Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Por que você deveria ver os dois filmes mineiros que acabaram de chegar na Netflix?

Temporada e Elon não acredita na morte acabaram de entrar para o catálogo da gigante do streaming

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Quem acompanha o cinema nacional tem vivido uma montanha russa de emoções no noticiário especializado, né? Um dia rola uma notícia terrível sobre a paralisação da liberação de verbas na Ancine. No outro, quatro filmes nacionais são anunciados na programação do Festival de Cannes. É esse tipo de informação que a gente prefere fazer circular por aqui. Por isso, o anúncio da chegada de Temporada e Elon não acredita na morte ao catálogo da Netflix deve ser bastante comemorado.

Sabe por que? Estar em um serviço de streaming desse tamanho significa visibilidade ampliada para produções potentes, feitas com o maior esmero possível, mas ainda em um esquema bastante independente. Quando eu digo “dar visibilidade”, penso tanto na projeção internacional que os longas podem alcançar mas também no alcance local.

Essa é uma das partes tristes do cinema nacional. Quem tem oportunidade de acompanhar os festivais, beleza, fica atualizado. Quem não tem, fica sem a chance de ver. E são muitas pérolas guardadas por aí.

Foto: Vitrine Filmes/Divulgação

Elon não acredita na morte e Temporada, dirigidos respectivamente por Ricardo Alves Jr. e André Novais Oliveira não são filmes feitos para serem arquivados. Eles precisam de vida. Colocados na mesma prateleira, ops, no mesmo catálogo, dão a dimensão do quanto o novo cinema produzido em Minas Gerais é, no mínimo, diverso.

Comédia

Temporada, por exemplo, é uma comédia. Vamos combinar que o gênero não é tão abraçado pela galera do cinema contemporâneo, né? André faz isso sem abrir mão de ser crítico, político, de falar sobre sua aldeia para alcançar o universal. É um cinema sobre pessoas. Tem coisa mais atemporal e global do que isso?

No caso, é a trajetória de transformação de Juliana, papel de Grace Passô. Claro que ela é um dos destaques, mas sobre isso falaremos adiante. O que chama atenção em Temporada – vencedor do principal prêmio do Festival de Brasília em 2018 – é jogo entre atores e direção. Grace, Russo APR, Rejane Faria, Hélio Ricardo, Ju Abreu, Renato Novaes, Sinara Teles e Janderlane Souza tem uma sintonia tão grande que passam a impressão de estarem improvisando o tempo inteiro.

Temporada conta sobre a chegada de Juliana a Contagem para trabalhar no serviço de combate à dengue. Ela deixou Itaúna, outra cidade do interior de Minas, para assumir o cargo de um concurso público. André Novais filma a adaptação – e como já disse a transformação dela – sem pressa, com um olhar poético e leve sobre a vida. Embora nem sempre a rotina seja colorida.

Foto: Vitrine Filmes/Divulgação

Suspense

Assim como Temporada, Elon não acredita na morte também é um filme carregado de nuances e de significados muito profundos. O projeto dirigido por Ricardo Alves Jr, teve uma primeira versão em curta-metragem que, aliás, foi bastante premiado. Ao se transformar em longa, o roteiro conseguiu sustentar um dos aspectos mais valiosos do curta. A angústia que uma espera pode gerar.

Foi o primeiro longa dirigido por Ricardo e chamou a atenção, por exemplo, a segurança dele como cineasta. Elon é um filme de sensações. Gera, no mínimo, incômodo. E mais: requer do espectador uma participação maior, já que existem lacunas propositalmente abertas.

Elon não acredita na morte estreou no Festival de Cinema de Brasília de 2017, onde recebeu o prêmio de Melhor Ator para Rômulo Braga. A estreia internacional foi no Festival de Cinema de Macau, na China, onde ganhou o prêmio de contribuição artística, seguido do Festival internacional de cinema de Roterdã, na Holanda.O filme é protagonizado por Rômulo, Clara Choveaux, Lourenço Mutarelli, Germano Melo e Grace Passô.

Grace

São dois filmes de gêneros completamente diferentes, mas que tem nos recursos humanos, muitos pontos em comum. Além do produtor, Thiago Macêdo a atriz Grace Passô também está nos dois. Formada nos palcos de teatro de Belo Horizonte ela demonstra aqui, o quanto é versátil. Em qualquer lugar. Seja no palco, ou na tela.

Grace Passô empresta uma força imensa a qualquer mulher que interpreta. Seja protagonista, como a Juliana de Temporada, ou apenas uma breve participação, como em Elon. Eis uma das coisas boas que essa tecnologia do streaming oferece. Poder ver – e comparar – o quanto existe uma geração potente renovando linguagem no cinema brasileiro.

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