
Luiz Felipe Torrent, um dos sócios do Grumo Café, em foto de Letícia Reis (@reiseovento)
Defendendo a “alimentação de verdade”, a Grumo funciona de terça a sábado em um charmoso casarão
Patrícia Cassese | Editora Assistente
O entorno do icônico Condomínio JK, na região da praça Raul Soares, já é, tradicionalmente, um ponto que reúne muitos estabelecimentos gastronômicos de vertentes e perfis variados, que atraem diariamente (sim, mesmo às segundas, no caso dos que abrem neste dia) um público considerável.
Este polo ganhou um reforço caprichado no finalzinho do ano passado, quando o casarão de número 940 da rua Rio Grande do Sul passou a sediar o Café Grumo. “Alugamos a casa em dezembro de 2021 e era uma questão de honra inaugurar em 2022”, conta Luiz Felipe Torrent, que toca o espaço com o apoio da mulher, a advogada Isa Carla.
O processo entre projeto e inauguração do Grumo demorou um ano porque a casa, construída em 1935, é tombada pela Prefeitura – anteriormente, o local abrigou o escritório regional do Ministério da Cultura.
Casal afinado
“Entre projeto, aprovação e obras, as coisas acabaram rendendo mais que o esperado”, acrescenta Luiz. Em 2021, os dois já estavam noivos e procurando um espaço para morar e, ao mesmo tempo, outro para abrir a cafeteria. “Após visitar a casa pela primeira vez (no caso, sem ela), propus para a Isa: ‘Você topa morar em cima e fazer o café embaixo?”.
Ela, claro, topou. Mas Luiz esclarece que Isa, formalmente, não é sócia. No entanto, entrega: “Qual casal parceiro não compartilha os mesmos sonhos? Assim, sempre que ela pode, em especial nos fins de semana, desce para ajudar no atendimento e no fluxo do Grumo”.
O sócio de Luiz no Grumo, na verdade, é Matheus Lisboa, que ele define como um grande amigo de infância “que sempre sonhou em ter um espaço junto comigo”.

Alimentos de verdade
A proposta da Grumo é a de uma cozinha militante da alimentação de verdade. “Tudo é feito aqui, à exceção do pão, que é de fermentação natural e feito pela Trigor. O Guia Alimentar para a População Brasileira (documento elaborado pelo Ministério da Saúde em 2014) é o nosso norte”, explana ele.
Assim, na cozinha do Grumo não entra nenhum produto ultraprocessado. “Somente alimentos de verdade. E quem prepara e cria na nossa cozinha é a Bárbara Azevedo, ou melhor, a Babi, que é parte fundamental do negócio”, elogia Luiz.
A origem da iniciativa está na produção de pão de queijo. “Primeiramente, sou produtor desde 2016, mas a minha mãe (Elida) foi produtora de 1991 até 2005. Todavia, com a minha ida para o balcão, hoje, ela é responsável pela produção dos pães de queijo”.

O contexto foi dado por Luiz para dizer que Grumo, a palavra que nomeia a casa, refere-se, em primeiro lugar, a uma junção de grãos (“também chamada de pelota”). “Em farinhas mais finas, (a formação) pode ser considerado um defeito, mas, no polvilho, costuma ser sinal de qualidade”, distingue.
Acessibilidade
Um dos focos do Grumo é a acessibilidade, e não somente física, mas também para neurodivergentes. “Contratamos uma consultora militante pelos direitos dos PCDs, a Luciana Viegas, para nos auxiliar na construção de um ambiente mais acessível”, diz Luiz.
O sócio exemplifica o trabalho dela no uso de cores mais calmas no ambiente, assim como na disponibilização de abafadores de ruído no balcão. “E, ainda, na instalação de mesas e cadeiras sem quinas – e olha que não ainda não conseguimos implementar tudo que ela propôs”, confessa ele.
Dentro desse contexto, os sócios entendem que o Grumo também é um local que pode abrigar reuniões de pessoas/grupos dos mais diversos.
Tranquilo
Como já assinalado por ele, a decoração foi pensada na construção de um ambiente tranquilo, com poucos estímulos, sem quinas. “Também orientada pelo Guia Orientador que a Luciana Viegas criou para a gente – visando a acessibilidade”.
Com o uso da fórmica e os pinos aparentes nas mesas, a dupla foi buscar referência em escolas, que, dizem, são um ambiente absolutamente diverso.
Arte
Já os quadros expostos na parede foram feitos sob encomenda pela artista Raemi. “Ela é uma artista incrível lá do Rio de Janeiro, que, assim como a Luciana Viegas, é preta e autista”, diz Luiz.

