Lembra nos anos 90, daqueles filmes de comédia bem bestas? Se você quer dar esse exemplo pra alguém é bem provável que diga: “tipo Debi e Loide?”. Pois sabia que esse filme que é ícone do besteirol americano tem uma relação com o belo e sensível Green Book. Sim, o diretor é o mesmo: Peter Farrelly.
É por isso em que alguns – poucos, é verdade – momentos do longa que recebeu cinco indicações ao Oscar 2019 há um toque de humor. Um toque, porque fazer rir parece ser não a máxima desse filme tão sensível, baseado em uma história real. O objetivo de Green Book parece ser muito mais tocar, fazer refletir sobre problemas estruturais que ainda precisamos enfrentar.
Bem, é a história de Tony Lip. Em resumo: o papel de Viggo Mortensen é de um homem tosco em Green Book. Tão tosco que me irritou muito (Vigo, foi mal, eu sei que isso mostra a qualidade do seu trabalho, mas foi too much pra mim). O objetivo era esse mesmo: mostrar o quão babaca são muitos homens brancos, héteros e que se sentem superiores somente por serem, vale repetir, brancos e héteros.
Pois esse cara, sem trabalho, é quase obrigado a aceitar a proposta para ser motorista de um cara de um talento enorme, mas que é oposto dele. Ou seja: negro e gay. Estamos nos Estados Unidos dos anos 60 e eles precisam pegar a estrada juntos. Mas, como o patrão é negro, – pasmem – naquele tempo nem tão longínquo assim tinha um livro, o tal Green Book, que dizia os hotéis em que pessoas como ele poderiam se hospedar. Absurdo!
Jornadas
O que Peter Farrelly em Green Book faz a partir dessa história é convidar a gente para uma jornada de transformação. Acho que por isso o filme é tão tocante. Ao mesmo tempo em que fala sobre como uma amizade é capaz de transformar alguém, nos faz pensar no tanto essa nossa sociedade ainda precisa evoluir. Mudar mesmo. O racismo que convivemos hoje é estrutural. Estrutural e isso precisa se transformar. Cada um tem que fazer a sua parte. Um filme que faz pensar sobre isso já é um passo.
Bem, nos aspectos cinematográficos não há como não começar destacando a potência de Mahershala Ali como Dr. Don Shirley. É um dos melhores atores da geração dele, sem dúvida. Viggo Mortensen também convence no papel do tosco que se transforma. Outro aspecto a se destacar em Green Book, é o roteiro. O filme vai apresentando o crescimento dos dois aos poucos. Sim, porque rola uma troca, né! Mérito também da montagem, que entendeu o tempo do filme. Sim tem isso: assim como a vida, nos filmes também há o tempo certo para cada um digerir as informações.