
O escritor Guilherme de Marchi, que participa de evento na quinta-feira, junto a Laura Cohen (Carollina Fleury/Rizoma/Divulgação)
O livro do escritor Guilherme de Marchi será lançado nesta quinta, 23 de maio, em evento na Academia Mineira de Letras
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Livro que marca a estreia de Guilherme de Marchi no mercado literário, “O Visitante” (Editora Patuá), conta o autor, não foi escrito na ordem em que os capítulos estão organizados na edição que vai chegar às mãos do leitor. “No processo de escrita, fui me familiarizando e assumindo essa proposta fragmentária, o que acabou trazendo elementos importantes para uma estrutura de narrativa em memória. Narrativa essa que, quase sempre, acontece num nível de inconsciência, desordenadamente ou, ao menos, sem um fio condutor muito óbvio”, pondera.
Assim, quando finalizava um capítulo, Marchi conseguia, como ele próprio narra, enxergar algumas pontes e arestas que precisavam ser melhor trabalhadas em outro capítulo – e, assim, abria mais uma janela. “Neste ritmo, o livro foi se desenhando, sem muita pressa. Entre idas e vindas, talvez eu tenha demorado mais de dois anos para finalizar ‘O Visitante’. Ou seja, um tempo considerável quando se pensa que é o um romance breve”, admite
Gênese
Quanto ao enredo, ele confessa que tinha em mente uma proposta inicial de conflito e de personagens. No entanto, a cada vez que relia um capítulo (“e foram muitas releituras”), adicionava um novo elemento. O que, de acordo com Marchi, dava mais maturidade e profundidade aos personagens e conflitos. “(Tal qual) me possibilitava algum tipo de verticalização no capitulo seguinte. Mais no final do processo, fui escolhendo os pontos que gostaria de fechar e aqueles em que considerei desnecessário”.
Temática
Perguntado sobre que temas são abordados no curso da trama, o autor explana que, de uma forma mais direta, a narrativa se passa com a recente experiência do personagem central, Castelar, como pai. “Desse modo, a forma como essa nova condição lhe impulsiona a revisitar a própria história familiar. Um percurso através de memórias e espaços remotos. Este movimento permite a ele ressignificar a própria infância a partir das novas lentes que a relação com a filha recém-nascida proporciona”, pontua Marchi.
Mas não só. “Há também outras camadas que vão se desdobrando no caminho”. Na verdade, o livro é narrado em três vozes. “A começar, em primeira pessoa, quando Castelar toma consciência de seu presente. Ou seja, as relações, seu cansaço, as frustrações, o casamento, o avô que seu pai se tornou, o apartamento em que mora”. Há, também, trechos em terceira pessoa, nos quais ele tenta se distanciar das memórias que o inundam de forma fragmentada e desconexa. Assim, quanto ao passado dele e a dúvida sobre o que aconteceu e o que seu afeto foi capaz de distorcer; a sua própria verdade construída.
A liberdade
Marchi acrescenta que há, ainda, um terceiro elemento, que são os escritos antigos da mãe do personagem em uma coluna de opinião de um jornal. Textos que, cita, trazem mais uma perspectiva. “Poderia dizer, portanto, que ‘O Visitante’ é uma trama sobre relações. No entanto, depois de finalizar a obra e avançar no processo de revisão, publicação e, finalmente experimentando o livro saindo de meu computador e se materializando no papel, pude viver um distanciamento. E isso me permitiu perceber outras questões”.
Desse modo, Guilherme de Marchi diria que, por trás de todo conflito aparente, a grande questão incidental da obra talvez possa ser resumida na palavra liberdade. “Ou seja, primeiramente, se restaria, a nós, algum movimento de autodeterminação. Ou se até mesmo o nosso esforço por emancipação de nossa história é a confirmação de que ela já nos cerceou a espontaneidade e autonomia”, reflete.
Confira, a seguir, outros trechos da entrevistas
Perguntado se pretende despertar alguma reflexão no leitor, Marchi situa que, particularmente, tem um certo pé atrás com livros que propõem uma reflexão direta ao leitor. “Algum esforço deliberado, algo aparente demais do autor por levantar um debate, remeter a algum processo de consciência. Porque, assim, corremos o risco de cairmos em literatura panfletária. Não acredito em uma justificativa para se escrever, uma bandeira, um convite a algum movimento”.
