
Crédito: Globoplay
É bem difícil terminar de ver Agente Duplo, o documentário chileno dirigido e roteirizado por Maite Alberdi, sem estar encantado por Sergio Chamy. Claro que o dispositivo do longa é interessante, mas se o protagonista não tivesse metade do carisma e da sensibilidade dele, bem provável que o resultado não seria o mesmo.
A produção disponível na Globoplay – e indicada ao Oscar de melhor documentário – começa com o processo de seleção de um idoso para um trabalho. A tarefa é se infiltrar como um espião em um asilo para investigar se a mãe de uma cliente secreta está sendo vítima de maus tratos. Sergio é o escolhido e, assim como os concorrentes, não demonstra ter muita familiaridade com a tecnologia.
Humor
Sendo assim, a primeira parte de Agente Duplo se dedica ao treinamento com Romulo, o dono da agência de detetives. As aulas, então, consistem em aprender a realizar uma videochamada, como enviar um áudio pelo WhatsApp e também manejar uma câmera escondida em uma caneta. Sérgio, além de atento, é muito dedicado. Quem convive com idosos certamente vai se identificar com alguns desses momentos.
Apesar de estimular uma reflexão sobre alfabetização digital, não é esse o ponto do documentário de Maite Alberdi. E aqui está um mérito do roteiro. Ele vai nos divertindo com o processo de Sergio, com a chegada dele no asilo, o início da investigação até que na metade do filme, quando as amizades dele estão consolidadas por lá, já estamos completamente entregues a cada uma (são principalmente mulheres) que vivem ali.
Amor
Para quem se acostuma a ter um olhar técnico para os filmes é inevitável não se sentir curiosa em relação aos processos. Por exemplo, será que a cliente de fato existia? Qual terá sido a real motivação do longa? A escolha de Sergio como protagonista foi proposital? As outras pessoas do asilo sabiam do plano dele? O que haverá sido encenado ou não? Mas, sabe, na medida em que o filme se desenrola tais questões perdem importância.
Apesar de super fiel à sua missão ali, Sergio deixa sua sensibilidade falar mais alto. Não se trata de denunciar ou não maus tratos. Aliás, o que é um mau trato? Abandonar um idoso no asilo, também não seria um tipo?
Agente Duplo, então, surpreende a partir da humanidade de seu personagem principal. O combinado entre Sergio e Romulo é que envie relatórios periódicos. A tarefa foi se transformando. Os textos mais descritivos, aos poucos, abrem espaço para reflexões poéticas sobre a passagem do tempo, a ‘utilidade’ das pessoas, a importância da família e do afeto na vida de qualquer um.
O protagonista nos presenteia com uma observação muito poética e peculiar da própria experiência. Precisamos de mais Sergios no mundo. Pessoas com o olhar tão atento para os outros como o senhor chileno de 84 anos.

Crédito: Globoplay