Exibições no Cine Humberto Mauro ocorrem de 16 a 25 de agosto e incluem clássicos do gênero, como “O Tigre e o Dragão” e “Espadachim de um Braço”
Equipe Culturadoria
Na sétima arte, o gênero wuxia, palavra que pode ser traduzida como “heróis marciais”, é caracterizado por protagonistas que seguem um estrito código de honra e lutam contra a injustiça e a opressão. Esses heróis têm suas aventuras contadas através de uma rica variedade de formas artísticas, incluindo ópera, quadrinhos, música, videogames e, claro, o cinema. Pensando nisso, de 16 a 25 de agosto, o Cine Humberto Mauro será palco de “Wuxia – O Despertar das Lendas”, mostra dedicada a explorar a rica tradição do gênero na sétima arte. Cereja do bolo: as exibições têm entrada gratuita.
A seleção de filmes abrange várias décadas, começando em 1920, com “A Caverna da Teia de Seda” (1927) e “Heroína Vermelha” (1929). Ambos estarão também na plataforma CineHumbertoMauroMais. Já dos anos 1960 em diante, serão exibidas obras emblemáticas como “A Estalagem do Dragão” (1967) e “Espadachim de um Braço” (1967) – exemplos de clássicos do gênero. A programação no Cine Humberto Mauro segue até os anos 2000, com “O Tigre e o Dragão” (2000) e “Herói” (2002). São filmes que mostram como o wuxia evoluiu e se expandiu, encontrando um público diversificado e mantendo viva uma tradição cultural milenar.
Sessões especiais
Haverá, ainda, sessões especiais, com destaque para a exibição do filme “Adeus, Dragon Inn” (2003), que terá comentários de Júlio Cruz, pesquisador, crítico de cinema e curador da mostra. Além disso, sessão adaptada especialmente para pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) e famílias exibirá a animação “Kung Fu Panda” (2008) em versão dublada. No primeiro dia da programação (16/8), haverá, também, uma Sessão da Meia-Noite com o filme “Magia” (1983), de Chih-Hung Kuei. A trama segue Chen Chieh, que viaja para uma vila remota no sudeste da Ásia para investigar a morte misteriosa do irmão. Ao descobrir que ele foi vítima de uma antiga magia das trevas, Chen enfrenta rituais sombrios e um feiticeiro poderoso, colocando sua própria vida em risco.
Tradição milenar reinventada
No século XX, o movimento wuxia – que pauta a mostra no Cine Humberto Mauro – retomou sua proeminência. Especialmente após o Movimento de 4 de Maio de 1919, quando a literatura do gênero passou a refletir a resistência ao colonialismo e às injustiças sociais, particularmente nas diásporas chinesas de Hong Kong e Taiwan. No cinema, os primeiros filmes datam de 1920, mas muitos se perderam ao longo do tempo. Na década de 1960, o estúdio Shaw Brothers, de Hong Kong, e figuras como o diretor chinês King Hu desempenharam um papel crucial na popularização do gênero wuxia. Tal qual, na sua subsequente disseminação internacional.
Utilizando adaptações livres da literatura existente, os filmes passaram a incorporar coreografias complexas com o uso de cabos e técnicas avançadas de câmera e edição. Além de servir como uma expressão de identidade nacional e resistência, o gênero também teve um impacto profundo na contracultura mundial. Assim, influenciou desde a estética do rap e hip hop, como nas músicas do grupo Wu-Tang Clan e no break dance, até o cinema ocidental, inspirando produções como o clássico contemporâneo “Matrix” (1999). O sucesso de “O Tigre e o Dragão” (2000), que o Cine Humberto Mauro exibe dia17, também contribuiu para levar o wuxia para o cenário global.
Diretrizes
Júlio Cruz, curador da mostra do Cine Humberto Mauro, explica que procurou trazer filmes que valorizassem e ampliassem o repertório do público. Assim, há tanto longas mais antigos quanto os mais contemporâneos. Dois bons exemplos são “Estalagem do Dragão” (1967), de King Hu, e “Herói” (2002), de Yimou Zhang. Tal qual, há produções menos conhecidas pelos espectadores brasileiros. Entre essas, “Confissões íntimas de uma cortesã chinesa”, de Yuen Chor (1972). Ou, ainda, “O Clã do Lótus Branco” (1980), de Lieh Lo, e “Wing Chun: Uma Luta Milenar” (1994), de Woo-Ping Yuen.
Além de trazerem vários traços da literatura wuxia, alguns filmes se destacam pelo protagonismo feminino. São produções com atrizes como Pei-Pei Cheng, Ziyi Zhang, Kara Wai e Michelle Yeoh (Oscar de Melhor Atriz em 2023). “A ideia da mostra surge de vários encontros que tive ao longo da vida com o cinema de artes marciais, o que culminou, em 2018, na mostra ‘Os Grandes Mestres do Kung Fu’”, conta Júlio Cruz.
Dali, prossegue ele, permaneceu um desejo de expandir um pouco o acesso e a discussão em relação a um dos subgêneros, o wuxia. “Sendo assim, propomos um pequeno recorte, que não chega perto de conseguir dar conta da extensão desse gênero no cinema. De todo modo, é um bom ponto de partida para essas histórias de homens e mulheres de grandes habilidades e honras inquebráveis”, explica Júlio Cruz.
Serviço
Mostra “Wuxia – O Despertar das Lendas”
Quando. 16 de agosto (sexta-feira) a 25 de agosto (domingo)
Horários: Variáveis
Onde. Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537, Centro, Belo Horizonte)
Classificações indicativas: Variáveis
Quanto. Entrada gratuita, com retirada de ingressos a partir de meia hora antes de cada sessão, na bilheteria do cinema