Reunimos, aqui, livros, séries e filmes para te guiar pelo universo de Elena Ferrante
Por Helena Tomaz | Assistente de Conteúdo
No meio literário dos dias atuais, é possível notar uma tendência que, curiosamente, brota de forma espontânea: a de determinados autores conquistarem um séquito de fãs. Devotos, esses leitores se dedicam não só a devorar toda a obra do escritor. Do mesmo modo, produzem fan arts, pesquisam inspirações, vão a lançamentos e acompanham de perto a produção do autor escolhido. Nos últimos anos, foi possível ver expoentes como Itamar Vieira Jr, Annie Ernaux e Taylor Jenkins Reed terem seus nomes inseridos neste fenômeno, mas, antes deles, um outro já chamava atenção no quesito fãs: o de Elena Ferrante.
Com uma narrativa detalhada e realista, a escritora italiana consegue envolver brutalmente o leitor, o que explica em grande parte o sucesso das histórias que cria. Quem as lê, ainda que tenha à sua frente “apenas” as palavras dispostas nas páginas, acaba conseguindo criar, na mente, imagens claras para as cenas descritas pela autora. Além disso, outro motivo – esse, mais particular – certamente está atrelado ao sucesso de Elena Ferrante: a identidade um tanto quanto misteriosa.
Identidade
Isso porque “Elena Ferrante”, como a maioria sabe, não é o nome verdadeiro da autora, mas, sim, um pseudônimo. A busca pela verdadeira pessoa por trás de Ferrante levantou, no curso dos últimos anos, diversas hipóteses. Na verdade, houve até mesmo uma investigação financeira, que chegou ao nome de Anita Raja, uma tradutora germano-italiana que sempre viveu no anonimato. Outros acreditam que a verdadeira identidade seja a do escritor Domenico Starnonne, em função de os livros de Ferrante terem uma escrita que remete à dele. Coincidentemente – ou não -, Starnonne é casado com Anita Raja.
Fato é: ao longo da última década, Elena Ferrante ganhou um público extenso e devoto. Assim, seus livros se multiplicaram e,consequentemente, ganharam diversas adaptações para séries e filmes. Preparamos, aqui, então, um guia para ler e assistir a Elena Ferrante.
Tetralogia napolitana
Apesar de não ser o primeiro livro da autora, “A Amiga Genial”, primeiro livro da tetralogia napolitana, é o mais conhecido. Em quatro volumes, que somam mais de 1.500 páginas, o leitor acompanha a história de décadas de uma amizade conturbada entre Lenu e Lila, nascidas na periferia de Nápoles.
Além de terem sido os primeiros a ganhar a atenção do público, os livros da Tetralogia Napolitana também foram os primeiros a ser adaptados para as telas. Produzida pela HBO, a série já teve três temporadas exibidas. A quarta (e última) deve chegar ao streaming no início de 2024. É interessante assinalar que, até a terceira temporada, as quatro atrizes que interpretaram Lenu e Lila na infância e na juventude nunca haviam atuado antes, e, em função de terem nascido em Nápoles ou no entorno, falavam fluentemente o dialeto local. Boa parte da série, aliás, é interpretada em dialeto napolitano, garantindo a semelhança com os livros.
Não-ficção
Para quem quer se aprofundar na escrita de Elena Ferrante, vale se atentar para as duas publicações de não-ficção da autora: “Frantumaglia” e “As Margens e o Ditado”. O primeiro, lançado anteriormente, inclui entrevistas, cartas e pequenos ensaios da autora, em que ela explica, inclusive, a escolha pelo anonimato e o desejo de que seus livros falassem por si mesmos, sem a necessidade de serem atrelados à imagem da autora.
Já “As Margens e o Ditado”, lançado em 2022, inclui a transcrição de palestras dadas pela autora (ou melhor, escritas pela autora e interpretadas por uma atriz) na Universidade de Bolonha, também na Itália. Ao longo dos textos, Elena Ferrante mergulha no processo de escrita e nas origens de suas inspirações. A iniciativa, conta, inclusive, com um trecho que narra a origem da ideia para a história da Tetralogia Napolitana. Vale fazer o alerta, no entanto, que os textos são recheados de referências da cultura italiana (quem não está familiarizado, portanto, pode não entender) e reflexões um tanto quanto teóricas a respeito do processo de escrita.