O pedido foi para que ela ilustrasse o tipo de agricultura que os dois sócios acreditam também para o café: a familiar, da pequena propriedade. “E na qual o produtor possa tomar o café que produz”.
Um ótimo exemplo, cita Luiz, é a Família Peixoto, que são os fornecedores de café do Grumo. “Uma família preta, que mora numa propriedade pequena e compartilhada pela família, que produz cafés da mais alta qualidade”, assinala.
O pão de queijo
Nem poderia ser diferente. O carro chefe da Grumo, e também a principal aposta, é o pão de queijo. Lá, ele é vendido a R$ 6. “Brincamos que somos pãodequeijocentristas, tanto que pedimos para o Igor, nosso fornecedor de pão, fazê-los no mesmo formato dos pães de queijo”.

Para falar de opções diferentes ou ousadas, Luiz reforça que é preciso falar de novo de acessibilidade e de comida de verdade. “De opção salgada, eu destacaria o recheio de cogumelos refogados no azeite com pasta de tomilho com base de inhame. Ele pode ir como recheio do pão de queijo ou do pão (opção vegana)”.
Para aqueles que comem carne, vale experimentar o sanduíche recheado com vinagrete, pimentão e cebola, temperado com azeite e tomilho.

No Grumo, o pão de queijo recheado custa R$ 12. O sanduíche, R$ 14.
Sobremesas
Outra opção que Luiz destaca, já na ala das sobremesas, é a Barucaxi, barrinha de chocolate 100% cacau (sem açúcar) com farinha de baru e adoçada com pedaços de abacaxi caramelizados no óleo de coco – que também é vegana. Ela é vendida a R$ 8.
No escaninho dos doces, o tradicional bolo de fubá não poderia faltar. A fatia custa R$ 7 ou R$ 9 (com adicional goiabada maçaricada).
No quesito sobremesas, uma grande surpresa é o Arroz Doce Brûlée: arroz cozido no leite de aveia, com açúcar e canela, com casquinha crocante e farofa de baru. Custa R$ 8.

Tem, ainda, quindim e a fatia “bolo de aniversário” (esta, pão de ló de cacau recheado com doce de coco coberto com ganache e creme de cacau e gergelim).
Ultraprocessados? Não
Ah, sim. Não espere encontrar, no menu, refrigerantes de grandes marcas. “O Guia Alimentar para a População Brasileira é muito claro: evite os ultraprocessados. O refrigerante, assim como o creme de leite, leite condensado ou qualquer outro produto ultraprocessado, não entra na nossa casa”, garante Luiz.
Mas tem café coado (R$ 7, 170 ml), expresso (R$ 5, 50 ml) e carioca (R$ 6, 100 ml). E, ainda, vários cafés com leite (Macchiato, cappuccino, mocanela ou mocha), além de sucos e, claro, água.
Planos
Desafiado a falar sobre os planos que acalenta para a Grumo, ele diz que o objetivo é ser um ponto de disseminação da boa alimentação, do café de qualidade e do pão de queijo tradicional.
“E, ainda, de promoção da alimentação de qualidade como vetor de transformação de toda uma cadeia produtiva, que vai da qualidade do alimento até a qualidade de vida do produtor”. Luiz finaliza: “Queremos ser mais um vetor de valorização e respeito às culturas alimentares”.
Serviço
Grumo Café
Onde. Rua Rio Grande do Sul, 940, Santo Agostinho
A casa funciona de terça a sexta, das 9 às 19h, e aos sábados, das 9 às 14h. Fecha aos domingos e às segundas-feiras.
- Os preços publicados nesta reportagem reproduzem o cardápio vigente no dia 26 de abril, quando o Culturadoria visitou a casa.