horizonte e outro de estado diferente. A ideia é estabelecer um diálogo interestadual e artístico. Ademais, o projeto promove palestras, oficinas, lançamento de livros e tradução de textos estrangeiros. Veja a programação completa da Janela de Dramaturgia
Participação do público
Até quem não for assistir às leituras vai poder ver o que se passa nesta edição da mostra Janela Dramatúrgica. Isso será possível já que na abertura, no dia 20 de agosto, será realizada uma intervenção na parece do 104. Dois artistas vão se sentar na rua e escrever uma dramaturgia em tempo real. “Quem tiver no trânsito, no ônibus, vai poder ver isso ao vivo”, revela Vinícius. Além da projeção, haverá também roda de conversa com três artistas de BH discutindo a dramaturgia da cidade que serve como manifestação.
Não para por aí! Todas as noites um crítico assiste às e produz um texto que fica disponível no site do projeto. Dessa forma, as pessoas têm acesso ao texto a qualquer momento e continuam refletindo sobre a mostra.