Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Globo de Ouro 2020: mais uma derrota do streaming?

Premiação foi entregue na noite do dia 05 de janeiro e confirmou que a indústria do cinema ainda é mais tradicional do que parece

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A lista de indicados do Globo de Ouro estava bem generosa para quem gosta de ver os filmes em casa. O Irlandês, que Martin Scorsese fez diretamente para a Netflix, aparecia como um dos favoritos nas bolsas de apostas. Além dele, somente entre os indicados a melhor filme de drama, havia outros três na mesma plataforma: o excelente Dois Papas, de Fernando Meirelles e História de um Casamento. E o que deu?

Mais do mesmo. Pelo menos nas categorias principais, a vitória de 1917, de Sam Mendes e Era uma vez em … Hollywood, de Quentin Tarantino, mostra o quão apegados os jornalistas estrangeiros que cobrem a indústria do cinema em Los Angeles ainda estão à tradição.

Veja bem: por mais inovador que seja na linguagem, 1917 é um filme de guerra. Era uma vez em … Hollywood é uma ode à la Tarantino à história do cinema. Ambos foram feitos para a tela grande, nada de streaming. Inclusive, 1917, como nos velhos tempos, só estreia no Brasil no dia 23 de janeiro.

Foto: HFPA Photographer/ Divulgação

Em 1917, Sam Mendes usou uma técnica que faz parecer que o longa foi todo feito em um plano sequência. Nesse sentido, foi inovador. Mas foi elegantemente conservador no discurso de agradecimento. “Eu realmente espero que isso signifique que as pessoas apareçam e vejam na tela grande, da maneira como foi planejado”, disse Mendes que também faturou a estatueta de melhor diretor. Bem, mais uma vez, está dado o recado.

SURPRESAS

É fato que o resultado deste Globo de Ouro foi peculiar. Especialmente em duas categorias. Entre as animações, surpresa total Link Perdido ter desbancado grandes produções como O Rei Leão, Frozen II, Como Treinar Seu Dragão 3 e Toy Story 4. Um ótimo sinal de renovação já que todos os outros são continuações ou refilmagem, no caso de O Rei Leão.

Outra surpresa foi a vitória da atriz chinesa Awkwafina de The Farewell. Ela desbancou grandes atrizes como Cate Blanchet e Emma Thomspson.

 

Michelle Williams recebe o Globo de Ouro. Foto: HFPA Photographer

 

TOM POLÍTICO

Se, como sempre, os convidados do Globo de Ouro enfiaram o pé na jaca das comidas e bebidas durante a cerimônia, em 2020 o cardápio era vegano. Joaquin Phoenix, o merecido vencedor do prêmio de melhor ator de drama, entendeu isso como um silencioso posicionamento em relação ao meio ambiente. Os incêndios na Austrália, a preocupação sobre a alteração climática, tiveram mais vez nos discursos do que o conflito bélico entre EUA e Irã.

Na categoria discurso, Michelle Williams (melhor atriz telefilme/limitada por Fosse/Verdon) e Patrícia Arquette (Melhor Atriz Coadjuvante Série/Telefilme por The Act (Hulu) chamaram atenção. A primeira falou sobre escolhas e fez um chamado às mulheres. “Então, mulheres de 18 a 118 anos, quando for a hora de votar, faça-o por seu interesse. É o que os homens fazem há anos, e é por isso que o mundo se parece muito com eles, mas não se esqueça de que somos a maioria neste país. Vamos fazer com que pareça mais com a gente “.

Arquette, veterana no prêmio, também chamou a atenção para o voto e deixou claro o medo da guerra. “Estou muito grata por estar aqui e celebrar isso, mas também sei que hoje à noite, 5 de janeiro de 2020, não vamos olhar para trás nesta noite … nos livros de história, veremos um país à beira da guerra.”

Aliás, uma crítica contundente ao Globo de Ouro 2020 foi quanto à diversidade dos indicados. Não teve mesmo. O emburrado apresentador Ricky Gervais até fez “piada” com isso antes de chamar a dupla que anunciaria o prêmio de melhor diretor para Sam Mendes. O que muitas mulheres celebraram foi a vitória de Hildur Guðnadóttir como criadora da trilha Sonora de Coringa.

SÉRIES

Se na parte dos filmes o resultado do Globo de Ouro foi bem tradicionalzão, o que foi um pouco diferente nas séries foi o reconhecimento de atores/produtores. Phoebe Waller-Bridge e Ramy Youssef, respectivamente vencedores dos prêmios atriz e ator em comédia, são também os produtores de Fleabag e Ramy. E mais: eles são jovens e sinalizam uma mudança importante. O protagonismo não depende somente do tamanho do estúdio mas está funcionando também para quem teve a ideia.

No resultado geral, embora os troféus tenham sido bem distribuídos, HBO saiu como vencedora. Foram dois prêmios para Sucession e a mesma quantidade para Chernobyl.

E O OSCAR?

Melhor não criar grandes expectativas. Estes prêmios ainda são feitos para contemplar uma indústria que não reconhece o streaming como cinema. Igual criança mimada: empresta a bola, mas na hora do vamos ver, emburra e diz que a bola é dela.

 

Quentin Tarantino. Foto: HFPA Photographer/Divulgação

CINEMA Globo de Ouro 2020:

Filme Drama: 1917

Filme – Comédia/Musical: Era uma Vez em… Hollywood

Direção: Sam Mendes, 1917

Ator – Drama: Joaquin Phoenix, Coringa

Atriz – Drama: Renée Zellweger, Judy

Ator – Comédia/Musical: Taron Egerton, Rocketman

Atriz – Comédia/Musical: Awkwafina, The Farewell

Ator Coadjuvante – Brad Pitt, Era uma Vez em… Hollywood

Atriz Coadjuvante – Laura Dern, História de um Casamento

Roteiro – Quentin Tarantino, Era uma Vez em… Hollywood

Animação – Link Perdido

Filme Estrangeiro – Parasita, de Bong Joon Ho

Trilha Sonora – Hildur Guðnadóttir, Coringa

Canção Original – (I’m Gonna) Love Me Again (Elton John), Rocketman

 

TELEVISÃO:

Série – Drama – Succession (HBO)

Série – Comédia Fleabag (Amazon)

Ator – Drama – Brian Cox, Succession

Atriz – Drama – Olivia Colman, The Crown (Netflix)

Ator – Comédia – Ramy Youssef, Ramy(Hulu)

Atriz – Comédia – Phoebe Waller-Bridge, Fleabag

Ator Coadjuvante – Série/Telefilme – Stellan Skarsgard, Chernobyl

Atriz Coadjuvante – Série/Telefilme – Patricia Arquette, The Act (Hulu)

Telefilme/Série limitada – Chernobyl (HBO)

Ator – Telefilme/Série limitada – Russell Crowe, The Loudest Voice

Atriz – Telefilme/Série limitada – Michelle Williams, Fosse/Verdon

 

Prêmio Cecil B. DeMille – Tom Hanks

Prêmio Carol Burnett – Ellen Degeneres

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