“A Filha Perdida”
“A Filha Perdida” foi a adaptação de obra de Elena Ferrante que mais expandiu o público da italiana, chegando a pessoas que inclusive não estavam familiarizadas com o universo da autora. Entretanto, ao contrário da série “A Amiga Genial”, o filme não se preocupa em seguir à risca a história estabelecida no livro.
No breve romance, Leda, uma acadêmica de meia idade, se depara com memórias conturbadas da relação com as próprias filhas ao observar, quase que obsessivamente, a relação materna entre uma criança e a mãe dela durante os dias em uma praia da costa italiana. Enquanto isso, as relações de Leda com as pessoas que a cercam ganham cada vez mais complexidade, fazendo com que a personagem mergulhe em reflexões profundas sobre o próprio passado.
No filme que marcou a estreia na direção de Maggie Gyllenhaal, no entanto, Leda não é italiana, mas sim inglesa (Olivia Colman). E a locação das férias é a Grécia. Como nas obras de Ferrante, a nacionalidade dos personagens e os locais onde as histórias se passam são componentes importantes, essas mudanças, para alguns, implicaram na descaracterização da história. O filme, no entanto, prende a atenção do espectador da mesma forma que o livro: com uma história intensa e emocionante.
“A Vida Mentirosa dos Adultos”
O mais recente lançamento de ficção de Elena Ferrante, “A Vida Mentirosa dos Adultos” rapidamente rendeu o interesse por uma adaptação para as telas. Aqui, a autora se volta, novamente, para Nápoles, explorando os limites das relações de uma cidade e de uma família divididas.
No livro, aos 12 anos, Giovanna escuta o pai dizer que ela está cada dia mais feia e mais parecida com a tia, irmã dele (a quem ele dedica especial rancor). A frase imediatamente provoca uma revolução dentro da menina, que fica instigada a conhecer mais sobre essa tia afastada, levando a uma série de complicações no núcleo familiar. A premissa da série, produzida pela Netflix, é semelhante, mas vemos, no entanto, uma Giovanna já no auge da adolescência.
“Dias de Abandono”
Publicado na Itália pela primeira vez em 2002, “Dias de Abandono” levou 14 anos para atravessar o Atlântico, chegando ao Brasil somente em 2016, quando Ferrante começava a ganhar destaque nas prateleiras por aqui. A história, porém, ganhou um filme muito antes disso, em 2005.
Em ambas as obras, Olga, uma mulher relativamente jovem, vive o término abrupto de um casamento de 15 anos. Após ser trocada pelo marido por uma amante mais jovem, e sem que sinais do rompimento fossem dados, Olga mergulha em tristeza. Nas páginas – ou minutos – que se passam, o leitor – ou espectador – acompanha o luto de uma mulher pela última década e meia de sua vida.
“Um Amor Incômodo”
Chegamos, então, ao primeiro livro publicado por Ferrante. Em “Um Amor Incômodo”, de 1992, Elena dá início às temáticas novamente exploradas em tantos outros livros escritos por ela: Nápoles e as lembranças do passado. Atravessada por questões sobre a influência do espaço físico e da cidade nas histórias, aqui vemos a autora se voltar para a cidade do sul da Itália. Além de ter sido o primeiro livro da autora, ele também garantiu a ela uma estreia no cinema, em 1995.
Para pequenos leitores
Quando se trata de literatura infantil, é comum ver escritores – ou mesmo personalidades sem experiência no universo da literatura – tentarem se arriscar no universo das obras direcionadas a pequenos leitores. Quando isso acontece, no entanto, não é raro ver que as histórias se tornam excessivamente simples, muitas vezes subestimando a capacidade de interpretação infantil.
No único livro dedicado ao público infantil que escreveu, no entanto, Elena Ferrante parece fazer o oposto disso, apostando em uma temática um tanto quanto sombria. Em “Uma Noite na Praia” a autora retorna a uma história semelhante à de “A Filha Perdida”.No entanto, dessa vez contada sob a perspectiva de uma boneca esquecida na praia por sua dona, depois que a menina ganha um presente melhor. O desafio de passar a noite sozinha em uma praia acaba se tornando uma grande aventura, envolvendo medos e descobertas.