Ou seja, para ele, a literatura, assim como qualquer outra arte, precisa se bastar no ato de existir. “Numa consciência estética, em uma necessidade antes do propósito”. Marchi acrescenta: “É a condição de humanidade que aproxima escritor e leitor, não uma proposta de mudança. Quanto mais se toca nesse humano, mais cumplicidade nesse processo existe. Por isso, acredito que esse ato de conexão deve ser um pouco menos intencional e mais fluido, construído como meio”.
Processo criativo
Dito isso, Marchi entende que, sendo seu romance de estreia, no curso da escrita, foi natural se concentrar no processo criativo. “Assim, ter o cuidado para não ceder aos cantos da sereia e me perder em outros bons assuntos que poderiam me tirar da narrativa central que gostaria conduzir. Foi uma preocupação em respeitar o meu fôlego de escrita, que, na verdade, descobri ser curto e mais vertical. Nesse sentido, não consegui ter um processo consciente de condução do leitor a nenhum caminho”.
Talvez, admite ele, apenas uma preocupação, em alguma espécie, pelo que chama de “uma generosidade narrativa”. “Um cuidado – talvez até excessivo demais com a palavra, para que o leitor pudesse alcançar alguma espécie de fluidez na leitura. E em maior medida, um esforço para, através de um enredo particular, trazer traços de universalidade. Uma complexidade, algum elemento que possa fazer com que ‘um pai’ seja em alguma medida ‘o pai’, e assim por diante”.
Castelar
Solicitado a pormenorizar mais o personagem central, Castelar, Marchi diz que, sendo o principal narrador do livro, é o que emite mais opiniões, também o ponto de vista dominante. “Talvez haja uma proposta inicial de que ele se coloque em uma posição de equilíbrio, como uma estrutura de segurança familiar em sua casa de origem e em seu apartamento, com a esposa e filha.
Por isso, a própria semântica do seu nome é sugestiva, mas, no decorrer da narrativa, vemos que os elementos de ação são iniciativas de outros personagens, Até mesmos as casas, que são espaços importantes do enredo, parecem em alguma medida estar em maior movimento e disputam a centralidade da obra com Castelar. Personagens invisíveis ganham protagonismo discretamente. O tempo, o silêncio e o som também passam a ser agentes e condutores do conflito.
Lançamento
Em tempo: o lançamento do livro “O Visitante” será seguido de bate-papo sobre estratégias literárias e editoriais para a produção de um romance. Na ocasião, o autor e a escritora Laura Cohen, sob mediação do pesquisador e Doutor em Letras, Felipe Cordeiro, propõem uma conversa aberta ao público. Na pauta, discussões sobre as estratégias para construção de um romance literário, da criação à editoração. O evento conta ainda com show de jazz dos músicos Felipe Fleury e Rafa SJ.
Sobre os convidados (*)
A escritora Laura Cohen é autora de diversos títulos, sendo “Caruncho”, seu último romance, o vencedor do Prêmio Academia Mineira de Letras de 2023. O primeiro romance de Guilherme de Marchi foi concebido no Estratégias Narrativas, espaço literário idealizado por Laura que, há 10 anos, se dedica, entre outras frentes, à preparação de textos literários.
Além dos elementos da criação, o mediador Felipe Cordeiro acrescenta que o entendimento da produção de um livro envolve também “questões editoriais, financeiras, jornalísticas, de marketing, sociais e políticas, que permeiam cada fase do processo. É preciso compreender a complexidade desse contexto para que o livro possa alcançar seu potencial máximo de impacto e alcance”, destaca.
(*) Essas informações foram retiradas do material enviado à imprensa
Sobre Guilherme de Marchi
Guilherme de Marchi é pai de três filhos. Começou a graduação em Letras da UFMG, mas não concluiu. Formou-se em Direito pela PUC Minas, MBA em Gestão de negócios pela Dom Cabral, e Processo Civil pela Newton Paiva. Hoje atua como advogado e empresário. No campo artístico, também toca guitarrista e compõe. Neste ano, retorna às letras com “O Visitante”, seu romance de estreia, publicado pela editora Patuá.
Serviço
Lançamento do livro “O Visitante”, de Guilherme de Marchi
Nesta quinta-feira, dia 23 de maio, no auditório da AML (Rua da Bahia, 1466 – Centro), a partir das 19h30
Abertura de portões 30 minutos antes.
Com entrada gratuita e interpretação em Libras