Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Festival de Arte Negra, o FAN, dá início à 12ª edição

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Um dos mais queridos eventos da agenda belo-horizontina, o FAN terá o Parque Municipal como palco principal, mas com ações em várias regiões

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Um dos mais importantes festivais da capital mineira dá a largada agora à 12ª edição: o Festival de Arte Negra – FAN acontece desta segunda-feira, 23, a 29 de outubro. Como nas edições passada, o evento prevê a realização de shows, espetáculos teatrais e de dança, sessões de cinema, oficinas, rodas de conversa, residência artística e exposições. Este ano, o palco principal será o Parque Municipal Américo Renê Giannetti. No entanto, em busca da descentralização, várias atividades também vão ocupar outros espaços, como o Viaduto das Artes, no Barreiro, o Cine Santa Tereza e o Teatro Raul Belém Machado (no bairro Alípio de Melo).

Trançar gerações

Ao Culturadoria, Isaura Paulino, uma das gestoras da Ubuntu Produções, parceira do Instituto Lumiar na realização do Festival de Arte Negra 2023, conta que, no momento de escolha do conceito que iria nortear a edição, um pensamento comum foi a ideia de uma encruzilhada de tempos. “Assim, passado, presente e futuro que se entrelaçam, que se cruzam, no sentido que o FAN 2023 abarcasse esse aquilombamento de gerações. Veja, é um festival que acontece desde 1995. Logo, há que se prestar muitas reverências aos mais velhos, a quem veio antes, a quem pavimentou esse caminho. Do mesmo modo, era um desejo muito grande que o conceito e a programação refletissem também o que pulsa na juventude. Portanto, o que essa juventude preta tem escutado, tem produzido, tem demonstrado enquanto gostos e possibilidades”.

O FAN 2023 terá, uma vez, a Ojá, Feira Afro Empreendedores (Pâmela Bernardo/Divulgação)
O FAN 2023 terá, uma vez, a Ojá, Feira Afro Empreendedores (Pâmela Bernardo/Divulgação)

Somando tudo isso, e pensando na vontade de entrelaçar diferentes gerações, a produção, prossegue Isaura Paulino, chegou a tríade temporal ao conceito “trança”. “Então, a trança é essa união de três partes que formam esse conjunto. Da mesma forma, o FAN é esse entrelace de três gerações que formam o ubuntu, ou seja, essa possibilidade de ser e pensar futuros possíveis, olhando para o passado, reverenciando esse passado, mas pensando tudo a partir da coletividade”.

Programação


Em relação à programação, continua a gestora, ela é também atravessada por esse conceito no sentido de que a organização queria que refletisse essas diferentes possibilidades. “Então, no mesmo passo que a gente tem, dentro da programação, por exemplo, atrações locais como o Duo Maat, que nunca participou do FAN, a gente tem também o Fundo de Quintal. Temos a Virgínia Rodrigues trazendo toda aquela voz encorpada, esse peso de presença para o FAN, mas também o Major RD, que é o que a juventude preta tem escutado. A gente traz MC Saci. Assim, penso que esse é o objetivo dessa edição, que a gente consiga traduzir a pluralidade que atravessa a cultura preta e todas as nossas possibilidades”.

Isaura prossegue: “Logo, é muito sobre pensar e desejar esses futuros possíveis, pavimentando o passo firme no agora e olhando para o que já foi feito para que, assim, a gente possa avançar mais longe”.

Chico César, cortejo, consagração espiritual

Nesta segunda, dia 23, a programação tem início com um cortejo, que vai reunir Tambolelê, Angola Janga e Guarda 13 de Maio. A concentração – com início às 17h30 – acontecerá na Praça da Estação, Praça 7 e Largo do Rosário, respectivamente. Daí, haverá a saída, prevista para as 18h, e, mais tarde, o encontro, no Parque Municipal, com o Bloco Afoxé Ilê Odara.

Às 19h, haverá o Abre Caminhos – Consagração espiritual com Mameto Muiandê. O Mestrinho de Cerimônias será Luan Manzo. Já o discurso de abertura ficará a cargo de Pai Ricardo e Rosália Diogo. Às 19h30, a cantora Maíra Baldaia faz um pocket-show de abertura. Na sequência, o palco será ocupado pelo cantor e compositor Chico César.

Anielle Franco

No curso dos dias, muitos convidados vão discutir questões da ordem do dia, caso de Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial do Brasil. A celebrada escritora Cidinha Silva será outra a marcar presença, bem como o queridíssimo coletivo Meninas de Sinhá. “Como eu disse, a gente tem programações inéditas dentro do FAN, porque é importante trazer renovação. E eu acho que isso também traduz o fato de que tanto o Instituto Lumiar quanto a Ubuntu estão realizando o FAN pela primeira vez. Assim, a gente tinha esse desejo de trazer coisas que nunca vieram. Logo, de colocar a população de BH em contato com novas possibilidades, novos cenários”.

Rota de quilombos urbanos

Nesse sentido, Isaura aponta alguns destaques dentro da programação. “Primeiramente, falaria da tentativa de trazer a população para mais perto dos quilombos. Então, existe uma rota quilombola pensada para o FAN, no sentido de levar as pessoas aos quilombos urbanos em uma visita orientada, para que elas possam entender o uso que os quilombos dão ao território, no sentido de religiosidade, de coletividade”. A rota de quilombos, vale lembrar, vai acontecer no sábado e no domingo. “Ela abarca os seis quilombos urbanos que temos em BH”.

A gestora também salienta a vinda da ministra da Igualdade Racial, a já citada Anielle Franco, ao FAN. “Era uma das nossas metas, vontades, possibilitar esse contato mais aproximado do movimento negro, das pessoas pretas, da sociedade civil, com a Anielle Franco. E isso vai se concretizar”, festeja Isaura.

Sustentabilidade. E sobre amor

No cômputo geral, Isaura acha que, no bojo dos bate-papos, a discussão sobre o futuro desejado também perpassa outros temas, como o amor e a sustentabilidade, para citar dois exemplos. “Então, a gente tem um bate-papo sobre amores pretos, trazendo o Renato Nogueira. Vamos falar também sobre a questão da sustentabilidade, sobre black money… Aliás, a gente tem uma formação direcionada na Ojá – Feira Afro Empreendedores. Assim, estamos costurando esses fios e trançando o festival para que, tal qual todas as edições anteriores do FAN, seja memorável. Mais que um evento, que seja uma experiência mesmo”.

Descentralização

Por último, mas não menos importante, ela fala sobre a meta de descentralizar o evento. “De forma efetiva, no sentido de levar, para outros territórios que não estão no Centro, uma programação encorpada também. Assim, por exemplo, a gente está levando, para o Viaduto das Artes, no Barreiro, esse documentário dos Racionais MCs, seguido de uma festa. Do mesmo modo, levando para o (teatro) Raul Belém Machado, o bate-papo de Amores Pretos antecedido pelo show do Duo Maat e, depois, show da Nath Rodrigues. Então, acho que é sobre isso. É sobre um fazer diferente, mas com o desejo de que seja mais um festival memorável para a cidade de BH”, encerra ela.

A 12ª Edição do Festival de Arte Negra de Belo Horizonte é realizada pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, em parceria com o Instituto Lumiar.

Serviço

12ª Edição do Festival de Arte Negra de Belo Horizonte – FAN BH 2023

Data: De 23 a 29 de outubro

Locais: Parque Municipal e diversos espaços populares de Belo Horizonte

Entrada franca, sujeita à lotação máxima dos espaços

Programação completa:

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