
O escritor José Eduardo Gonçalves, em foto de Élcio Paraíso (Bendita/Divulgação)
O novo livro do escritor, jornalista e editor José Eduardo Gonçalves será lançado neste sábado, na Livraria Jenipapo
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Foram nada menos que duas décadas sem publicar, em livro, seus textos ficcionais, sua própria lavra. O que não significa que, neste ínterim, o jornalista, editor e escritor José Eduardo Gonçalves tenha deixado esta sua faceta totalmente de lado. “Depois que lancei o meu romance ‘Vertigem’, em 2003, acabei direcionando minha carreira para outros projetos, seja como editor, redator ou curador (de iniciativas literárias)”, conta o mineiro, ao Culturadoria. “Mas, de fato, nunca deixei de escrever”, afiança ele, que, neste sábado, lança, na Livraria Jenipapo, a coletânea de contos “Pistas Falsas” (Editora Patuá).
O livro reúne 53 contos que se norteiam por temas variados, como as relações familiares, a infância, os conflitos amorosos ou a vida dos animais.

A orelha da obra é assinada por Maria Esther Maciel, enquanto a quarta capa, pelo escritor Milton Hatoum.
Embrião
José Eduardo conta que o desejo de tornar público o material sobre o qual vinha se debruçando foi ganhando força nos últimos cinco anos. “Aí, comecei a pensar mais seriamente sobre essa possibilidade de voltar a publicar um livro”, diz ele, cujo nome está à frente de projetos potentes, como o Letra em Cena – Como Ler…
Na edição desta semana, aliás, a iniciativa, que acontece no Espaço Cultural do Minas Tênis Clube, recebeu a escritora, crítica literária e historiadora brasileira Micheliny Verunschk para falar sobre a obra de Maria Valéria Rezende. José Eduardo Gonçalves é, ainda, um dos editores da revista Olympio (junto a Maria Esther Maciel, Julio Abreu e Maurício Meirelles), assim como desenvolve projetos editoriais como a coleção “BH. A Cidade de Cada Um”.
Opção por contos
Foi em meio à pandemia, recluso em casa, com a família, que José Eduardo Gonçalves foi amadurecendo ainda mais a ideia de fazer seus escritos voltarem às prateleiras de lançamentos. “Então, investi bem pesado nessa produção de textos. Lembrando que, ali, para mim já estava bem claro que seriam contos”. Não só. “Contos pequenos, num exercício extremo de concisão”.
No período de uma suspensão social mais intensa da pandemia, o jornalista também resolveu frequentar algumas oficinas literárias. “Iniciativas que me estimularam muito”. Com o feixe de contos que iriam compor o livro já pré-definido, Gonçalves se aventurou a submeter sua produção a olhares críticos. “Caso de alguns escritores que respeito”, diz.
Como resposta, recebeu um estímulo grande para de fato ir em frente. Em um segundo momento, ele próprio colocou o conteúdo em revista e, assim, notou que havia havia uma linha comum. “De modo geral, é um livro sobre as relações humanas. Relações complicadas, tensas, complexas mesmo, seja entre casais, entre pais e filhos, entre vizinhos. A verdade é que as relações humanas não são, de modo algum fáceis. Assim, posso dizer que há um certo ar de ‘desarmonia’ ao longo do livro”.
Fogem à regra (ou não) alguns escritos que tratam de animais. “E bichos falantes. Que pensam, que têm sentimentos. Na verdade, de alguma forma eu estou falando de nós, humanos”.
Blocos
Mesmo com o fio condutor das relações humanas, José Eduardo Gonçalves concluiu que seria possível separar os contos do livro em blocos, batizados com títulos inspirados. Aliás, um dos contos que ele confessa ser dos que mais aprecia está na primeira série do livro, “Vidas em Desalinho”. O conto se chama “A Piscina”, e é protagonizado por um casal sem filhos. “Quem narra é o homem. E logo de cara ele está um pouco assim, incrédulo, diante do desejo da mulher de construir uma piscina no jardim da casa”.
A partir daí, várias coisas vão se passando na cabeça deste homem. “Este evento desperta nele um monte de lembranças e de reflexões. Pensamentos sobre sua vida, sobre as decisões que tomou no curso dela”.
O autor confessa que o conto “A Piscina” é até ligeiramente mais extenso que os demais. “Porque, como disse, quis mesmo praticar o exercício da concisão. Assim, todos os contos são de fato muito pequenos. Tem conto de um parágrafo, tem de duas linhas. Esse, ocupa duas páginas. Mas está tudo ali, nessa história da qual eu gosto muito. Vejo como uma reflexão que sobre a própria vida que é deflagrada por essa intenção da mulher”.
Pistas Falsas
A série que encerra o livro é a que o batiza, “Pistas falsas”. “Nela, as coisas se embaralham mesmo, inclusive porque estão todos escritos na primeira pessoa”. José Eduardo Gonçalves cita o conto “O Segredo” – reiterando, escrito em primeira pessoa. “Nele, falo do momento em que a minha mãe está morrendo, e narro que, na hora, aproximo meu ouvido da boca dela, quando ela me diz que conhece o meu segredo”.
O escritor explica que as pessoas que são a ele mais próximas, entre amigos e familiares, têm ciência que, de fato, ele estava presente no momento do falecimento da genitora – aliás, ocorrido em pleno Dia das Mães. “Certamente meus irmãos vão se perguntar se isso aconteceu mesmo, se foi um momento real, que segredo seria aquele que minha mãe disse saber. Essas ‘pistas’ estão ao longo desses textos”.
O livro se encerra com um texto no qual José Eduardo Gonçalves vai lembrando nomes de colegas de ensino, desde o primário. “Vou lembrando e falando uma frase de cada um. Só que vou embaralhando as histórias. Achei bacana o resultado disso. Pistas falsas são isso”, conclui.
Serviço
Lançamento do livro “Pistas Falsas” (Patuá), de José Eduardo Gonçalves
Neste sábado, dia 3, das 10 às 14h, na Livraria Jenipapo (rua Fernandes Tourinho, 241, Savassi)