Quando Gal Costa anunciou parceria com Marília Mendonça, um raciocínio mais imediato geraria estranhamento instantâneo. Mas se parar um pouco mais e analisar a carreira dela como um todo, verá que o convite feito à cantora sertaneja campeã de audiência no século XXI, faz sentido. “A gente deve estar aberta para ver o mundo de várias maneiras. E eu sou assim”, diz Gal em uma das respostas que enviou por e-mail ao Culturadoria.
O resultado da parceria entre Gal e Marília está no disco ‘A Pele do Futuro’, lançado no final do ano passado. O álbum teve a produção de Marcus Preto – o responsável pela busca das músicas – em dupla com Pupillo (ex-Nação Zumbi). Além do disco, foram eles que sugeriram à cantora o repertório do show. A mistura entre as novidades do álbum, sucessos antigos e outros nunca cantados por Gal que fazem a graça do show que chega ao Palácio das Artes no sábado, 16 de fevereiro.
Entre as inéditas na voz dela, estão, por exemplo As curvas da estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969), Motor (Teago Oliveira, 2013) e O que é que há (Fábio Jr. e Sérgio Sá, 1982). Esta última é bem conhecida na voz de Fábio Jr. Aguardaremos o que será na voz de Gal. Na entrevista abaixo ela avisa: está tudo diferente. “Todas as canções foram mudadas, com arranjos novos”, anuncia.
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[O QUE] Show ‘A Pele do Futuro” de Gal Costa [QUANDO] 16 de fevereiro, às 21h [ONDE] Palácio das Artes – Av. Afonso Pena, 1537, Centro – BH [QUANTO] De R$ 160 a R$ 220
Confira a entrevista abaixo. Ela foi concedida por e-mail.
O que mais te faz sentir orgulho do show A pele do futuro?
Esse disco é muito especial pra mim porque eu fiz com uma sonoridade que eu sempre sonhei, que era a disco music, com uma estética dos anos 70. É um disco maduro, alegre, para tempos sombrios. É um disco que eu acho que é um frescor para um momento com esse, não só no Brasil, mas no mundo. Música é pra isso, pra levar energia positiva para as pessoas.
De que forma canções inéditas na sua voz como As curvas da estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) ou O que é que há (Fábio Jr. e Sérgio Sá, 1982), por exemplo, dialogam com a proposta de A pele do futuro? O que você gostaria de sublinhar com estas escolhas no repertório?
O Marcus Preto foi o responsável pela busca das músicas, pediu canções, garimpou e juntos ouvimos tudo e fomos montando o repertório aos poucos. É como um quebra cabeça. Todas as canções foram mudadas, com arranjos novos. Eu pedi ao Pupillo que todas elas tivessem a mesma unidade musical.
Em que medida se renovar é um ato de coragem? Do que foi preciso abrir mão (se é que foi preciso) para buscar novos diálogos com a música brasileira?
Eu não tenho medo de ousar. Pelo contrário, gosto de dar saltos na minha carreira, de criar novos caminhos, gravar coisas novas, de um jeito diferente. A gente deve estar aberta para ver o mundo de várias maneiras. E eu sou assim.
Em entrevista para a Folha de São Paulo você disse que “uma música não precisa necessariamente ser militante para ser política”. Em qual sentido, para você, A pele do futuro é político?
Como meus álbuns e minha postura sempre foram. No Palco, nas letras.
Falar de amor, de sentimento, é uma forma de ser resistente no século XXI?
Sempre foi e sempre será.
Na mesma entrevista à Folha você continuou: “(…) Nos anos 1960, tudo o que eu fiz foi o quê? Foi politicamente foda. E não era militante”. O que é ser militante para você e acredita que há uma diferença entre a militância artística dos anos 1960 para os dias de hoje?
Acho que o mundo de hoje está perigoso, naquela época tinha ditadura. Meus amigos estavam exilados, foram tempos complicados.
Cantar London, London (Caetano Veloso) hoje tem significado político renovado? A escolha por incluir a canção no repertório do show tem a ver com o momento em que estamos passando?
Eu amo a música, ela é um hino. Escolhi junto com Marcus Preto.
Por fim, qual a sua memória mais doce e marcante sobre Belo Horizonte?
Sempre fui muito bem recebida pelo publico mineiro. 3 anos atrás passei um aniversario meu ai e foi muito gostoso.
Confira o repertório de Gal Costa no show ‘A Pele do Futuro’
GRAVAÇÕES ICÔNICAS: E/OU OS GRANDES SUCESSOS
Dê um rolê (Moraes Moreira e Luiz Galvão = Disco e show “Fa-Tal”)
Mamãe, coragem (Caetano Veloso e Torquato Neto = Disco “Tropicália”)
Vaca profana (Caetano Veloso = Disco “Profana”)
London, London (Caetano Veloso = Disco “Legal”)
Lágrimas negras (Jorge Mautner e Nelson Jacobina = Disco e show “Cantar”)
Que pena (Ela já não gosta mais de mim) (Jorge Ben Jor = Disco “Gal – 1969”)
Volta (Lupicínio Rodrigues = Disco e show “Índia”)
Sua estupidez (Roberto Carlos e Erasmo Carlos = Disco e show “Fa-Tal”)
Oração de Mãe Menininha (Dorival Caymmi = Show Phono 73, com Maria Bethânia)
Chuva de prata (Ed Wilson e Ronaldo Bastos = Disco “Profana”)
Azul (Djavan = Disco “Minha voz”)
Bloco do prazer (Moraes Moreira e Fausto Nilo = (Disco “Minha voz”)
Balancê (João de Barro e Alberto Ribeiro = Disco e show “Gal Tropical”)
Massa real (Caetano Veloso = Disco e show “Fantasia”)
Festa do interior (Moraes Moreira e Abel Silva = Disco e show “Fantasia”)
AS INÉDITAS NA VOZ DA GAL COSTA
As curvas da estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969)
Motor (Teago Oliveira, 2013)
O que é que há (Fábio Jr. e Sérgio Sá, 1982)
AS EXTRAÍDAS DO DISCO “A PELE DO FUTURO”
Mãe de todas as vozes (Nando Reis, 2018)
Viagem passageira (Gilberto Gil, 2018)
Palavras no corpo (Silva e Omar Salomão, 2018)
Minha mãe (César Lacerda, 2018)
Cuidando de longe (Marília Mendonça, Juliano Tchula, Junior Gomes e Vinicius Poeta, 2015)
Sublime (Dani Black, 2018)