
Guerra Civil, filme com Wagner Moura e Kirsten Dunst, levanta reflexões sobre polarização mundial e o papel da imprensa
Por Carol Braga
Há muito tempo um filme não me causava reações físicas. Foi o caso de Guerra Civil, longa dirigido e roteirizado por Alex Garland com Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny e Stephen McKinley Henderson no elenco principal. Retrata de forma brutal e realista os horrores de uma guerra, no caso, civil. Com um detalhe: o público tem poucas informações sobre as razões que dispararam o conflito.
É uma escolha interessante do roteiro.
Daí vem a primeira reflexão que o filme propõe ao espectador: alguma guerra tem razão? São histórias de violência, morte, destruição, sofrimento humano, quase sempre, injustificáveis. Todos os conflitos armados da história do mundo tiveram consequências devastadoras. Ao mostrar tudo de uma maneira muito crua, talvez Alex Garland queira que o público reflita, justamente, sobre a inutilidade da guerra.
Jornalismo
Em contraponto, o diretor também nos abre caminho para reflexões sobre o papel da imprensa. Como não temos muitas informações sobre o conflito, sobre o que está em disputa ou quem é o bem e o mal, fica a pergunta: Em quem acreditar? Fiquei do lado dos repórteres.
Lógico que aí tem uma identificação profissional, mas para além disso, Guerra Civil faz uma defesa do jornalismo no combate às fake news que tanto alimentam a polarização política no mundo. A equipe de reportagem no centro da história enfrenta o desafio de reportar a verdade em meio ao caos e à censura. Isso levanta questões sobre o papel do jornalismo em tempos de conflito, a importância da ética jornalística e os riscos enfrentados por profissionais da área.
Equipe
O filme apresenta cada um desses pontos sem esconder do espectador a brutalidade do conflito. E mais: é interessante a mistura de gerações de profissionais. Se Sammy (Stephen McKinley Henderson) é o veterano, fala e analisa as cenas com a experiência dos anos de jornalismo tradicional, Joe (Wagner Moura) é o tipo viciado na adrenalina da guerra.
Embora para os brasileiros o que muito interessa seja mesmo o papel desempenhado por Moura, não foi o que mais chamou a minha atenção. Ele está muito bem como o repórter de guerra vocacionado. No entanto, a atuação das mulheres me marcou mais.
Kirsten Dunst constrói uma Lee com olhar perdido. Ao mesmo tempo em que parece ter se distanciado do próprio propósito na profissão, oscila em entender a importância do que faz. Ou seja, são estes profissionais que constroem a memória do mundo. Junto do trio mais experiente está Jessie (Cailee Spaeny), a aprendiz de fotógrafa que chega com o olhar cheio de curiosidade e logo descobre que não existe conto de fadas.
As duas – Lee e Jessie – também me fizeram pensar sobre o papel das mulheres nas guerras. O filme apresenta personagens femininas fortes e complexas que assumem diferentes papéis no conflito, não apenas na linha de frente da imprensa, mas também diretamente no combate. Isso contribui para desafiar estereótipos de gênero e destacar a importância da participação das mulheres na construção da paz.
Polarização
Wagner Moura tem dito em entrevistas sobre o filme que a polarização é a maior ameaça à democracia. Quem sou eu para fazer qualquer análise política neste momento. Somente se atendo aos fatos de calendário, o lançamento de um filme dessa envergadura em um ano eleitoral americano tem muito o que dizer. Guerra Civil oferece, então, muitas possibilidades de conexões com a realidade, embora tenha ares de distopia. De todo modo, a trama me pareceu lamentavelmente muito próxima da realidade contemporânea do mundo.
De novo: não dá para ver Guerra Civil sem ter qualquer reação. Ou seja, prepare-se para uma experiência intensa e sem respostas prontas.
